Nos últimos meses, o presidente prometeu que um novo regime tarifário reduziria o déficit comercial e forçaria os fabricantes a transferir a produção de volta para os EUA. Seus detratores alertaram que as tarifas provocariam uma forte inflação e até mesmo escassez nas lojas ainda neste verão.
Seis meses após o início do experimento, com mais anúncios de tarifas provavelmente nos próximos dias, a economia não entrou em colapso. A inflação subiu, mas não disparou. Os consumidores não encontram prateleiras vazias.
Como Trump prometeu, as tarifas trouxeram dezenas de bilhões em receitas extras para os cofres federais. É uma quantia significativa de dinheiro, mas não o suficiente para substituir os impostos de renda da maneira que Trump sugeriu.
Novos dados divulgados na terça-feira (5) mostraram que o déficit comercial diminuiu em junho, para o menor nível desde setembro de 2023. Economistas afirmam que isso pareceu ser mais uma reversão do enorme aumento das importações antes da aplicação das tarifas, do que um sinal de uma tendência de queda sustentada no déficit comercial.
Tarifas e repatriação de empresas
Algumas outras promessas de Trump também não estão se concretizando.
As empresas não estão se apressando para repatriar seus recursos, em parte porque a política tarifária caótica e em constante mudança paralisou a tomada de decisões.
Alguns economistas dizem que isso também ocorre porque as tarifas não são altas o suficiente para forçar muitos tipos de indústrias a se mudarem para os EUA.
As ações de Trump até agora aumentaram a taxa tarifária média efetiva sobre todos os produtos importados para cerca de 18%, de 2,3% no ano passado. Esses são os níveis mais altos desde a década de 1930.
“As tarifas, embora altas, muitas vezes não são altas o suficiente para compensar um dólar ainda forte que torna caro produzir nos EUA”, disse Brad Setser, membro sênior do Conselho de Relações Exteriores e ex-funcionário econômico e comercial dos governos Biden e Obama.
Ainda é muito cedo e muita coisa não está clara. Trump estabeleceu o prazo até quinta-feira (7) para que muitas nações fechem acordos comerciais com os EUA ou enfrentem tarifas mais altas. Uma trégua comercial com a China deve expirar em 12 de agosto, e outra com o México, em outubro.
Economistas esperam que tarifas mais altas causem danos, elevando a inflação e contribuindo para uma desaceleração no crescimento econômico. O PIB cresceu a um ritmo anualizado de 1,2% no primeiro semestre do ano, contra 2,5% no ano passado.
Medos e promessas
Por enquanto, nem os maiores medos nem as maiores promessas estão se concretizando.
A leitura mais recente da inflação mostrou que os preços ao consumidor subiram 2,7% em junho em relação ao ano anterior.
Isso foi mais rápido do que o aumento de 2,4% de maio e um sinal de que as tarifas estão aumentando os preços de alguns produtos, disseram economistas, mas o impacto até agora tem sido mais brando do que muitos esperavam.
Haverá mais clareza na próxima semana, quando os dados de inflação de julho forem divulgados.
Um dos motivos pelos quais os consumidores não sentiram mais pressão sobre os preços: muitas empresas dos EUA estão, por enquanto, absorvendo os custos extras das tarifas porque estão relutantes em perder clientes aumentando os preços até que seja absolutamente necessário.
A maioria dos economistas espera que as empresas acabem repassando uma parcela maior dos custos aos consumidores.
Alberto Cavallo, professor da Harvard Business School que está monitorando preços em quatro grandes varejistas, descobriu que os preços de produtos importados aumentaram cerca de 3% desde que as tarifas começaram a subir. Os preços de utensílios domésticos, móveis e eletrônicos aumentaram de forma especialmente rápida.
“A magnitude dos aumentos não é particularmente grande em relação às taxas tarifárias, porque os importadores dos EUA têm arcado com grande parte do ônus”, disse ele. Se as tarifas sobre a maioria dos principais parceiros comerciais ficarem entre 10% e 15%, Cavallo espera que os preços dos produtos importados aumentem gradualmente mais 3% a 4% até o final do ano.
