Há meses, a companhia aérea sediada em Atlanta vem trabalhando com a Fetcherr, uma startup que visa transformar a precificação de companhias aéreas da mesma forma que a negociação algorítmica abalou os mercados financeiros.
Em julho, executivos disseram estar satisfeitos com o progresso dos testes e que a nova ferramenta da companhia aérea poderia ajudar a definir até 20% de suas tarifas domésticas até o final do ano. A inteligência artificial é usada na definição de 3% das tarifas domésticas atualmente. “Gostamos muito”, disse o presidente da Delta, Glen Hauenstein.
Agora, a Delta tenta acalmar uma onda de objeções de legisladores e serviços de defesa do consumidor. Eles temem que as companhias aéreas possam usar IA para acessar o histórico de navegação dos clientes ou obter outras informações pessoais para aumentar as tarifas. E se, por exemplo, a companhia aérea pudesse adivinhar que um cliente estava voltando para casa para um funeral?
“Os preços poderiam ser ditados não pela oferta e demanda, mas pela necessidade individual“, escreveram os senadores Ruben Gallego (democrata do Arizona), Richard Blumenthal (democrata de Connecticut) e Mark Warner (democrata da Virgínia) em uma carta a Ed Bastian, presidente-executivo da Delta, em julho.
Outra dupla de legisladores apresentou um projeto de lei que proibiria empresas de usar IA para definir preços ou salários com base em dados pessoais, citando a Delta como exemplo.
Até mesmo uma companhia aérea rival se juntou a ela: o CEO da American Airlines, Robert Isom, comparou as táticas de precificação de IA a um “bait and switch” que engana os clientes. A Delta afirmou que não é isso que está fazendo.
“Não há nenhum produto de tarifa que a Delta já tenha usado, esteja testando ou planeje usar que vise os clientes com ofertas individualizadas com base em informações pessoais ou de outra forma”, informou a companhia aérea aos senadores em uma carta na sexta-feira (1). A empresa afirmou que não compartilha informações pessoais dos clientes com a Fetcherr.
Em um artigo publicado em seu site no ano passado, a Fetcherr afirmou que seu modelo matemático analisa dados agregados e sinais de mercado — não informações pessoais individuais. A empresa afirmou, em um comunicado, que sua tecnologia otimiza os processos existentes.
A caixa preta da precificação
Para muitos consumidores, a forma como as companhias aéreas definem as tarifas é uma caixa-preta — e isso antes mesmo do uso da IA.
As companhias aéreas utilizam preços dinâmicos há décadas, frequentemente definindo centenas de tarifas potenciais diferentes para cada rota.
O preço oferecido depende de fatores como a antecedência da reserva, o número de assentos disponíveis e se você tem um voo de conexão. As companhias aéreas também analisam tudo, desde os preços dos concorrentes e as datas de início do ano letivo até eventos como as datas da turnê de shows de Taylor Swift ou o início do Festival Internacional de Balonismo de Albuquerque.
As companhias aéreas utilizam diversas táticas para distinguir entre diferentes tipos de viajantes e cobrá-los de acordo — viajantes que viajam às custas da empresa versus turistas que se preocupam com o preço, por exemplo.
No início deste ano, as companhias aéreas enfrentaram uma reação negativa quando surgiram notícias na imprensa de que estavam cobrando preços mais altos por passagem de alguns viajantes sozinhos em comparação com aqueles em grupos.
A Fetcherr, fundada em 2019, aposta que pode ajudar a reformular um setor que costuma ser lento para adotar novas maneiras de fazer as coisas. A empresa levantou US$ 115 milhões em financiamento. Ela também está trabalhando com companhias aéreas como a Virgin Atlantic, a WestJet e a brasileira Azul.
A tecnologia da empresa ajuda a prever a demanda por um determinado voo e a responder a mudanças.
Ela utiliza dados externos e informações fornecidas pelas companhias aéreas, como dados generalizados e anônimos de reservas e compras.
Em comunicado divulgado na sexta-feira (1), a Delta afirmou que seres humanos ajustam as recomendações feitas pelo sistema da Fetcherr.
IA para automatizar
Alguns representantes do setor afirmaram que o sistema de IA poderia ajudar a ampliar e automatizar parte do trabalho atualmente realizado por equipes de analistas de preços. Cada um dos analistas é responsável por monitorar dezenas de rotas para tentar garantir que a companhia aérea esteja cobrando o valor correto pelas passagens.
“É uma quantidade enorme para os seres humanos gerenciarem — eles não conseguem detectar tudo”, disse Cory Garner, consultor que supervisionou a estratégia de vendas e distribuição da American Airlines. “Quanto maior a companhia aérea, mais difícil fica.”
Em alguns casos, as companhias aéreas que utilizam IA podem recomendar a redução de tarifas caso os assentos oferecidos a um preço muito alto não sejam vendidos. Mas, frequentemente, a IA consegue encontrar casos em que os consumidores estão dispostos a pagar mais do que as companhias aéreas cobram.
“Geralmente, igualamos nossas tarifas com as dos concorrentes”, disse Hauenstein no ano passado. “Mas se considerarmos pequenos incrementos, por exemplo, para Tóquio, poderíamos aceitar um aumento de US$ 20 em nossas tarifas e não ver uma queda na participação de mercado? Poderíamos aceitar um aumento de US$ 40?”
Traduzido do inglês por InvestNews
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