Em Miami, os empregos são abundantes — mas você pode precisar de dois deles para viver
O Fed quer emprego forte e inflação baixa. A cidade da Flórida mostra o quão difícil é alcançar os dois ao mesmo tempo
A visão mais clara do enigma econômico dos Estados Unidos são as praias ensolaradas de Miami.
A cidade vem crescendo rapidamente e os empregos são abundantes. Mas os preços, especialmente o custo da habitação, subiram tão rápido que os trabalhadores não conseguem acompanhar.
A taxa de desemprego de 2,7% na área metropolitana de Miami está entre as mais baixas do país. Mas a inflação estava mais alta do que em qualquer outra em abril, e os custos de habitação dobraram em apenas seis anos. Os salários vêm subido, mas não o suficiente para acompanhar os preços.
Barbara Aguilar, que mora em Hialeah, subúrbio de classe média no condado de Miami-Dade, teve facilidade para encontrar trabalho. Há dois anos, conseguiu um emprego de professora na área costeira de Aventura. E também encontrou um segundo emprego em um programa pós-escola. Ela agora ganha US$ 65 mil por ano, bem acima dos cerca de US$ 45 mil que ganhava mais perto de casa. O problema: para chegar ao trabalho e voltar, acaba dirigindo mais de duas horas todos os dias.
“Seria mais fácil para mim morar em Aventura e estar mais perto do meu trabalho?”, disse Aguilar. “Sim, mas seria muito mais caro do que dirigir os 45 minutos.”
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Fundos de hedge, empresas financeiras e de escritórios impulsionaram uma corrida do ouro em Miami. Muitos se instalaram aqui durante a pandemia, abandonando suas antigas instalações em Wall Street e fomentando empregos em restaurantes, escritórios de advocacia e paisagistas em todo o sul da Flórida.
Para líderes cívicos e executivos de empresas, é quase óbvio que novos negócios e baixo desemprego são algo a ser celebrado. Mas, quando os milionários chegam, os preços sobem — e muita gente não consegue se virar.
A renda média anual das pessoas que se mudaram para o condado de Miami-Dade em 2021, durante o auge da pandemia, era de cerca de US$ 229,3 mil, de acordo com uma análise dos dados mais recentes da Receita Federal feita por Gay Cororaton, economista-chefe da Associação de Corretores de Imóveis de Miami.
Aqueles que ganham menos, por outro lado, estão se mudando para subúrbios distantes ou até mesmo para fora do estado. A renda média das pessoas que saíam era de cerca de US$ 66,4 mil.
Para a maioria dos trabalhadores que permanecem, o crescimento salarial ainda é bastante lento.
Um estudo da Miami Homes For All, agência sem fins lucrativos que defende a acessibilidade da moradia, descobriu que a maioria das ocupações que mais crescem no condado de Miami-Dade são os empregos de baixa remuneração, incluindo assistentes médicos e auxiliares de saúde domiciliar, cozinheiros e garçons, governantas e funcionários de armazém e entrega.
Dois terços dos cerca de 37 mil empregos sendo criados entre 2022 e 2030 têm um salário por hora de US$ 19 ou menos.
Os salários locais aumentaram 24% desde janeiro de 2018, para uma média de US$ 29,69 por hora. A média nacional, por sua vez, saltou quase 30%, para quase US$ 35 por hora para trabalhadores do setor privado.
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Enquanto isso, o valor médio da casa na região está em torno de US$ 560 mil, ante os US$ 280 mil em janeiro de 2018, de acordo com a imobiliária Redfin. Entre as maiores áreas metropolitanas dos EUA, Miami também tem a maior parcela de inquilinos que gastam mais de 30% de sua renda em moradia, de acordo com um estudo recente do Harvard Joint Center for Housing Studies.
O declínio da acessibilidade das moradias está dificultando a capacidade das empresas da Flórida de atrair talentos, de acordo com o último “beige book” do Federal Reserve – relatório de eventos econômicos de todo o país. Alguns empregadores estão considerando construir moradias para a força de trabalho.
Scott Lamoreaux, agente imobiliário, mora em Brickell, o distrito financeiro da cidade, em um apartamento de 130 metros quadrados no 44º andar de um prédio novo. Quando se mudou de Los Angeles, em 2020, seu aluguel girava em torno de US$ 5 mil por mês. Agora, subiu para US$ 7.500.
Ainda assim, Lamoreaux não consegue se mudar, mesmo que seu aluguel agora represente cerca de 40% de sua renda. Ele gosta da agitação de seu bairro, das vistas deslumbrantes da cidade e de estar a apenas dois quarteirões do escritório e perto de seus amigos.
“Vale o peso em ouro”, disse Lamoreaux.
Sean Snaith, diretor do Instituto de Previsão Econômica da Universidade da Flórida Central, descreveu a região de Miami como o protótipo dos desafios que o Fed enfrenta. Normalmente, taxas de juros mais altas esfriam a demanda e levam a um aumento do desemprego e a uma inflação mais fraca.
“Há uma troca usual entre desemprego e inflação que simplesmente não está acontecendo neste ciclo”, disse Snaith. A experiência de cidades como Miami seria um motivo para o Fed adiar o corte de juros este ano, disse Snaith.
A taxa anual de inflação da região de Miami foi de 4,5% em abril — metade dos 9% registrados um ano antes, mas ainda muito alta para o gosto do Fed.
Afastando-se da praia
Karolina Ortiz, que trabalha com recursos humanos, mudou-se de Dubai no final do ano passado. Ela estava tão ocupada cuidando de seu recém-nascido e fazendo com que seus outros filhos se estabelecessem na escola que negligenciou a mudança de sua localização no LinkedIn para “Miami”. Assim que fez a alteração, em março, as ofertas começaram a aparecer.
Inicialmente, ela esperava trabalhar na mesma empresa em que trabalhava em Dubai, mas a vaga disponível no sul da Flórida pagava muito menos.
“Fiquei chocada”, disse ela. “Os salários são muito baixos para o custo de vida.”
Ortiz deixou de lado sua busca por emprego por enquanto. Encontrar uma casa tem sido praticamente um esforço em tempo integral. Os bairros que ela e o marido originalmente visitavam custavam mais do que queriam gastar. Então, encontraram uma casa nos subúrbios, mais longe de seus parentes.
“Eu preferiria ficar perto da família, mas os altos custos dos imóveis em Miami Beach e do seguro por estar perto do mar nos empurraram para o interior”, disse ela.
Há sinais de que o ritmo acelerado de crescimento em Miami está arrefecendo.
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Os empregadores da área cortaram empregos em tecnologia da informação e as vagas financeiras ficaram estáveis no ano passado, parte de uma desaceleração mais ampla nas contratações de funcionários. Um prédio planejado no centro da cidade não consegue inquilinos suficientes.
Aguilar, a professora, considera-se sortuda. Ela é dona da casa em que mora com sua mãe, e seu segundo emprego permite que contrate uma cuidadora três dias por semana.
Essa auxiliar de saúde, disse Aguilar, é uma imigrante vinda há pouco de Cuba que até recentemente dividia um apartamento de um quarto com o marido, dois filhos e outra família de quatro pessoas.
As escolas costeiras onde Aguilar leciona estão cheias de emigrantes endinheirados da Rússia, Ucrânia e América do Sul. Ela adoraria se mudar para lá, também — um dia.
“Não me importo se tiver de ter um terceiro emprego”, disse Aguilar. “Essas áreas — meu Deus — são lindas.”
Escreva para Harriet Torry em [email protected] e Deborah Acosta em [email protected]
traduzido do inglês por investnews