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Câncer de pulmão era sentença de morte. Medicamentos agora salvam vidas

Os tratamentos da Pfizer e da AstraZeneca mantiveram a doença sob controle por meses ou anos

Por Brianna Abbott The wall street Journal
Publicado em
7 min
traduzido do inglês por investnews

Há mais esperança do que nunca para as pessoas diagnosticadas com o câncer mais mortal. 

O declínio do tabagismo e o advento do rastreamento e de novos medicamentos transformaram as perspectivas para os pacientes com câncer de pulmão, antes considerado uma sentença de morte. O progresso contra a doença impulsionou a queda nas mortes gerais por câncer nos EUA nas últimas três décadas.

E há mais ganhos. Mais pacientes podem se defender da doença por meses ou anos com medicamentos direcionados ou que aumentam a imunidade, mostraram resultados divulgados no começo de junho em uma importante conferência sobre o câncer. Isso inclui pacientes com formas da doença que são difíceis de tratar. 

“O prognóstico era péssimo. E agora temos pessoas que nunca pensamos que seriam curadas que estão sendo curadas”, disse a dra. Angela DeMichele, médica oncologista da Penn Medicine.

O medicamento Tagrisso, da AstraZeneca, consegue controlar o câncer de pulmão quase três anos a mais do que a quimioterapia e a radiação sozinhas para alguns pacientes em estágio três, mostrou um estudo. Outro levantamento revelou que alguns pacientes com doença agressiva sobreviveram quase dois anos a mais com o medicamento de imunoterapia Imfinzi, o primeiro avanço para esse subtipo de câncer de pulmão em décadas.

Ainda outro estudo apresentado na conferência da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, em Chicago, descobriu que 60% dos pacientes com doença avançada estavam vivos sem que a doença progredisse por cinco anos depois de tomar o Lorbrena da Pfizer, medicamento que tem como alvo uma mutação genética nos tumores. Isso se compara a apenas 8% dos pacientes com um medicamento mais antigo com o mesmo objetivo. 

“Esses resultados são realmente excelentes”, disse o dr. David Spigel, diretor científico do Instituto de Pesquisa Sarah Cannon, no Tennessee, principal pesquisador do ensaio do Imfinzi. “Um grande passo no tratamento do câncer de pulmão.”

Tagrisso, Imfinzi e Lorbrena são todos aprovados pela Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) e estão em uso.

O Lorbrena manteve o câncer de pulmão em estágio quatro de Matt Hiznay controlado por nove anos. Hiznay, que nunca fumou, foi diagnosticado em 2011 após uma tosse persistente aos 24 anos.

“Quando você ouve isso, envelhece muito rápido”, disse ele.  

Mas houve uma boa notícia: seu tumor testou positivo para algo chamado mutação do gene ALK, uma descoberta rara que o tornou elegível para um medicamento direcionado. O médico de Hiznay apertou-lhe a mão e felicitou-o por ser um mutante. 

Hiznay tentou uma série de medicamentos e terapias mais antigas, incluindo quimioterapia e radiação, ambas contiveram sua doença por algum tempo. Ele se juntou a um ensaio clínico do Lorbrena em 2015 e toma o medicamento desde então. Entre um tratamento e outro, Hiznay fez doutorado, casou-se e teve uma filha. 

“Ficou um pouco mais fácil ver o futuro novamente”, disse Hiznay, que mora em Brecksville, em Ohio. Ele celebra a vida todos os dias, mesmo quando sua filha recém-nascida o acorda no meio da noite.

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Mais de 234 mil americanos são diagnosticados com câncer de pulmão anualmente. É a principal causa de morte por câncer entre homens e mulheres, matando cerca de 125 mil americanos a cada ano. A taxa de sobrevivência ao câncer de pulmão aumentou cerca de 20% nos últimos cinco anos, de acordo com a Associação Americana de Pulmão.

O câncer de pulmão respondeu a medicamentos mais recentes, como imunoterapias, melhor do que alguns outros tipos de câncer, disseram os médicos, em parte porque esses tumores tendem a ter muitas mutações, fazendo com que seja mais fácil encontrá-lo e atacá-lo. 

O Tagrisso tem como alvo mutações no gene EGFR, encontrado em 15% dos cânceres de pulmão nos EUA. Um estudo apresentado na conferência utilizou o Tagrisso após quimioterapia e radiação para pacientes com a mutação cuja doença em estágio três estava muito adiantada para a cirurgia. O tempo médio antes de a doença avançar nesses pacientes era de mais de três anos, em comparação com pouco menos de seis meses para os que não estavam usando a droga. 

Os pacientes no estudo precisarão tomar Tagrisso indefinidamente, em vez dos três anos que muitos tomam o medicamento após a cirurgia. Um passo futuro seria estudar os custos do tratamento de longo prazo e se alguns pacientes poderiam interrompê-lo, disse a dra. Lecia Sequist, especialista em câncer de pulmão do Centro do Câncer Mass General, que não esteve envolvida no estudo. 

Os resultados mostram o quanto o tratamento desse câncer mudou na última década, disse ela.

Outro estudo mostrou progresso raro contra o câncer de pulmão de pequenas células, uma forma menos comum e mais agressiva da doença que é mais difícil de tratar. O Imfinzi da AstraZeneca aumentou a sobrevida média para cerca de 56 meses, em comparação com 33 meses apenas com a quimioterapia padrão e a radiação. O ensaio incluiu pacientes com câncer de pulmão de pequenas células que não haviam se espalhado. 

“Ver algo cujo benefício estamos medindo em anos, não em meses, é um grande passo na direção certa”, disse a dra. Lauren Averett Byers, oncologista de câncer de pulmão do Centro do Câncer MD Anderson, em Houston, que não esteve envolvida no teste. 

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Em maio, a FDA aprovou o Imdelltra da Amgen para o câncer de pulmão de pequenas células avançado. A sobrevida média com a droga foi de 14 meses, com 40% dos pacientes respondendo ao tratamento. 

Cerca de um quarto dos pacientes com câncer de pulmão estão vivos cinco anos após o diagnóstico. Os tratamentos mais recentes podem dar a alguns pacientes com doença avançada meses ou anos a mais para viver, mas o câncer muitas vezes volta e se torna incurável. Muitos cânceres de pulmão são detectados tardiamente. 

“Quando você olha para as estatísticas da doença, tem que ser um pouco humilde”, disse o dr. Pasi Jänne, especialista em câncer de pulmão do Instituto do Câncer Dana-Farber, em Boston. “Ainda temos espaço para progredir.”

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Ao longo dos 13 anos de câncer de pulmão de Hiznay, ele viu muitos colegas pacientes morrerem. “A culpa do sobrevivente está aí, é real”, afirmou ele.

Cinco anos após seu diagnóstico, Hiznay alugou um porão de cervejaria para uma festa “One Percent” (um por cento), comemorando sua vitória contra as chances de sobrevivência em 2011. E fez isso novamente depois de dez anos. Ele planeja mais uma para os 15 anos.

Escreva para Brianna Abbott em [email protected]

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