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Guerra de tarifas entre EUA e China pode abrir terreno para soja e milho do Brasil

As promessas de Donald Trump de aumentar as tarifas contra a China podem abrir uma fatia do mercado para o Brasil

Por Kirk Maltais The wall street Journal
Publicado em
5 min
traduzido do inglês por investnews

Uma eventual vitória de Donald Trump nas eleições americanas deve levar a novas tarifas sobre importações da China, potencialmente fazendo com que os agricultores percam bilhões de dólares conforme o comércio for redirecionado para nações concorrentes, como o Brasil.

O ex-presidente assegura tarifas de 10% a 20% sobre todos os produtos importados — embora este valor prometido tenha flutuado em diferentes momentos durante a campanha do candidato. Trump também ameaça aumentar as tarifas existentes especificamente sobre as importações chinesas para 60%.

Essas novas tarifas podem desencadear uma retaliação da China, que é o maior parceiro comercial da agricultura americana. Reacender a guerra comercial que se alastrou durante o primeiro mandato de Trump pode dar a Pequim mais combustível para encontrar outros fornecedores para suas necessidades agrícolas.

“Se ocorrer uma guerra comercial entre os EUA e a China, a competitividade dos produtos americanos diminuirá em relação aos do Brasil”, disse Ana Luiza Lodi, analista do StoneX Group. “A China buscaria então obter o máximo possível do Brasil, pressionando a demanda e aumentando o valor de produtos brasileiros em comparação com Chicago.”

Briga comercial entre superpotências tem potencial de turbinar agronegócio brasileiro

Em um estudo divulgado neste mês, economistas da Associação Nacional de Produtores de Milho (NCGA, na sigla em inglês) e da Associação Americana de Soja (ASA) avaliam que uma hipotética guerra comercial pode causar danos econômicos semelhantes aos observados durante a primeira guerra comercial de Trump em 2018, com um custo de bilhões de dólares aos agricultores dos EUA.

“Como resultado das tarifas retaliatórias desde meados de 2018 até o final de 2019, as perdas de exportação agrícola dos EUA ultrapassaram US$ 27 bilhões, com a China respondendo por cerca de 95% do valor perdido”, disse o relatório.

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A NCGA e a ASA dizem que, se a China — a principal compradora da soja americana e um dos principais destinos do milho — cancelar a atual isenção de tarifas para a agricultura dos EUA, isso faria com que as exportações de soja dos EUA para o país asiático levassem um tombo de até 16 milhões de toneladas, o que equivale a mais de 50% do volume hoje. As exportações de milho cairiam outros de 84%, ou 2,2 milhões de toneladas. As perdas são ainda maiores se a China instituir novas tarifas retaliatórias em uma nova guerra comercial.

Como na guerra comercial de 2018, é improvável que a agricultura americana encontre novos parceiros em número e tempo suficiente para cobrir essas perdas. “Precisaremos nos concentrar em outros grandes mercados, como o México, para substituir a China, mas o México também corre o risco de enfrentar novas crises comerciais sob o governo Trump”, disse Tanner Ehmke, economista-chefe que cobre grãos e oleaginosas para o credor agrícola CoBank. “O México também se apoiaria mais nas safras sul-americanas para substituir qualquer comércio perdido com os EUA.”

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O México é o principal comprador de milho dos EUA, bem maior que a China. O oposto é verdadeiro para a soja — com a China comprando 24,4 milhões de toneladas de soja no ano comercial de 2023/24 contra 4,8 milhões de toneladas do México.

Tarifas mais altas dos EUA podem impulsionar os esforços de solidificação das relações comerciais entre a China e os países sul-americanos. Isso tem o potencial de afastar ainda mais os agricultores dos EUA dos mercados mundiais, depois que a guerra comercial anterior prejudicou a percepção de confiabilidade dos EUA como parceiro comercial, disse Krista Swanson, economista da NCGA.

O Brasil foi o que mais se beneficiou com a mudança de parceiros comerciais da China. O agronegócio brasileiro cresce de forma constante desde que começou a produzir mais soja do que os EUA em 2012, de acordo com dados do Departamento de Agricultura americano (USDA).

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O USDA disse no ano passado que o Brasil será responsável por quase 61% da participação no mercado mundial de exportação de soja até 2032. Analistas dizem que esse número pode aumentar mais rapidamente com a imposição de novas tarifas.

“Uma vez que a terra é usada na produção agrícola no Brasil, ela permanecerá em produção mesmo após o fim da guerra comercial”, disse Scott Gerlt, economista-chefe da ASA.

Embora uma nova guerra comercial com um segundo governo Trump afete a busca da China por grãos dos EUA, esse apetite pode diminuir independentemente de quem vença em cinco de novembro, disse Arlan Suderman, economista-chefe de commodities do StoneX Group.

“As tarifas certamente fazem parte da equação de preços, mas o resultado final é que a China está se afastando da dependência de comprar dos Estados Unidos qualquer que seja o cenário, devido às tensões geopolíticas e ao preço”, disse Suderman.

traduzido do inglês por investnews