O presidente Donald Trump recuou. A decisão veio após uma semana de quedas nos mercados de ações e títulos, somadas a uma forte pressão de executivos de grandes empresas, parlamentares, lobistas e líderes estrangeiros. Na quarta-feira (9), Trump anunciou uma pausa de 90 dias em parte de seu plano de tarifas — uma reviravolta que surpreendeu Washington e Wall Street.

A mudança foi atribuída à atuação do secretário do Tesouro, Scott Bessent (o equivalente a Ministro da Fazenda), que convenceu Trump a dar tempo para negociações com parceiros comerciais.

O anúncio foi feito poucas horas depois que as tarifas chamadas “recíprocas” haviam entrado oficialmente em vigor. Trump, então, usou sua rede social, a Truth Social, para informar a decisão. Ao mesmo tempo, ele aumentou significativamente as tarifas sobre produtos chineses, para 125%, justificando a medida como resposta à “falta de respeito” da China aos mercados globais.

Política comercial recessiva

No centro da decisão estavam os temores de recessão. Trump assistiu à forte reação negativa nos mercados e ouviu líderes empresariais como Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, expressarem publicamente preocupações sobre os efeitos econômicos das tarifas.

Segundo fontes próximas, o próprio Trump reconheceu que sua política comercial poderia causar uma recessão — e que seu objetivo era evitar uma depressão.

A mudança também refletiu um reposicionamento interno: Bessent ganhou mais influência no grupo de conselheiros de comércio do presidente após uma reunião no domingo. Ele teria recebido mais de 75 contatos de países buscando negociar, com o Japão liderando a fila. A justificativa oficial foi de que muitos países estariam dispostos a conversar, sem retaliar os EUA.

Ao longo da quarta-feira (9), membros da administração Trump tentavam controlar os danos e alinhar o discurso. Enquanto o representante comercial Jamieson Greer testemunhava no Congresso sobre as tarifas, o anúncio de Trump já circulava nas redes.

O deputado democrata Steven Horsford expressou irritação: “Isso aqui é amadorismo. Como vocês negociam se o presidente está tuitando sobre isso de onde quer que esteja?”

A decisão de Trump foi também fortemente influenciada pelos mercados. Ele observava atentamente os movimentos das bolsas e dos juros, e disse que viu os investidores “ficando nervosos” com o tombo no mercado de títulos. Em reuniões, também ouviu a governadora democrata de Michigan, Gretchen Whitmer, relatar que o setor automotivo já sentia os impactos das tarifas.

Pressão na Casa Branca

Além de Dimon, outros executivos do setor financeiro e líderes republicanos pressionaram a Casa Branca. Eles alertaram que as tarifas poderiam “afundar a economia”.

Mesmo sem conversar diretamente com Trump há anos, Dimon sabia que sua entrevista na Fox Business seria assistida pelo presidente.

Na ocasião, o CEO defendeu o uso moderado de tarifas, mas alertou para o risco de recessão.

Trump confirmou que vinha “pensando em uma pausa há alguns dias” e que a decisão foi tomada “cedo nesta manhã”, sem consultar advogados. Segundo ele, o texto do anúncio foi feito “do coração”, com ajuda de Bessent e do secretário de Comércio, Howard Lutnick: “Não queremos prejudicar países que não precisam ser prejudicados. Todos querem negociar”.

Reação de Wall Street

A reação de Wall Street foi imediata: as bolsas subiram com o alívio nos temores tarifários. Na manhã de quarta (9), antes do anúncio oficial, Trump já havia feito postagens otimistas sobre o mercado: “Fiquem tranquilos! Tudo vai dar certo”, escreveu, seguido de “Este é um ótimo momento para comprar!!!”.

Para conselheiros próximos, o movimento foi estratégico. “Ele adota uma postura extrema para forçar o mundo a negociar”, disse um assessor. A China, por ter retaliado os EUA, foi alvo do aumento mais severo de tarifas.

O megainvestidor Bill Ackman, crítico recente de Trump, celebrou o recuo: “Execução brilhante por @realDonaldTrump. Um verdadeiro exemplo do Art of the Deal”.

Traduzido do inglês por InvestNews

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