O CEO da Paramount, David Ellison, sabia que sua última oferta pela Warner Bros. Discovery estava em risco quando o CEO da empresa, David Zaslav, começou a ignorá-lo.
A Paramount havia passado a manhã de 4 de dezembro finalizando sua sexta oferta para adquirir toda a Warner: uma proposta totalmente em dinheiro de US$ 77,9 bilhões. Mas a Paramount temia que a Warner já tivesse escolhido seu parceiro preferido: a Netflix.
“Acabei de tentar falar com você sobre a nova proposta que enviamos”, escreveu Ellison para Zaslav. “Ouvi todas as suas preocupações e acredito que as tratamos em nossa nova proposta. Por favor, me retorne quando puder para discutirmos em detalhes.”
Ele não obteve resposta.
Sentindo problemas, Ellison insistiu, dizendo que a Paramount havia oferecido um pacote que cobria todas as questões levantadas pela Warner, incluindo a necessidade de “forte valor em dinheiro” e “rapidez para fechar”.
“Seria a honra de uma vida ser seu parceiro e proprietário desses ativos icônicos”, ele escreveu em mensagem, segundo um documento regulatório.
Na sexta-feira (5), as preocupações de Ellison se concretizaram. Warner e Netflix anunciaram um acordo para que a gigante do streaming adquirisse as propriedades icônicas da Warner e da HBO por US$ 72 bilhões — uma fusão que pode remodelar radicalmente o setor de entretenimento.
O pai de Ellison, o bilionário e cofundador da Oracle, Larry Ellison — aliado de Trump — telefonou para o presidente após o anúncio do acordo com a Netflix e disse que a transação prejudicaria a concorrência, segundo um funcionário da Casa Branca e uma pessoa familiarizada com o assunto.
Uma porta-voz da Oracle não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Durante uma visita a Washington nos últimos dias, David Ellison garantiu a autoridades do governo Trump que, se comprasse a Warner, faria mudanças profundas na CNN — alvo frequente da ira do presidente Trump — segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Trump disse a pessoas próximas que quer nova administração na CNN e mudanças na programação da emissora.
A Casa Branca não quis comentar. Um funcionário disse que não comenta conversas privadas do presidente.
Sem intenção de desistir, a Paramount lançou na segunda-feira (8) uma ofensiva hostil pela Warner, levando seu caso diretamente aos acionistas. Ellison diz que sua oferta é melhor para os acionistas e mais provável de passar pelo crivo regulatório. A Paramount afirmou que sua proposta oferece US$ 18 bilhões a mais em dinheiro do que a da Netflix.
“Estamos aqui para concluir o que começamos”, disse Ellison na CNBC na manhã de segunda-feira. Três fundos soberanos do Oriente Médio e Jared Kushner, genro de Trump, estão entre os financiadores da oferta da Paramount.
O conselho da Warner afirmou que pretende seguir com a Netflix.
A disputa pela Warner virou uma batalha entre a Paramount — instituição de 113 anos de Hollywood — e a Netflix, startup tecnológica que virou gigante do entretenimento. Com uma enorme biblioteca de filmes e séries clássicos, incluindo Casablanca e The West Wing, além da HBO, lar de The Sopranos e Game of Thrones, a Warner é considerada uma joia da coroa de Hollywood.
Trump, por enquanto, evitou apoiar publicamente qualquer comprador. “Nenhum deles é particularmente meu amigo”, disse ele em uma mesa-redonda na Casa Branca na segunda-feira. Uma pessoa próxima ao presidente disse que ele quer que Paramount e Netflix disputem seu aval para o acordo.
Trump disse a assessores que quer ser informado regularmente sobre qualquer potencial investigação antitruste sobre o acordo da Netflix pela Warner. Um porta-voz da procuradora-geral Pam Bondi disse que, embora ainda seja cedo, ela e a divisão antitruste do Departamento de Justiça supervisionarão essa fusão.
Perseguição intensa
Ellison, que recentemente fundiu sua produtora Skydance com a Paramount, já planejava perseguir a Warner havia muito tempo. Ele via a Paramount como pequena demais para competir sozinha contra Netflix, Disney e outros, segundo pessoas familiarizadas com seu pensamento.
A Paramount “realmente precisa de uma aquisição para competir com Netflix, Disney e Amazon, todas com ampla vantagem em escala global, produção de conteúdo e engajamento”, disse o analista da MoffettNathanson, Robert Fishman, em relatório divulgado na segunda-feira.
Ellison inicialmente adotou uma abordagem mais amigável.
O conselho da Paramount se reuniu em setembro para discutir uma oferta pela Warner. Dias depois, David Ellison visitou a casa de Zaslav em Beverly Hills — antes pertencente ao lendário chefe do estúdio Paramount, Robert Evans — para apresentar sua proposta pessoalmente. Ellison propôs uma oferta em dinheiro e ações equivalente a US$ 19 por ação.
Ele seguiu com uma carta formal à Warner com a proposta da Paramount, que seria 60% em dinheiro. Larry Ellison se reuniu virtualmente com Zaslav e com o presidente emérito da Warner, John Malone, dias depois.
Mas Zaslav já tinha um plano para dividir seu império em duas empresas — uma para abrigar os estúdios e o HBO Max, e outra para administrar os canais de TV. A Warner rejeitou a proposta dos Ellison por considerá-la insuficiente.
No fim de setembro, Ellison enviou sua segunda carta ao conselho da Warner, elevando o valor para US$ 22 por ação e aumentando a parcela em dinheiro de 60% para quase 67%. A nova proposta incluía um pagamento de US$ 2 bilhões caso o acordo fosse barrado por reguladores, e oferecia a Zaslav o cargo de co-CEO e copresidente da empresa combinada.
A Paramount fez sua terceira tentativa em 13 de outubro, oferecendo US$ 23,50 por ação e novamente elevando a parcela em dinheiro para 80%.
Aumentando a aposta
Após as três ofertas rejeitadas da Paramount, Zaslav essencialmente colocou sua empresa à venda. A Warner informou que havia recebido interesse de várias partes e iniciaria um processo de leilão.
As ofertas preliminares não vinculantes chegaram em 20 de novembro, com a Paramount oferecendo US$ 25,50 por ação pela companhia inteira, enquanto Netflix e Comcast miravam apenas os estúdios e o serviço de streaming HBO Max.
Logo depois, os Ellison jantaram com Zaslav para reforçar seu caso e oferecer novamente um cargo de liderança. Eles aumentaram sua oferta na rodada seguinte, elevando-a para US$ 26,50 por ação, totalmente em dinheiro.
Na véspera do que seria a última oferta da Paramount durante o leilão, a empresa perguntou ao banco de investimento Allen & Co., que trabalhava com a Warner, quais fatores seriam considerados. “Cash is king”, respondeu um representante, segundo documento regulatório da Paramount.
A Paramount enviou sua oferta de US$ 30 por ação, alterando parte de seu financiamento com três fundos soberanos do Oriente Médio para evitar acionar uma revisão do comitê que analisa investimentos estrangeiros. Os fundos concordaram em abrir mão de quaisquer direitos de governança na empresa combinada, incluindo assentos no conselho.
Às 16h30 daquele dia, Ellison e sua equipe ainda não tinham recebido retorno da Warner. Por volta das 23h, saiu a notícia de que a Warner havia fechado um acordo de exclusividade com a Netflix.
Escreva para Joe Flint em Joe.Flint@wsj.com, Brian Schwartz em brian.schwartz@wsj.com e Natalie Andrews em natalie.andrews@wsj.com.
Traduzido do inglês por InvestNews
