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Cirurgia de R$ 70 mil para mudar a cor da íris é a nova ‘menina dos olhos’ dos oftalmologistas

A ceratopigmentação pode ser perigosa, alertam os médicos. Pacientes dizem que o risco vale a pena

Por Dominique Mosbergen The wall street Journal
Publicado em
8 min
traduzido do inglês por investnews

Jason Jimenez tinha olhos castanhos quando entrou em uma clínica de Nova York no mês passado. Quando saiu algumas horas depois, os olhos estavam cinza claros.

O corretor de imóveis de 39 anos faz parte de um número crescente de pessoas que decidiram mudar permanentemente a cor dos olhos por meio de cirurgia estética. Muitos médicos dizem que não há comprovação de que a cirurgia seja segura e alertam que pode causar danos permanentes.

Algumas pessoas que passam pelo procedimento dizem querer ter uma aparência melhor e se sentir mais confiantes. Outras o fizeram para se parecerem mais com membros da família. Um jovem mudou um de seus olhos castanhos para azul para copiar seu amado husky siberiano.

Para clarear os olhos de Jimenez, o médico Alexander Movshovich usou um laser para abrir túneis em suas córneas, a camada mais externa do olho. Então, o cirurgião usou uma ferramenta para alargar os túneis e depois preenchê-los com corante. O procedimento, conhecido como ceratopigmentação ou tatuagem da córnea, foi concluído em cerca de meia hora. O efeito foi imediato.

“Vejo isso como um aprimoramento”, disse Jimenez, que mora em Nova Jersey. “As pessoas fazem os dentes, implantes e botox. Se é algo que vai te fazer mais feliz, fazer você ter uma aparência melhor — então por que não?”

Jason Jimenez procurou uma cirurgia plástica para clarear a aparência de seus olhos. Sua cor natural dos olhos era marrom, como mostrado antes da ceratopigmentação. Foto: Emma Rose Milligan/WSJ

Movshovich é um dos poucos médicos dos EUA que oferecem o procedimento. O oftalmologista, que emigrou da Rússia, foi o primeiro médico nos EUA a oferecer ceratopigmentação por razões estéticas. Movshovich abriu sua clínica, a Kerato, no centro de Manhattan em 2019.

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“As pessoas diziam que eu era louco. Mas na Rússia, dizem que se você não é corajoso, não toma champanhe”, contou ele.

Ele fez a ceratopigmentação em cerca de 15 pacientes no primeiro ano. Este ano, está quase chegando em 400 pessoas. Ele cobra US$ 12 mil por cirurgia (cerca de R$ 70 mil) — que não é coberta pelo plano de saúde.

A ceratopigmentação tem uma longa história. Galeno, médico grego que viveu há cerca de dois mil anos, tratou pessoas com córneas turvas queimando a superfície dos olhos antes de aplicar uma variedade de pigmentos, incluindo casca de romã macerada. 

Os médicos ainda usam ceratopigmentação para tratar pacientes com olhos que apresentam problemas. Pode dar àqueles com córneas turvas causadas por infecções ou traumas a aparência de uma íris, a parte colorida do olho. Também pode ajudar a reduzir o excesso de luz que entraria no olho por causa de danos na íris ou na córnea, disse o dr. Roberto Pineda, oftalmologista da clínica Massachusetts Eye and Ear que realiza ceratopigmentação médica há quase 30 anos.

Na década de 2010, médicos na Europa começaram a experimentar o procedimento por razões estéticas. Muitos oftalmologistas dizem ser uma irresponsabilidade que médicos realizem ceratopigmentação em pessoas com olhos saudáveis. Os benefícios podem superar os riscos para pacientes com córneas doentes, mas não há evidências suficientes para dizer o mesmo para pessoas saudáveis, dizem os críticos.

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“Estou muito surpreso que esses cirurgiões estejam fazendo isso nos Estados Unidos. Eles estão assumindo um risco”, disse o dr. Guillermo Amescua, professor de oftalmologia da Universidade de Miami. 

A Academia Americana de Oftalmologia alertou os pacientes em janeiro que a ceratopigmentação cosmética traz “sérios riscos de perda de visão” e outras complicações, incluindo sensibilidade à luz ou infecções bacterianas e fúngicas. A maneira mais segura de clarear a aparência dos olhos é com lentes de contato, segundo a academia.

