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Alto consumo de energético por adolescentes aumenta ansiedade, atrapalha as aulas e causa convulsões

Os jovens ficam acordados até tarde, consomem cafeína em excesso e dormem durante a aula

Por Julie Jargon The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Alunos adolescentes e pré-adolescentes em todo o país estão consumindo bebidas energéticas como água. 

Eles geralmente começam o dia com uma lata da bebida depois de ficarem acordados até tarde estudando, jogando ou conversando por mensagens de texto, dizem professores e diretores. E bebem mais ao longo do dia para ficarem alertas na aula, e ainda mais à noite, para fazer a lição de casa. Quando as escolas proíbem as bebidas, os alunos costumam tomá-las antes da aula ou escondê-las em outros recipientes.

Isso pode atrapalhar o aprendizado, a aula e, em alguns casos, causar convulsões. Os alunos visitam regularmente a enfermaria da escola, reclamando de batimentos cardíacos acelerados e ataques de ansiedade depois de consumir várias bebidas energéticas, dizem os administradores. O consumo de cafeína está ligado à alta ansiedade e depressão, que estão aumentando entre os adolescentes.

“Acho que todos estão consumindo algum tipo de bebida energética na minha escola”, diz Jacqueline Rogers, de 17 anos, de Jefferson City, no Missouri. E ela se inclui no grupo. “Usamos cafeína porque estamos sobrecarregados com atividades e aulas.”

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A Academia Americana de Pediatria recomenda que os adolescentes não consumam mais do que 100 mg de cafeína por dia — aproximadamente a quantia em uma caneca de 235 ml de café. Muitos alunos tomam várias vezes essa quantidade. Uma lata de 350 ml de Alani Nu, marca popular entre os jovens americanos, contém 200 mg de cafeína. Outros ingredientes de bebidas energéticas, como ginseng, guaraná e Ginkgo biloba, têm efeitos estimulantes, dizem os médicos.

“Os adolescentes já têm problemas de concentração, com todas as distrações dos celulares e dos Chromebooks. Agora, estão constantemente consumindo bebidas energéticas”, diz Randy Freiman, professor de ciências da Massena High School em Massena, em Nova York. “O coração deles está acelerado e eles não conseguem ficar parados.”

Nos últimos anos, vários alunos tiveram convulsões em sua escola. Todos compartilham uma conexão, diz Freiman: consumiram várias bebidas energéticas no dia da convulsão. 

Iniciadores de convulsões

Na Elkhorn Valley View Middle School, perto de Omaha, em Nebraska, o diretor Chad Soupir estima que 70% dos 700 alunos consomem regularmente bebidas energéticas — e elas nem são permitidas.

Muitos alunos bebem do lado de fora pela manhã e escondem a lata em seu armário. Tantos alunos chegam à administração com batimentos cardíacos acelerados depois de consumir altos níveis de cafeína — cerca de 14 no ano passado — que os administradores agora mantêm água e lanches à mão para reidratá-los e alimentá-los.

Dois anos atrás, um aluno do oitavo ano veio para a comemoração de fim de ano da escola alterado por bebidas energéticas e começou a ter espasmos. Ele desmaiou no refeitório. “Sentei a seu lado e o segurei, e ele cerrou os dentes e tentou relaxar os músculos, mas não conseguiu”, lembra Soupir.

Alani Nu, energético que conquistou os jovens dos Estados Unidos (Divulgação)

Uma ambulância levou o menino para o hospital, onde ele foi tratado com fluidos intravenosos, conta Soupir.

Os professores às vezes precisam acordar os alunos que adormeceram depois que passa o efeito da cafeína. “Você pensaria que veríamos alguns problemas comportamentais, mas não vemos”, diz Soupir. “Vemos apenas alunos desatentos. Eles ficam letárgicos e desmotivados.”

Terri Daniels, diretora da Folsom Middle School em Folsom, na Califórnia, diz que pelo menos um quarto de seus 1.500 alunos consomem regularmente bebidas energéticas. De dois a três alunos em cada um dos últimos três anos tiveram convulsões na escola. Na maioria dos casos, eles mencionaram tomar bebidas energéticas no início do dia. 

“É uma crise silenciosa”, diz ela.

Uma receita para problemas

As bebidas energéticas não são regulamentadas pela Administração de Alimentos e Medicamentos da mesma forma que os refrigerantes e outras bebidas. Um refrigerante típico de 350 ml pode ter no máximo 70 mg de cafeína. As bebidas energéticas, consideradas suplementos dietéticos, geralmente contêm mais que o dobro disso. E não há exigência de dizer na embalagem quanta cafeína há lá — nem em qualquer outra bebida com cafeína que as crianças estejam bebendo.

Um estudo do ano passado sobre eventos adversos à saúde em adolescentes que consumiram bebidas energéticas encontrou uma ligação com convulsões.

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Torree McGowan, médica de emergência na zona rural do Oregon e porta-voz do Escola Americana de Médicos Socorristas, diz que a cafeína pode fazer com que adolescentes sem histórico de convulsões acabem apresentando o quadro. E o estilo de vida noturno dos adolescentes nas redes sociais pode torná-los mais suscetíveis, afirma McGowan. 

“Se eu quisesse tentar induzir convulsões em alguém, privaria a pessoa de sono, mostraria luzes piscantes e lhe daria um monte de cafeína”, diz ela.

Existem outros efeitos graves para a saúde com o consumo excessivo de cafeína, incluindo pressão alta e até ataques cardíacos fatais.

“Eu gostaria de poder dizer que vou parar”

Jacqueline, a adolescente do Missouri, começou a tomar bebidas energéticas há dois anos, depois adicionou pílulas de cafeína quando sua carga horária ficou mais rigorosa. No ano passado, tinha cinco aulas avançadas semanais, esteve envolvida com o conselho estudantil e jogava tênis ou fazia patinação artística depois da escola. Ela costumava ficar acordada até as três da manhã para fazer a lição de casa, levantando-se novamente às 07h30.

Ela bebia um Alani Nu pela manhã, tomava outro à tarde e depois tomava duas pílulas de cafeína à noite para que pudesse fazer a lição. Quando tinha uma grande prova ou projeto, tomava quatro latas, além das pílulas, elevando sua ingestão diária total de cafeína para mais de mil mg.

“Eu ia ao banheiro a cada dez minutos, minha cabeça latejava e meu corpo estava estranho”, diz ela. “Senti meu coração acelerado.”

Seu pai, James Rogers, diz que não sabia a extensão de seu hábito de cafeína. A Alani Nu não comentou.

Ela reduziu o consumo nas férias de verão — algumas latas por semana. E diz que não vai voltar a tomar as pílulas, mas se preocupa com o que acontecerá quando a pressão escolar aumentar novamente.

“Gostaria de poder dizer que pararia de tomar bebidas energéticas completamente”, completou Jacqueline, “mas para ser honesta, acho que posso voltar a tomar de duas a quatro por dia”.

Escreva para Julie Jargon em [email protected]

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