O ano é 2030. O presidente-executivo da Apple, Tim Cook, sobe ao palco, acena com sua nova varinha mágica da Apple e grita “Apple-cadabra!”, e puxa um pano preto.
É o iPhone feito nos EUA!
Construído com muito dinheiro, pessoas, tempo… e pozinho mágico. No curto prazo, as tarifas do presidente Trump podem significar iPhones mais caros. O objetivo de longo prazo é transferir a fabricação de alta tecnologia para os EUA, incluindo a mina de ouro da Apple. “Será preciso um exército de milhões de seres humanos para apertar os pequenos parafusos de iPhones. É esse tipo de coisa que teria que acontecer”, disse o secretário de Comércio, Howard Lutnick, ao programa “Face the Nation” da CBS.
É possível fabricar iPhones nos EUA?
Os iPhones têm inúmeras peças sofisticadas, provenientes de muitos países e montadas, principalmente, na China, onde a fabricação de eletrônicos foi aperfeiçoada ao longo de uma geração. Os Estados Unidos não têm instalações que se assemelhem às chinesas, nem mão de obra qualificada para montar iPhones em escala.
Então, falamos com especialistas em manufatura e tecnologia para descobrir o quão difícil seria para a Apple levar a produção do iPhone para os EUA. A resposta mais direta? É mais fácil ensinar uma águia a usar uma chave de fenda.
Todos os especialistas foram unânimes. Construir a lista completa de componentes do iPhone e montá-lo nos EUA? Impossível. Mas ter uma parte da fabricação nos Estados Unidos não é algo totalmente insano.
A Apple não quis comentar sobre a possibilidade de fabricar iPhone nos EUA. Abaixo, você confere os custos de cada peça do produto:
Onde são fabricadas as peças de iPhone?
Existem peças de mais de 40 países diferentes dentro de um iPhone, com os componentes mais complexos e especializados provenientes de cerca de meia dúzia deles. A informação é de Gary Gereffi, professor emérito da Universidade Duke, que passou décadas estudando a fabricação global.
No momento, muitas dessas peças são fabricadas na China, ou perto dela, uma vez que o país se beneficia de sua proximidade com Taiwan, Coreia do Sul e Japão.
O único caminho realista para a montagem do iPhone nos EUA é reconstruir sua cadeia de suprimentos, transferindo parte da fabricação de componentes-chave para a região mais ampla da América do Norte, diz Gereffi, com algumas peças fabricadas no México e no Canadá — talvez até na Europa Ocidental.
Se uma operação de montagem nos EUA começasse nos próximos três anos, no entanto, a fábrica também dependeria de peças da Ásia.
Quando a Apple começou a construir o desktop Mac Pro nos EUA, um dos primeiros obstáculos foi obter peças suficientes — incluindo parafusos — perto de casa.
Mesmo que o financiamento não fosse um problema — e já falaremos disso — Gereffi estima que levaria de três a cinco anos para construir a escala e a qualidade necessárias para darmos as mãos em uma grande celebração da fabricação americana.
Falta de mão de obra
A montagem do iPhone nos EUA exigiria um número maior de mão de obra — seja humana, seja robótica.
Não seria impossível comprar o equipamento de fabricação necessário, mas conseguir pessoas suficientes capazes de operá-lo pode ser viável. Esta análise é do professor de negócios da Universidade Johns Hopkins, Tinglong Dai, que estuda cadeias de suprimentos globais. “Temos uma grave escassez de mão de obra”, diz ele, “e perdemos a arte de fabricar em escala”.
A Foxconn, que monta iPhones, disse que emprega 300 mil trabalhadores em Zhengzhou, na China, também conhecida como “Cidade do iPhone”. Em resposta às tarifas, a Apple planeja adquirir mais iPhones montados na Índia, de acordo com um relatório do Wall Street Journal. A Índia também tem uma grande força de trabalho manufatureira.
Os EUA não. A contratação é um dos maiores problemas enfrentados pelas fábricas americanas existentes.
Depois, há a lacuna de habilidades. Em uma entrevista de 2017 à Fortune, Cook disse que o incentivo para construir na China não era a mão de obra barata. “Os produtos que fazemos exigem ferramentas realmente avançadas”, disse ele, referindo-se ao sofisticado equipamento de fabricação de iPhones. “Nos EUA, você poderia fazer uma reunião com engenheiros de ferramentas, e não tenho certeza se conseguiríamos encher a sala. Na China, você consegue encher vários campos de futebol.”
“Os robôs podem ajudar na embalagem e nos testes, mas tarefas como roteamento de cabos, adição de cola e apertar pequenos parafusos, ainda exigem humanos”, diz Dai.
Apple iria precisar de montanhas de dinheiro
Tudo isso exige dinheiro. Muito, muito dinheiro. O presidente Trump mencionou a disposição da Apple de gastar US$ 500 bilhões na fabricação nos EUA. Mas o compromisso da empresa é em grande parte com uma fábrica em Houston destinada a fazer servidores de IA, não iPhones.
A Apple teria que gastar mais para construir o ecossistema de fabricação de um iPhone “Made in USA”. E mesmo que o fizesse, a empresa seria capaz de manter a qualidade do iPhone vendendo-o ao preço de hoje?
“Não”, dizem os especialistas.
“Um iPhone de US$ 1 mil feito completamente nos EUA seria um produto de baixa qualidade, pelo menos no início”, diz Dai. “Os EUA têm capacidade para fabricar peças de smartphones em algumas áreas, mas não são os melhores nessas áreas.” O país precisaria recuperar o atraso nas décadas de experiência que o Japão tem com câmeras e a Coreia do Sul com monitores, por exemplo.
Há um impulso para a fabricação americana de semicondutores. A TSMC, maior fabricante de chips do mundo e parceira da Apple, prometeu construir várias fábricas no Arizona. Mas, por enquanto, os chips mais avançados da empresa, incluindo os da Apple, só podem ser fabricados em Taiwan.
Em 2017, durante o primeiro governo de Trump, a Foxconn anunciou planos para construir telas de TV em Wisconsin em uma instalação com 13 mil trabalhadores. Então, reduziu drasticamente seu compromisso — criando apenas cerca de mil empregos. Os custos de fabricação acabaram sendo “de quatro a cinco vezes mais caros” do que na China, diz Jeff Fieldhack, diretor de pesquisa da Counterpoint Research.
Antes das tarifas de Trump, estima Fieldhack, a Apple poderia fazer uma operação nos EUA em cinco anos, supondo que o dinheiro não fosse problema.
Mas eis a questão: com novas taxas e tarifas ameaçando aumentar não apenas os componentes do iPhone, mas o custo dos materiais de construção de uma fábrica — madeira, aço e tudo mais —, “Tudo está muito longe agora”, diz Fieldhack.
Traduzido do inglês por InvestNews
Presented by