Há muito tempo os moradores têm interesse no destino da empresa, já que muitos trabalham em suas fábricas e escritórios e até têm ações da companhia.
Em seu auge, a cidade onde fica a sede da Kellogg atraiu turistas e muitas vagas de emprego. Mas, nas últimas décadas, as dificuldades da indústria de cereais prejudicaram a empresa e os moradores de Battle Creek, no Michigan, que dependem de seu sucesso.
Agora, os moradores buscam um novo benfeitor: a Ferrero, fabricante europeia de doces que afirma ter um plano para restaurar as marcas da Kellogg e compartilhar esse crescimento com Battle Creek.
Os acionistas da Kellogg votaram a favor da proposta de aquisição da Ferrero por US$ 3,1 bilhões, de acordo com resultados preliminares, abrindo caminho para que o negócio fosse fechado em poucas semanas.
A votação marcou uma virada para a cidade de 52.000 habitantes, localizada na confluência de dois rios no sul de Michigan.
Os moradores estão emocionados com a perda do controle local de uma marca icônica e local. Mas alguns estão esperançosos com um novo dono.
“Nos últimos 20 anos, não recebemos muitas notícias boas da Kellogg”, disse Jake Smith, ex-comissário municipal.
Ofertas para café da manhã
Em uma amena sexta-feira de junho, representantes da Kellogg Foundation Trust, que financia uma das maiores organizações filantrópicas do país, receberam um telefonema de Gary Pilnick, CEO da empresa. Era um aviso: duas partes haviam feito ofertas pela empresa e um acordo estava no horizonte.
Membros da Foundation Trust tinham uma pergunta para Pilnick, de acordo com um documento: ‘O que isso significará para Battle Creek?’.
Semanas depois, quando o The Wall Street Journal noticiou que uma venda para a empresa italiana Ferrero estava próxima, os moradores tiveram a mesma reação.
Joe Schwarz, ex-prefeito da cidade e ex-deputado, estremeceu ao ouvir a notícia, lembrando-se de como outras cidades americanas sofreram quando suas principais empresas foram compradas.
“Eu sempre tive medo de que algo parecido acontecesse, e aconteceu”, disse Schwarz.
De sua mesa na prefeitura, o prefeito Mark Behnke tentou descobrir se a reportagem do WSJ era verdadeira. Ele não havia recebido nenhum aviso da empresa — em vez disso, o corretor da bolsa de sua esposa viu a notícia e ligou.
Na mesma rua, na sede da Kellogg, Pilnick e seus assessores preparavam o anúncio. Ele correu para explicar o acordo aos funcionários, com uma apresentação de slides mostrando Tony, o Tigre, fazendo sinal de positivo e Sam, o Tucano, erguendo a asa.
“A administração da Ferrero pretende honrar nossa herança”, disse Pilnick.
No dia seguinte, ele reuniu empresários locais e autoridades para responder as perguntas. Ele mostrou imagens antigas de fábricas de cereais e anúncios vintage da Kellogg, garantindo-lhes que a empresa permaneceria comprometida com a cidade.
Há dois anos, a Kellogg se dividiu em uma empresa de cereais chamada WK Kellogg e uma de salgadinhos, a Kellanova. Em 2024, a Mars fechou um acordo para tornar a Kellanova privada.
Para a Foundation Trust, com 95 anos de existência, sediada em um imponente escritório no centro da cidade e maior acionista de cada uma das duas empresas, o acordo significaria abrir mão de sua participação financeira em ambas.
Como tuco começou
Will Keith Kellogg desenvolveu a receita de Corn Flakes na cidade no final do século XIX com o irmão John. Os dois não se entendiam, e Will Kellogg decidiu seguir carreira solo, construindo uma empresa de cereais com centenas de funcionários e clientes em todo o mundo. Fãs viajavam até Battle Creek para visitar a fábrica, ansiosos para ver como o cereal matinal era feito.
À medida que Kellogg crescia, a cidade se beneficiava. A fundação financiou iniciativas educacionais locais, concedeu empréstimos a pequenas empresas e ajudou a desenvolver moradias populares.
Com o passar dos anos, as relações entre a empresa e a região começaram a se deteriorar. Em 1982, moradores de Battle Creek Township e Battle Creek City acusaram Kellogg de “chantagem corporativa” quando a empresa ameaçou deixar a região se os dois municípios não se fundissem.
Kellogg argumentou que um governo local mais eficiente ajudaria a área a atrair mais trabalhadores. Os eleitores acabaram aprovando a fusão.
Na virada do século, o cereal matinal começou a declinar. A Kellogg reduziu o tamanho da fábrica da cidade e transferiu parte da produção para fora. Smith, ex-comissário municipal, disse que todos na cidade têm um familiar ou vizinho que recebeu um aviso de demissão da Kellogg.
Em 2021, a Kellogg anunciou planos para demitir muitos trabalhadores da fábrica de cereais de Battle Creek ao longo de vários anos. Após a cisão da empresa em 2023, a Kellogg, unidade de cereais, reverteu esse plano e manteve 170 empregos locais.
Nova geradora de emprego
Ainda assim, a Kellogg não é mais a maior empregadora da cidade. Agora, é a Denso, uma fornecedora japonesa de automóveis. A Battle Creek Unlimited, uma organização de desenvolvimento econômico, ajudou a atrair mais empresas para a área, supervisionando o desenvolvimento de um parque industrial com mais de 85 instalações, empregando 13.000 pessoas.
Para alguns, Battle Creek não parece mais a “Cidade dos Cereais”.
No Barista Blues Cafe, a coproprietária Maryann Vassallo disse que o Festival Anual de Cereais da cidade costumava se estender por toda a cidade, mas agora é uma fração do seu tamanho anterior. “O cereal não é mais considerado o café da manhã dos campeões”, disse Jim Richmond, ex-vice-presidente da Fundação W.K. Kellogg.
Embora a população de Michigan tenha aumentado desde 2000, a de Battle Creek diminuiu, de acordo com dados do Census Bureau. Pesquisadores do Instituto Upjohn de Pesquisa de Emprego observaram que o envelhecimento da população da cidade pode colocar em risco sua capacidade de atrair novos negócios.
O anúncio da Kellogg para 2023 incluiu um investimento de US$ 44 milhões na fábrica local e a criação de 43 novos empregos. Desde então, porém, a fabricante de cereais também sofreu com a queda nas vendas trimestre após trimestre.
Alguns moradores esperam que a Ferrero possa trazer inovação para a Kellogg. “Como parte de uma empresa privada, a Kellogg poderá operar e experimentar sem a pressão dos relatórios de lucros trimestrais”, disse Joe Sobieralski, presidente da Battle Creek Unlimited.
O prefeito brincou que a aquisição poderia render Frosted Flakes cobertos com Nutella. “Ainda assim, o negócio de cereais é difícil”, disse ele.
Traduzido do inglês por InvestNews
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