Promessas de Trump
Enquanto isso, economistas dizem que as maiores promessas de Trump dificilmente se cumprirão.
O governo dos EUA arrecadou cerca de US$ 127 bilhões em receitas tarifárias até agora neste ano de importadores, cerca de US$ 72 bilhões a mais do que tinha arrecadado no mesmo período do ano passado, de acordo com o Modelo Orçamentário da Penn Wharton.
Trump sugeriu que a receita extra pode substituir o imposto de renda para muitos americanos, especialmente aqueles que ganham menos de US$ 200 mil por ano, mas a matemática não fecha.
Em 2022, por exemplo, os 90% das famílias com renda bruta ajustada abaixo de US$ 179 mil por ano pagaram cerca de US$ 600 bilhões em impostos de renda individuais.
As tarifas poderiam impulsionar alguns tipos de produção nacional, especialmente em setores como no do aço, que têm excesso de capacidade de produção que pode ser ampliada com bastante facilidade.
Alguns fabricantes de pequeno e médio porte já relataram sinais de aumento de pedidos nos últimos meses de clientes que buscavam evitar o pagamento de tarifas — especialmente durante o breve período antes de Trump reduzir suas novas taxas de importação de 145% sobre produtos chineses para 30%.
Mas, segundo alguns economistas, muitos produtos ainda serão mais baratos e fáceis de produzir no exterior, dados os altos custos da mão de obra nos EUA e as complexas cadeias de suprimentos que se desenvolveram em lugares como a China.
Falta de clareza
A falta de clareza dos acordos comerciais anunciados por Trump e a tendência do presidente de mudar de ideia também estão desencorajando empresas de investir US$ 1 bilhão ou mais em uma nova fábrica nos EUA, disseram economistas.
Timothy Fitzgerald, economista da Universidade do Tennessee e conselheiro econômico de Trump durante seu primeiro mandato, disse que apoia o uso de tarifas em alguns casos e acredita que uma taxa de aproximadamente 15% — o nível que Trump estabeleceu em alguns acordos comerciais iniciais — poderia ser suficiente para levar algumas indústrias a voltarem para os EUA.
“Mas a incerteza está fazendo os investidores hesitarem”, disse Fitzgerald.
O economista informou também que dado preocupante é o relatório do PIB do segundo trimestre que mostrou que os gastos com estruturas, incluindo fábricas, caíram significativamente.
Maurice Obstfeld, pesquisador sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, disse que as tarifas, como estão atualmente, provavelmente não alterarão muito o déficit comercial, porque as exportações provavelmente cairão ao mesmo tempo que as importações.
Como as tarifas fazem com que os EUA importem menos, os produtores nacionais precisarão fabricar mais produtos do que os EUA costumavam importar, o que deixará menos recursos — como trabalhadores e espaço de fábrica — para fabricar produtos para exportação, disse ele.
Programa de tarifas desagrada
Os americanos não estão gostando do que estão vendo no programa de tarifas de Trump, de acordo com uma pesquisa recente do Wall Street Journal.
Cerca de 57% desaprovam a forma como Trump está lidando com tarifas, 17 pontos a mais do que a parcela de eleitores que aprova. A pesquisa também constatou que 55% dos eleitores desaprovam a forma como Trump lida com a inflação, superando a aprovação em 11 pontos percentuais.
A Casa Branca informou que a agenda comercial do presidente é um sucesso. “Por mais desesperados que os democratas estejam para finalmente terem uma chance de agir e se tornarem relevantes novamente, eles precisam aceitar a realidade de que o presidente Trump estava certo em relação às tarifas”, disse o porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, citando a receita tarifária e o maior acesso ao mercado.
Ainda assim, os democratas veem uma oportunidade.
“A questão prioritária para as famílias americanas é a necessidade de reduzir custos”, disse a deputada Suzan DelBene (democrata, Washington), chefe da campanha democrata. “Essa foi a questão na última eleição e é a questão agora.”
Traduzido do inglês por InvestNews
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