Quando Christian Meunier assumiu a operação das Américas da Nissan no início do ano, ele disse que a empresa estava perdida. “Não havia uma estrela-guia. Não havia visão. Não havia direção”, disse Meunier em entrevista.

A montadora estava lenta para tomar decisões e complacente com seu status em declínio nos EUA, afirmou. Uma das primeiras ações de Meunier foi ordenar que os funcionários corporativos na sede da Nissan no Tennessee voltassem ao escritório quatro dias por semana. A colaboração é “muito difícil” em regime remoto e os problemas muitas vezes não são resolvidos, disse ele.

Mas será preciso muito mais do que isso para reverter a queda da Nissan, que começou quase uma década atrás. A empresa registrou no mês passado seu quinto prejuízo trimestral consecutivo e está fechando sete de suas 17 fábricas globalmente, além de cortar 20 mil empregos.

A montadora vem enfrentando falta de direção desde a prisão de seu antigo CEO, Carlos Ghosn, em 2018. A situação — como a terceira maior montadora do Japão — ficou tão crítica que o governo japonês chegou a estimular, no ano passado, uma fusão acelerada com sua concorrente mais forte, a Honda, mas o acordo fracassou.

A missão de Meunier é reverter o desempenho da empresa em seu maior mercado, os EUA. As vendas caíram cerca de 40% na última década, e sua fatia de mercado diminuiu para 6,4%, ante o pico de 8,4% em 2017, segundo a Cox Automotive. Concessionárias da Nissan frequentemente enfrentam estoques maiores do que a concorrência e precisam aplicar descontos para vender veículos e alcançar os bônus de volume pagos pela montadora.

“Não é que os produtos deles não tenham valor, mas você acaba treinando as pessoas a pensar que esse é o carro barato”, disse Stephanie Brinley, analista automotiva da S&P Global Mobility na América do Norte. “Ser o mais barato e o melhor negócio nem sempre é a forma de gerar a lealdade que você deseja.”

Brinley disse que a Nissan desperdiçou sua liderança no mercado americano de veículos elétricos com o Leaf e demorou demais para atualizar a picape Frontier, apesar da popularidade das picapes de médio porte. “Eles têm muito a consertar”, disse. “Vai levar tempo.”

Meunier, de 58 anos, que trabalhou na Nissan por 17 anos em três continentes antes de sair em 2019 para comandar a marca Jeep, da Stellantis, disse que sua tarefa é reacender o “espírito de luta” que o levou a entrar na empresa em 2002. Isso significa reverter uma lista de erros cometidos na última década — desde eliminar modelos populares como o SUV Xterra até a crônica subutilização de suas duas fábricas nos EUA, no Tennessee e no Mississippi.

A Nissan também não trouxe sua tecnologia híbrida para os EUA, deixando a empresa sem um modelo híbrido justamente quando essa tecnologia está em ascensão. Na Toyota, maior rival japonesa, cerca de metade das vendas nos EUA são híbridos.

Meunier está acelerando os planos híbridos da Nissan, começando no ano que vem com seu veículo mais popular nos EUA, o crossover Rogue. Eventualmente, ele quer ter híbridos em toda a linha da Nissan no país.

Capacidade de um milhão de carros

As fábricas americanas da Nissan atualmente produzem 600 mil veículos por ano, mas têm capacidade para um milhão — e Meunier quer elevar a produção. Ele também planeja trazer de volta o Xterra, um veículo off-road robusto que representa “a combinação perfeita do que a Nissan é — acessibilidade, diversão e durabilidade”, disse.

Ao mesmo tempo, ele diz precisar melhorar o relacionamento com as concessionárias da Nissan, algumas das quais têm dificuldades para lucrar e afirmam que foram deixadas sem novidades na linha de produtos.

Alan Haig, presidente da consultoria de compra e venda de concessionárias Haig Partners, disse que a Nissan depende de incentivos para que os revendedores atinjam metas de vendas em grau maior do que seus concorrentes. “O nível real de demanda era bem menor do que o que eles estavam tentando vender”, disse Haig.

Meunier afirmou que a Nissan ainda pressiona as concessionárias com incentivos porque aumentar as vendas é crucial para a virada da marca. “Acho que todo ser humano que acorda de manhã precisa ter uma meta e um objetivo para o dia, para o mês ou para o ano”, disse.

Há sinais de melhora, segundo Meunier. A fatia de mercado da Nissan nas vendas no varejo nos EUA foi de 4,9% no trimestre mais recente, acima dos 4,1% de um ano atrás. “Você não faz isso da noite para o dia, mas o impulso está aí”, afirmou.

Escreva para Christopher Otts em christopher.otts@wsj.com

Traduzido do inglês por InvestNews