Uma série de acordos bilionários está remodelando a adormecida indústria ocidental de minerais essenciais de terras raras, que os EUA e seus aliados esperam que atue como um baluarte contra as práticas comerciais agressivas da China.

Desde que a China começou a restringir as exportações de terras raras em abril, levando as montadoras a interromper produção e os preços dispararam, uma onda de financiamento privado e governamental fluiu para empresas de terras raras.

Elas agora têm dinheiro para contratar técnicos, expandir fábricas e fazer aquisições estratégicas, enquanto correm para ter suprimentos fora da China, necessários à fabricação de alta tecnologia.

O presidente Trump e o líder chinês Xi Jinping devem se reunir na Coreia do Sul, e as terras raras estão no topo da agenda.

O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse no domingo que esperava que Pequim concordasse, como parte de um acordo comercial, em adiar certas restrições planejadas à exportação de terras raras. Mas poucos esperam que os dois líderes resolvam a questão completamente.

Financiamento de terras raras

Nos últimos dias, a Orion Resource Partners, uma empresa de investimentos especializada em metais, anunciou um consórcio de investimentos de US$ 1,8 bilhão. O financiamento foi em parte feito com recursos do governo dos EUA, para garantir minerais essenciais para os EUA e seus aliados.

No início da semana passada, Trump e o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, assinaram um acordo para financiar projetos de minerais essenciais e terras raras.

Em paralelo a esse anúncio, a agência federal Export-Import Bank of the United States (Banco de Exportação e Importação dos Estados Unidos) anunciou US$ 2,2 bilhões em financiamento para sete projetos minerais na Austrália.

A Casa Branca afirmou que o Departamento de Defesa investiria em uma refinaria avançada de gálio na Austrália Ocidental, necessária para a fabricação de semicondutores.

O JPMorgan Chase anunciou no início deste mês que investiria US$ 10 bilhões em empresas importantes para a segurança nacional, incluindo empresas de terras raras, parte de uma iniciativa de US$ 1,5 trilhão lançada pelo banco com foco em setores estratégicos.

O banco também anunciou o primeiro investimento: US$ 75 milhões para a Perpetua Resources, uma mineradora sediada em Idaho que produzirá antimônio, um mineral de defesa essencial, dominado pela China.

O crescimento dos financiamentos sugere que as táticas de choque da China catalisaram uma revitalização da indústria ocidental de terras raras, assim como os esforços dos EUA para restringir as exportações de semicondutores avançados para a China impulsionaram os esforços chineses para alcançar os EUA em chips.

“A China despertou o gigante adormecido”, disse John Ormerod, consultor da indústria de terras raras.

Investidores de varejo e privados estão investindo bilhões de dólares por conta própria. A MP Materials, principal empresa de mineração de terras raras dos Estados Unidos, viu seu preço das ações praticamente quadruplicar este ano, elevando sua capitalização de mercado para cerca de US$ 12 bilhões. A empresa australiana de terras raras Lynas Rare Earths captou cerca de US$ 500 milhões de investidores em agosto. O preço das ações triplicou este ano.

Restrições da China

As empresas ocidentais de mineração têm lutado há muito tempo para levantar capital devido à sua posição frágil em relação às gigantes minerais estatais da China, conhecidas por inundar o mundo com materiais de baixo custo.

As restrições impostas pela China neste ano, incluindo uma medida repentina em outubro para aumentar as restrições às exportações de terras raras, mudaram fundamentalmente o cenário.

Elas deixaram claro que o controle de Pequim sobre as terras raras não é uma ferramenta teórica em conflitos comerciais, mas uma arma poderosa que usará sempre que sentir que pode prejudicar os EUA.

Isso levou os EUA a tomar medidas que fortalecerão a indústria a longo prazo.

Um exemplo: o governo americano concordou em estabelecer um piso de preço para a MP Materials, protegendo-a contra qualquer queda de preço desencadeada pela superprodução chinesa.

A Ucore Rare Metals, uma processadora canadense de terras raras, recebeu US$ 18 milhões do Pentágono para construir sua primeira planta comercial na Louisiana, que transformará terras raras brutas em óxidos utilizados por diversas indústrias. O preço de suas ações subiu mais de 700% este ano.

“É preciso agir rápido para concluir este trabalho”, disse Pat Ryan, diretor executivo da Ucore, que espera ter a planta em operação no próximo ano.

O sistema de licenciamento de Pequim, introduzido em abril, exige que empresas estrangeiras obtenham permissão antes de importar poderosos ímãs de terras raras da China. As licenças podem levar várias semanas para serem processadas e frequentemente são rejeitadas, frustrando compradores dos setores automobilístico, de defesa e eletrônico.

Em junho, líderes americanos afirmaram que a China havia concordado em flexibilizar as restrições a ímãs após uma trégua comercial.

Mas algumas empresas americanas afirmam que, desde então, ficou mais difícil adquirir ímãs novamente, com as exportações chinesas de ímãs de terras raras para os EUA caindo 29% em setembro em relação ao mês anterior.

“As cadeias de suprimentos internacionais são orientadas para o just-in-time e não para alguns burocratas de Pequim decidindo, ao longo de meses, se licenciam ou não uma determinada remessa de exportação”, disse Thomas Kruemmer, analista de terras raras baseado em Cingapura.

Restaurar as cadeias de suprimentos ocidentais levará tempo, e a indústria de terras raras já viu falsos alvores antes. A indústria fora da China carece de experiência e conhecimento.

Caso os EUA e a China cheguem a um acordo de longo prazo para retomar as relações comerciais normais, os compradores ocidentais de terras raras ficariam tentados a recorrer novamente ao poço chinês.

“Este não é nem o fim do começo. Este é o começo do começo”, disse Oskar Lewnowski, CEO da Orion Resource Partners.

Postura dos investidores

Nada disso, porém, significa que todos os projetos serão bem-sucedidos. Pode ser difícil para investidores não especialistas distinguir os bons projetos ou prever quais empresas estão na fila para receber apoio governamental.

O aumento repentino no financiamento de uma cadeia de suprimentos ocidental começou em julho, quando o governo dos EUA investiu US$ 400 milhões na MP Materials e se comprometeu a garantir compradores para seus ímãs.

A Adamas Intelligence, que monitora a indústria de terras raras, mais que triplicou suas projeções para a capacidade total de ímãs de terras raras nos EUA em 2030.

A Phoenix Tailings, uma empresa da Nova Inglaterra que fabrica metais e ligas de terras raras usados ​​em ímãs, inaugurou uma fábrica de metais de terras raras em Exeter, New Hampshire, nos últimos dias. O CEO Nick Myers quer aumentar a capacidade rapidamente, para o que precisará levantar recursos.

No ano passado, essa teria sido uma perspectiva assustadora. Muitos investidores em potencial não conheciam a importância de minerais de terras raras, como o praseodímio.

Hoje, os investidores já pesquisaram o assunto. “Não acho que ninguém no setor esteja tendo dificuldade para obter capital privado”, disse Myers.

Traduzido do inglês por InvestNews

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