Uma seleção semanal do jornalismo mais prestigiado do mundo
Presented by

A busca por tratamentos para manter o peso após o Ozempic

Pesquisadores e empresas tentam ajudar as pessoas a manter a perda de peso

Por Betsy McKay The wall street Journal
Publicado em
10 min
traduzido do inglês por investnews

Aida Diaz sentou-se à mesa onde havia frango frito, batata frita, salada e muito mais.

Escolha o que você quer para o jantar, instruíram pesquisadores da Universidade de Columbia à nova-iorquina de 27 anos. Diaz encheu o prato com salada, um pouco de atum enlatado e frango, grelhado, não frito.

Então, pegou uma fritura — porque quem consegue resistir? — e umas duas colheradas de macarrão com molho de queijo. “Eles disseram que essa é a parte mais difícil”, contou Diaz, que está tentando não recuperar os 35 quilos que perdeu.

Certamente é. Pesquisadores, incluindo a equipe da Columbia, e a indústria farmacêutica tentam resolver o maior problema da indústria do emagrecimento hoje: como manter o peso depois de perdê-lo.

Centenas de milhares de pessoas perderam toneladas de quilos com drogas de grande sucesso, incluindo o Ozempic e o Wegovy. Mas muitas os recuperaram quando param de tomar os medicamentos. Milhões de outras pessoas, como Diaz, que emagreceram mudando a dieta e os hábitos de exercício, lutam para não voltar a engordar.

Drogas ou procedimentos para manter o peso podem alimentar uma onda ainda maior que a do Ozempic e seus primos imensamente lucrativos. O ato de emagrecer é temporário, mas manter-se magro é tarefa para o resto da vida. Emagrecer e manter o peso são desafios diferentes.

Os fabricantes dos campeões de emagrecimento têm um grande problema a superar: muita gente para de tomar os medicamentos GLP-1. As razões são várias: o seguro saúde não os paga; elas não toleram os efeitos colaterais ou não querem um tratamento que dure muito tempo. Apenas 14% das pessoas entrevistadas em 2023 pela KFF, organização de pesquisa de políticas de saúde, afirmaram estar interessadas em tomar um medicamento para emagrecer após serem informadas de que poderiam recuperar o peso se parassem.

“A necessidade foi de como perder peso para como não o recuperar” disse o dr. Harith Rajagopalan, CEO da Fractyl Health, empresa de biotecnologia de Burlington, em Massachusetts, que trabalha em duas terapias para ajudar as pessoas a manterem o peso.

Novos tratamentos

As farmacêuticas estão projetando tratamentos para ajudar na manutenção do peso, além de pílulas para emagrecimento ou injeções de longa duração que podem ser mais fáceis para os pacientes usarem do que os injetáveis atuais. A empresa de biotecnologia Amgen está testando uma injeção duradoura que ajudou as pessoas a manterem o peso por até cinco meses depois que pararam de tomá-la em um estudo inicial. 

A Novo Nordisk e a Eli Lilly dizem que seus medicamentos Wegovy e Zepbound, respectivamente, são destinados à perda de peso e manutenção. A Eli Lilly espera resultados (que virão em 2026) de um estudo com o Zepbound especificamente para manutenção de peso. A obesidade é uma doença crônica — como a hipertensão — que requer tratamento contínuo, de acordo com a Novo Nordisk, a Eli Lilly e os médicos. Os pacientes que tentam manter a nova silhueta muitas vezes começam a tomar uma dose mais baixa.

Em março de 2023, Karsten Reiners passou por um procedimento endoscópico desenvolvido pela Fractyl Health para tratar obesidade e diabetes tipo 2. O procedimento, aprovado na Europa e em estudo nos EUA para o tratamento do diabetes, remove um revestimento no intestino delgado prejudicado pela exposição crônica a dietas ricas em gordura ou açúcar. Retirá-lo permite que um novo revestimento se forme, restaurando os sinais normais de nervos e hormônios trocados entre o intestino e o cérebro, reduzindo assim a fome, explicou Rajagopalan.  

Reiners, vendedor de 62 anos em Krefeld, na Alemanha, perdeu mais de 13 quilos nos três meses seguintes. Seus níveis de açúcar no sangue estão controlados agora. Ele não come pizza há um ano e evita chocolate. “Não como tanto quanto antes”, afirmou. 

Ainda assim, teve dificuldade para enfrentar tentações alimentares durante as férias e voltou a engordar cerca de 5,5 quilos. 

A Fractyl Health planeja lançar um estudo sobre o procedimento para manutenção de peso nos EUA este ano. A empresa também está desenvolvendo uma terapia genética única com essa finalidade.

Pesquisadores da Columbia, da Universidade Drexel, da Universidade da Pensilvânia e de outras instituições estão conduzindo um estudo sobre o cérebro, as células de gordura e os músculos e os padrões alimentares de pessoas — como Diaz — que tentam manter seu novo peso. Eles esperam que seu trabalho, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH na sigla em inglês), produza tratamentos personalizados. 

Embora os pesquisadores geralmente saibam o que faz as pessoas voltarem a engordar — o corpo pensa que está morrendo de fome depois de perder peso —, eles querem entender por que algumas conseguem se manter enquanto a maioria não consegue. 

Há mais em jogo do que a boa aparência. Se as pessoas voltarem a engordar, não colherão os benefícios de saúde em longo prazo que o emagrecimento proporciona. “Recuperar o peso é o grande problema neste momento, porque isso realmente impacta o sucesso em longo prazo do emagrecimento”, explicou o dr. Rudolph Leibel, pesquisador de genética e fisiologia da obesidade na Columbia, que participa do estudo. 