O Dr. Alexander Movshovich está entre os poucos médicos nos EUA que oferecem ceratopigmentação cosmética. Durante a cirurgia, o pigmento é inserido em túneis cortados na córnea. Foto: Emma Rose Milligan/WSJ

Doze dos 40 pacientes com ceratopigmentação cosmética em um estudo de 2021 publicado na revista Cornea reclamaram de sensibilidade temporária à luz. Cinco pessoas disseram que os pigmentos haviam desbotado ou mudado de cor. Um que já havia feito a cirurgia Lasik — tipo de cirurgia para correção da visão — desenvolveu uma condição que fez com que suas córneas ficassem finas e salientes.

O dr. Brian Boxer Wachler, especialista em córnea que realiza ceratopigmentação cosmética em Los Angeles desde o início de 2024, disse que não houve relatos publicados de ceratopigmentação cosmética causando infecção. Também não houve relatos, segundo ele, de perda de visão em pessoas sem histórico anterior de Lasik.

Lucia Inman-Valero, artista de 36 anos de Indiana, disse que continua sensível à luz depois de passar por duas cirurgias de ceratopigmentação com Movshovich no ano passado. Ela contou que voltou para o segundo procedimento porque queria que seus olhos cor de água realmente chamassem a atenção.

“Não quero que pareçam naturais”, afirmou Inman-Valero.

Jason Jimenez após a ceratopigmentação. Uma foto do iPhone mostra seus olhos com mais detalhes. Foto: Emma Rose Milligan/WSJ

Ela passou meses pesquisando e consultando seu oftalmologista habitual antes de decidir fazer a cirurgia. Afirmou que vê sua aparência como uma extensão de sua arte vibrante, que inclui pinturas hiper-realistas da vida selvagem. Desde sua segunda cirurgia, ela precisa de óculos escuros quando há sol, mas disse que valeu a pena.

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Movshovich disse que alertou Inman-Valero que aumentar a dose de pigmento poderia aumentar a sensibilidade à luz. “Para a maioria dos pacientes que recebem intensidade média ou menos, a sensibilidade à luz desaparece após uma semana”, disse ele. 

A ceratopigmentação é irreversível. Movshovich inventou uma técnica que pode remover algum pigmento logo após a cirurgia, mas os pacientes não podem retornar à cor original dos olhos.

Lasers aprovados pela Secretaria de Alimentos e Medicamentos (FDA, na sigla em inglês) para procedimentos de correção da visão estão sendo usados para a ceratopigmentação. Os pigmentos não foram aprovados nos EUA para uso nos olhos. 

Movshovich disse que compra pigmentos da Biotic Phocea. A empresa francesa vende corantes para ceratopigmentação desde 2010, que são certificados na União Europeia, disse uma porta-voz. 

Os pigmentos usados para ceratopigmentação não foram aprovados pelo FDA para uso nos olhos. Foto: Emma Rose Milligan/WSJ

A ceratopigmentação é mais segura do que a cirurgia cosmética de implante de íris e a despigmentação a laser, que podem mudar permanentemente a cor dos olhos, disse Movshovich. A cirurgia de implante de íris envolve a inserção de uma íris artificial, enquanto a despigmentação a laser remove a cor da íris. A cirurgia cosmética de implante de íris pode causar cegueira e ambos os procedimentos podem danificar os olhos, afirmaram os médicos.

Alahya James, cabeleireira de 21 anos em Connecticut, estava na sexta série quando começou a usar lentes de contato coloridas. James contou que era muito zombada por colegas e que se sentia mais confiante quando usava lentes de contato.

Aos 18 anos, começou a mudar permanentemente sua aparência. Ela recebeu implantes mamários e lentes nos dentes. Passou por dois liftings de glúteos, nos quais a gordura é transferida para as nádegas. Em maio, mudou seus olhos castanhos para verdes por meio de ceratopigmentação. 

Uma foto do iPhone mostra seus olhos com mais detalhes. Foto: Emma Rose Milligan/WSJ

“Foi a melhor decisão que tomei com meu dinheiro”, disse. Ela contou que não experimentou efeitos colaterais duradouros.

James afirmou que a cirurgia estética a ajuda a lidar com suas inseguranças e que está disposta a aceitar os riscos.

“As pessoas dizem que quero atenção. Todo mundo quer atenção. Faço coisas que me fazem ser vista”, disse ela. “Nunca me senti tão bem quanto agora.”

Escreva para Dominique Mosbergen em [email protected]

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