A rápida implementação vai transformar o país em um dos mercados de energia solar com crescimento mais rápido.
A região aposta que a energia solar vai reforçar seus cofres, pois haverá eletricidade para novos resorts, fábricas e data centers. A energia verde também deve extrair mais valor dos combustíveis fósseis, uma vez que barris serão liberados para exportação.
A queda vertiginosa do custo dos painéis solares e baterias fabricados na China está mudando a forma como o mundo gera energia, mesmo com os EUA mirando nas energias renováveis.
“Hoje, a energia solar é a fonte de energia mais barata, rápida, simples e segura que se pode instalar”, disse Marco Arcelli, diretor executivo da ACWA Power, a empresa que impulsiona a reforma da rede elétrica saudita.
A Arábia Saudita pretende obter metade de sua eletricidade de fontes limpas até 2030. A ACWA, cujo maior acionista é o fundo soberano da Arábia Saudita, é responsável por fornecer a maior parte da nova energia necessária para atingir a meta — aproximadamente 100 gigawatts de capacidade. Isso é muito para um país que no ano passado tinha cerca de 4 gigawatts de energia solar instalada, quase o mesmo que a Dakota do Sul, nos EUA.
Aumentar o uso de energia limpa fazia parte do grande plano do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman para diversificar a economia local.
Durante anos, o progresso foi escasso, mesmo com o país iniciando megaprojetos, incluindo Neom, a cidade futurista no deserto. Um projeto solar de US$ 200 bilhões foi arquivado em poucos meses.
O que a energia solar está mudando
Três empresas sauditas, incluindo a ACWA, anunciaram em julho que investiriam US$ 8,3 bilhões em 15 gigawatts em projetos de energia renovável, principalmente solar, além da energia eólica. Isso se soma a um valor um pouco maior já em construção, de acordo com a empresa de pesquisas Rystad Energy. Usinas de energia a gás natural também estão sendo construídas.
Até recentemente, Nishant Kumar, analista da Rystad, não acreditava que a região pudesse chegar perto da meta de 50% da energia ser limpa.
Mas novos projetos continuam surgindo. Ele agora acredita que a energia de baixo carbono poderá representar um terço ou mais da matriz energética da Arábia Saudita até 2030, ante 2% no ano passado.
Isso coloca a Arábia Saudita entre os cinco maiores mercados mundiais para nova capacidade solar, prevê a Rystad.
“Encontrar engenheiros, gerentes de projeto e outros profissionais tornou-se uma dor de cabeça”, disse Luc Koechlin, chefe da unidade de soluções de energia do Oriente Médio da empresa francesa de energia EDF.
“O crescimento é tão rápido, que não é fácil formar equipes”, disse Koechlin. A EDF tem participações em vários projetos de geração de energia na Arábai Saudita, principalmente as solares.
As ambições de energia limpa da Arábia Saudita vão além do Golfo. A ACWA tem um portfólio crescente de projetos de energia na África e na Ásia.
A empresa está trabalhando na maior instalação do mundo a usar energias renováveis para produzir e exportar hidrogênio. Em julho, a empresa afirmou estar explorando a ideia de enviar eletricidade para a Europa em um consórcio com fornecedores de tecnologia de transmissão e empresas europeias de energia. Esse plano, disse Arcelli, é “para a próxima década”.
A estratégia, porém, enfrenta desafios. Os desertos do Oriente Médio não são exatamente perfeitos para painéis solares — o calor pode minar sua produção, assim como a poeira. Dispositivos de varredura automática ajudam a manter os equipamentos livres de poeira. Mas a luz solar compensa essas desvantagens.
Gerenciar uma rede elétrica também é mais complicado, com uma parcela maior de energias renováveis que não podem ser ligadas e desligadas para atender à demanda — um problema que os gigantescos parques de baterias foram projetados para resolver. “E o mundo ainda não produz cabos suficientes para construir a linha de energia para a Europa”, disse Arcelli.
Energia solar de baixo custo
A reforma da rede elétrica visa extrair valor dos combustíveis fósseis, não evitá-los.
A Arábia Saudita queima petróleo para gerar cerca de um terço de sua eletricidade. Isso significa que ela abre mão de cerca de US$ 20 bilhões em exportações de petróleo por ano a preços atuais, de acordo com Oliver Connor, analista do Citi. “É terrivelmente ineficiente”, disse Connor.
A energia solar é uma alternativa de baixo custo. A ACWA e outras empresas a venderam recentemente por menos de US$ 0,013 por quilowatt-hora (o suficiente para alimentar um microondas por uma hora), cerca de um terço dos preços na Espanha, os mais baixos da Europa.
“Além do sol escaldante, os preços baixos refletem o capital apoiado pelo governo e a mão de obra barata”, disse Connor.
Os preços mais baixos do petróleo estão fortalecendo a defesa do fim da chamada queima de petróleo bruto.
A Arábia Saudita está com dificuldades para financiar megaprojetos que podem custar trilhões de dólares.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que Riad precisa de preços do petróleo acima de US$ 90 o barril para equilibrar as contas; os preços atuais estão bem abaixo de US$ 70.
O apelo das energias renováveis também aumentou graças à queda constante no custo de painéis solares e baterias, que vêm da China.
Esse é um ponto positivo para empreendimentos caros, como o plano de construir 50 hotéis de luxo em mais de 26.000 quilômetros quadrados de ilhas e litoral do Mar Vermelho.
Os cinco hotéis abertos até o momento são alimentados por um sistema de energia solar e baterias instalado pela ACWA, disse um porta-voz do projeto turístico.
Os EUA têm tentado bloquear a entrada de painéis solares e baterias chineses. Para os países dispostos a comprar, essas exportações de baixo custo podem reduzir o preço da energia de baixo carbono.
“Se um país como a Arábia Saudita está finalmente começando a levar a sério a energia renovável, isso prova que os painéis solares são tão baratos que estão começando a fazer a diferença”, disse Ana Missirliu, do Climate Action Tracker.
A China precisa do petróleo saudita há muito tempo; agora, o comércio de energia segue dois caminhos. A Arábia Saudita, no entanto, começou a exigir o uso de alguns equipamentos produzidos internamente, como parte de um esforço para atrair investimentos e criar empregos.
Entre as empresas que apostam que a Arábia Saudita agora está falando sério em energia verde está a GameChange Solar, fabricante americana de dispositivos que garantem que os painéis solares apontem para o sol.
O CEO da empresa, Andrew Worden, disse que os planos de energia renovável pareciam exagerados quando ouviu falar deles há quase uma década.
Mas, ultimamente, o mercado se tornou crucial. Em abril passado, a GameChange iniciou as obras de uma fábrica em Dammam com um parceiro chinês. Agora, está dobrando de tamanho para atender à demanda. “De repente, virou uma coisa enorme”, disse Worden.
Traduzido do inglês por InvestNews
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