Guerra de tarifas entre EUA e China pode abrir terreno para soja e milho do Brasil
As promessas de Donald Trump de aumentar as tarifas contra a China podem abrir uma fatia do mercado para o Brasil
Uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas deve levar a novas tarifas sobre importações da China, potencialmente fazendo com que os agricultores percam bilhões de dólares conforme o comércio for redirecionado para nações concorrentes, como o Brasil.
O ex-presidente assegura tarifas de 10% a 20% sobre todos os produtos importados — embora este valor prometido tenha flutuado em diferentes momentos durante a campanha do candidato. Trump também ameaça aumentar as tarifas existentes especificamente sobre as importações chinesas para 60%.
Essas novas tarifas podem desencadear uma retaliação da China, que é o maior parceiro comercial da agricultura americana. Reacender a guerra comercial que se alastrou durante o primeiro mandato de Trump pode dar a Pequim mais combustível para encontrar outros fornecedores para suas necessidades agrícolas.
“Se ocorrer uma guerra comercial entre os EUA e a China, a competitividade dos produtos americanos diminuirá em relação aos do Brasil”, disse Ana Luiza Lodi, analista do StoneX Group. “A China buscaria então obter o máximo possível do Brasil, pressionando a demanda e aumentando o valor de produtos brasileiros em comparação com Chicago.”
Em um estudo divulgado neste mês, economistas da Associação Nacional de Produtores de Milho (NCGA, na sigla em inglês) e da Associação Americana de Soja (ASA) avaliam que uma hipotética guerra comercial pode causar danos econômicos semelhantes aos observados durante a primeira guerra comercial de Trump em 2018, com um custo de bilhões de dólares aos agricultores dos EUA.
“Como resultado das tarifas retaliatórias desde meados de 2018 até o final de 2019, as perdas de exportação agrícola dos EUA ultrapassaram US$ 27 bilhões, com a China respondendo por cerca de 95% do valor perdido”, disse o relatório.
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A NCGA e a ASA dizem que, se a China — a principal compradora da soja americana e um dos principais destinos do milho — cancelar a atual isenção de tarifas para a agricultura dos EUA, isso faria com que as exportações de soja dos EUA para o país asiático levassem um tombo de até 16 milhões de toneladas, o que equivale a mais de 50% do volume hoje. As exportações de milho cairiam outros de 84%, ou 2,2 milhões de toneladas. As perdas são ainda maiores se a China instituir novas tarifas retaliatórias em uma nova guerra comercial.
Como na guerra comercial de 2018, é improvável que a agricultura americana encontre novos parceiros em número e tempo suficiente para cobrir essas perdas. “Precisaremos nos concentrar em outros grandes mercados, como o México, para substituir a China, mas o México também corre o risco de enfrentar novas crises comerciais sob o governo Trump”, disse Tanner Ehmke, economista-chefe que cobre grãos e oleaginosas para o credor agrícola CoBank. “O México também se apoiaria mais nas safras sul-americanas para substituir qualquer comércio perdido com os EUA.”
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O México é o principal comprador de milho dos EUA, bem maior que a China. O oposto é verdadeiro para a soja — com a China comprando 24,4 milhões de toneladas de soja no ano comercial de 2023/24 contra 4,8 milhões de toneladas do México.
Tarifas mais altas dos EUA podem impulsionar os esforços de solidificação das relações comerciais entre a China e os países sul-americanos. Isso tem o potencial de afastar ainda mais os agricultores dos EUA dos mercados mundiais, depois que a guerra comercial anterior prejudicou a percepção de confiabilidade dos EUA como parceiro comercial, disse Krista Swanson, economista da NCGA.
O Brasil foi o que mais se beneficiou com a mudança de parceiros comerciais da China. O agronegócio brasileiro cresce de forma constante desde que começou a produzir mais soja do que os EUA em 2012, de acordo com dados do Departamento de Agricultura americano (USDA).
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O USDA disse no ano passado que o Brasil será responsável por quase 61% da participação no mercado mundial de exportação de soja até 2032. Analistas dizem que esse número pode aumentar mais rapidamente com a imposição de novas tarifas.
“Uma vez que a terra é usada na produção agrícola no Brasil, ela permanecerá em produção mesmo após o fim da guerra comercial”, disse Scott Gerlt, economista-chefe da ASA.
Embora uma nova guerra comercial com um segundo governo Trump afete a busca da China por grãos dos EUA, esse apetite pode diminuir independentemente de quem vença em cinco de novembro, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities do StoneX Group.
“As tarifas certamente fazem parte da equação de preços, mas o resultado final é que a China está se afastando da dependência de comprar dos Estados Unidos qualquer que seja o cenário, devido às tensões geopolíticas e ao preço”, disse Suderman.
traduzido do inglês por investnews