Análise: Fábricas não são o futuro
A participação da manufatura no mercado de trabalho dos EUA caiu 75% desde 1947%. Dali em diante, porém, o PIB per capita subiu 340%
Políticos de todas as correntes prometem restaurar o setor de manufatura ao seu papel histórico como uma fonte de bons empregos para os americanos. Eles culpam parceiros comerciais como China, Alemanha e México por roubar injustamente esses empregos.
Culpam as corporações por terceirizar esses trabalhos. Culpam os sindicatos por dificultar o crescimento das empresas de manufatura. Os democratas culpam os republicanos. Os republicanos culpam os democratas. Os eleitores anseiam por uma era dourada em nosso passado recente, quando a maioria dos americanos tinha empregos bem remunerados e estáveis na manufatura.
Os fatos contam uma história diferente. De acordo com o Bureau of Labor Statistics (Departamento de Estatísticas do Trabalho), a participação da manufatura no emprego caiu de aproximadamente 32% em 1947 para 8% no final de 2023. Uma queda de três quartos; 75%.
Sim, houve um pequeno aumento na taxa de declínio por volta de 2001, quando a China entrou na Organização Mundial do Comércio. Mas é preciso olhar com bastante atenção para ver o efeito. De qualquer forma, esse efeito é trivial em comparação com o longo, lento e inexorável declínio da importância da manufatura como fonte de empregos nos EUA.
O declínio da manufatura foi a catástrofe retratada por vários políticos? De jeito nenhum. O PIB per capita – ajustado pela inflação – aumentou de US$ 15 mil em 1947 para US$ 66.000 em 2023. 340% a mais. A renda disponível real per capita subiu de forma semelhante.
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Portanto, não é fato que nossa prosperidade dependa de a maioria das pessoas trabalhar no setor de manufatura – muito pelo contrário. A tecnologia aumentou dramaticamente a produtividade do trabalho na manufatura.
As montadoras, aqui e no exterior, precisam de muito menos funcionários agora do que precisavam no ano 2000 para fabricar carros melhores do que costumavam. Isso é uma força poderosa que reduz o emprego no setor automotivo – e o mesmo ocorre em muitos outros setores.
A renda per capita não poderia ter aumentado tão dramaticamente se a maioria dos trabalhadores que saíram da manufatura fosse parar em restaurantes de fast-food. Os americanos se mudaram da manufatura para outros tipos de empregos em que sua mão de obra é necessária e seu nível de produtividade permite que seus empregadores sejam competitivos.
Serviços financeiros, medicina, biotecnologia e ensino superior são todos exemplos de indústrias que cresceram dramaticamente ao longo do tempo e impulsionaram nossa prosperidade. O toque final é que bancos e software são grandes ítens de exportação dos EUA.
Mudanças geram custos para algumas pessoas. Comecei minha carreira ensinando na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh. Houve sofrimento real quando a manufatura declinou naquela área. Requalificar um operário de aço de 45 anos para se tornar um engenheiro de biotecnologia é difícil. Os defensores dos mercados livres às vezes esquecem que há consequências políticas reais em ignorar o custo humano das mudanças.
A resposta correta para o desafio envolve pelo menos três iniciativas. Primeiro, o governo deve ajudar materialmente as pessoas afetadas e ajudá-las a encontrar empregos dos quais possam se orgulhar. Segundo, os pais e educadores devem proporcionar às crianças as habilidades que precisam para prosperar num mundo em constante mudança. Terceiro, os políticos devem remover regulamentações desnecessárias e outras barreiras ao crescimento dos setores emergentes da economia.
A resposta errada é ansiar por uma era dourada mítica que nunca existiu. Pittsburgh é agora um centro próspero de educação, pesquisa e serviços de saúde. A cidade não chegou lá tentando trazer de volta os anos 1950.
Martin Eichenbaum é professor de economia na Universidade Northwestern.
traduzido do inglês por investnews