China se apoia no crédito barato para tentar impulsionar a economia. Pode não ser suficiente
A segunda maior economia do mundo precisa de mais iniciativa privada, não de crédito barato
Talvez, em algum momento, o presidente Xi Jinping ofereça à economia chinesa o estímulo de que realmente necessita, mas terça-feira (24) não foi esse dia. Em vez disso, as famílias e empresas chinesas receberam mais uma rodada de estímulo por meio de crédito, que provavelmente vai se tornar uma decepção.
Não se trata de falta de esforço, já que as medidas anunciadas na terça-feira estão entre as tentativas mais agressivas de estímulo desde a pandemia. O Banco Popular da China (PBOC) está cortando as reservas que os bancos devem manter no banco central, liberando centenas de bilhões de yuans — ou mais — para novos empréstimos. O PBOC também reduzirá uma série de taxas de juros, tanto sobre empréstimos quanto sobre depósitos.
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O que realmente importa para a economia chinesa é o desorganizado mercado imobiliário, e aqui também Pequim quer oferecer mais suporte. As autoridades reguladoras vão reduzir o pagamento inicial exigido para a compra de uma segunda residência de 25% para 15%. O PBOC está expandindo suas garantias de empréstimo para um programa que subsidia empresas estatais a comprar imóveis vagos e convertê-los em habitação social.
Há também crédito direcionado ao mercado de ações. Uma linha de refinanciamento vai subsidiar empresas que recomprarem ações de investidores, e há nova liquidez do banco central para que investidores institucionais, como seguradoras e fundos de pensão, possam comprar ações. Pequim pode estar esperando que um mercado acionário mais aquecido melhore o sentimento dos consumidores, e a bolsa de Xangai, que tem baixa liquidez, disparou mais de 4% na terça-feira.
A questão é se isso será capaz de curar o ciclo de deflação da dívida que aflige a indústria imobiliária, que já foi responsável por um terço da economia. Um colossal processo de desalavancagem está em andamento desde que Xi começou, em 2020, a esvaziar a bolha imobiliária, e o vórtice só cresce. Os primeiros a serem sugados foram os incorporadores, um número crescente dos quais foi à falência ou está próximo disso. Agora, são as famílias que não conseguem escapar. Os preços continuam caindo, apesar dos esforços de Pequim para conter a queda, incluindo o estímulo anterior anunciado em maio.
Essa dinâmica já está enraizada na mentalidade das famílias. Apenas 11% dos moradores urbanos, segundo uma pesquisa do banco central, acreditam que os preços dos imóveis aumentarão no próximo trimestre, enquanto 23% esperam que os preços caiam ainda mais — os menores e maiores percentuais dessas respostas desde o início da pesquisa. Os consumidores permanecem pessimistas, e a fuga de capitais se tornou uma preocupação crônica.
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Pequim estava no caminho certo na terça-feira ao reconhecer que parte da solução é oferecer destinos produtivos para o capital, capazes de sustentar algum crescimento econômico enquanto a correção no setor imobiliário continua. Esse parece ter sido o objetivo das autoridades ao apoiar o mercado de ações.
Mas subsídios para engenharia financeira não vão criar as oportunidades de investimento que a economia chinesa realmente precisa. Somente mais liberdade para inovadores e empreendedores privados pode fazer isso, e Xi se recusa a permitir. Seu ataque prolongado à economia privada — plataformas de tecnologia, aplicativos de transporte, tutorias online e inúmeros outros — não será facilmente esquecido.
A experiência do Japão com deflação imobiliária sem reforma econômica não foi positiva. A economia só voltou a crescer (um pouco) após Junichiro Koizumi e depois Shinzo Abe libertarem o investimento privado. Se Pequim não aprender com esse exemplo, a economia doméstica da China continuará a ter desempenho abaixo do esperado enquanto Xi insiste na política de crédito fácil.
traduzido do inglês por investnews