Perder peso e não o recuperar são estados metabolicamente diferentes, potencialmente exigindo tratamentos diferentes, disse Leibel. Ele acredita que os resultados do estudo podem ajudar as pessoas que perderam peso com medicamentos e aquelas que optaram por dieta e exercícios.

O corpo é projetado para combater a perda de peso, um antigo mecanismo de sobrevivência, disse Leibel. Quando as pessoas emagressem, sua vontade de comer e restaurar a gordura corporal cresce. Ao mesmo tempo, queimam menos calorias, porque seu metabolismo diminui em resposta ao emagrecimento. 

“É a situação perfeita para a recuperação do peso”, disse Leibel.

Em um ano, os pacientes que pararam de tomar Wegovy ou Zepbound recuperaram mais da metade do peso que perderam. Um grupo de competidores do programa de TV “The Biggest Loser” recuperou, em média, dois terços de seu peso em seis anos, embora alguns não tenham voltado a engordar. 

Mais de dez mil pessoas participam de um estudo de longa duração conhecido como Registro Nacional de Controle de Peso. Elas seguem dietas com poucas calorias e se exercitam regularmente. Mais de 87% não recuperaram ao menos 10% de seu peso corporal por dez anos em uma análise de um grupo de participantes. 

Manter a perda de peso é um desafio em um ambiente de alimentos altamente calóricos e estilo de vida sedentário, disse Graham Thomas, um dos pesquisadores do estudo e professor de psiquiatria e comportamento humano na Universidade Brown. “Trata-se de aprender a viver em nosso ambiente de uma maneira que as pessoas se sintam confortáveis e consigam tolerar”, disse ele.

Uma participante, Heidi Underwood, manteve a perda de 57 quilos por cerca de seis anos. A contadora de 53 anos em Saratoga Springs, Nova York, emagreceu e voltou a engordar várias vezes. Desta vez, ela não estabeleceu uma meta e fez mudanças de estilo de vida gradualmente. 

Começou a caminhar regularmente, depois começou a correr, a fazer remo e musculação. Cortou alimentos prontos, biscoitos e donuts, mas não os proibiu, e começou a comer mais proteínas magras e vegetais. Ela passou a avaliar os alimentos não pelos critérios de bom ou ruim, mas sim pela quantidade de calorias.  

“Descobri que se fizesse uma pequena mudança e a mantivesse, seria fácil prosseguir”, disse Underwood.

Monitores de peso

No novo estudo financiado pelo NIH, os pesquisadores vão coletando uma grande quantidade dados conforme Diaz e outros participantes perdem peso e procuram manter essa perda ao longo de 12 meses. 

Diaz tentou muitas dietas da moda desde a adolescência, mas nunca conseguiu permanecer nelas. Não queria emagrecer com uma droga como o Ozempic. Em agosto de 2023, inscreveu-se no estudo, que primeiramente ajuda os participantes a perder peso com alterações na dieta e exercícios. Ela sentiu que as mudanças de estilo de vida eram mais factíveis do que as versões extremas que havia tentado antes. 

Em março, Diaz havia perdido cerca de 15% de seu peso corporal. Isso foi mais do que suficiente para passar para a fase de manutenção do estudo. 

Durante dois dias, ela enfrentou uma bateria de testes no Centro Médico Irving da Universidade de Columbia. Os pesquisadores extraíram células de gordura e músculos, mediram sua gordura corporal e fizeram uma ressonância magnética funcional que consiste em imagens de seu cérebro enquanto ela olhava para fotos de alimentos e decidia o que comer. Eles querem ver se a atividade em regiões cerebrais específicas se altera ao longo do tempo de uma maneira que influencie na ingestão de alimentos.

Os pesquisadores apresentaram pratos com um total de dez mil calorias em uma grande mesa e se posicionaram em outra sala para assistir a um vídeo feito por um iPhone instalado em uma parede atrás da cadeira em que Diaz estava sentada. O objetivo era ver o que e quanto ela comia e como isso se relaciona com seus esforços de manutenção de peso. 

Com fome após um longo dia de testes, Diaz começou a comer. O cheiro das batatas fritas e a variedade de alimentos a tentavam. Mas ela procurou manter o que havia aprendido durante a perda de peso: controlar porções e comer mais verduras e menos açúcar e gordura. 

Pegou uma garrafa de Snapple, leu o rótulo e a deixou de lado. Não era uma versão diet. Escolheu então a garrafa d’água. 

Diaz comeu o que pôs no prato em cerca de 20 minutos, incluindo algumas batatas fritas, um pouco mais de macarrão com queijo e um Munchkin junto com frutas para sobremesa. “Sou louca por Munchkins”, confessou.

Ela não eliminou nenhum alimento, apenas limitou a quantidade consumida. “[A ideia] é conhecer o corpo e ter uma relação mais saudável com a comida”, disse. 

Diaz está determinada a não recuperar peso e quer perder ainda mais. Seus gostos e vida social mudaram, contou. Ela costumava se encontrar com os amigos para comer; agora eles fazem caminhadas ou andam de bicicleta. 

“Eu meio que tenho dito aos meus amigos e a todos que conheço, não é que estou fazendo uma dieta ou tentando perder peso para um evento específico”, disse ela. “Esta é a minha vida agora.”

Escreva para Betsy McKay em [email protected]

traduzido do inglês por investnews