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G20: Brasil busca ocupar vácuo de poder que os EUA deixaram na América Latina

A democracia e a política econômica sólida estão vacilantes e o Brasil lidera com passos arriscados

Por Mary Anastasia O'Grady The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

No primeiro dia da cúpula do Grupo dos 20 nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, os líderes das maiores economias mundiais lançaram uma iniciativa para derrotar a fome e a pobreza no mundo até 2030. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é o arquiteto da ideia, o que não deixa de ser uma ironia. Suas políticas, externas e internas, desde que assumiu o cargo em janeiro de 2023, correm o risco de levar o país a problemas cada vez mais graves.

O presidente Biden estará presente na cúpula do Rio, embora não esteja claro o valor que ele trará. No fórum da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico em Lima, Peru, na semana passada, o americano, que está no fim de seu mandato, foi ofuscado pelo ditador chinês Xi Jinping e pelo recém-inaugurado porto de Chancay, no Peru — 60% de propriedade da Cosco Shipping da China, financiado por empréstimos bancários chineses e a 80 km ao norte da capital Lima — que foi o assunto da cidade. Na medida em que os Estados Unidos ainda são um ator na região, os membros da APEC e do G20 sabem que eles precisam conversar é com o presidente eleito Donald Trump.

Entre as duas conferências, Biden fez uma parada na Amazônia para enfatizar o alarmismo climático que definiu sua presidência. Isso poderia ter sido feito de casa por muito menos dinheiro, mas visitar a floresta tropical está na lista de desejos de todos.

A democracia latino-americana está em péssimo estado. A crescente influência da China na região está longe de ser o único problema. O maior desafio é a erosão do capitalismo democrático, que em muitos países está sendo substituído pelo nacionalismo e pelo autoritarismo.

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A presidente do México, Claudia Sheinbaum, que assumiu o cargo em 1º de outubro, já deu os últimos retoques em uma tomada de poder iniciada por seu antecessor, Andrés Manuel López Obrador. As emendas constitucionais aprovadas por um Congresso controlado pelo partido Movimento Regeneração Nacional (Morena), da presidente, eliminaram a independência do Judiciário e dos órgãos reguladores de controle que deveriam verificar o alcance do Executivo. O crime organizado tomou conta de grande parte do país. A iminente escassez de eletricidade restringiu o boom do near-shoring americano que antes parecia inevitável. O peso não anda bem.

Venezuela, Bolívia, Honduras, Nicarágua e Cuba são paraísos do tráfico de drogas que também anularam a independência institucional. Em El Salvador, a troca que os cidadãos fizeram — da democracia pela segurança pessoal — é racional, mas provavelmente será dolorosa no longo prazo. O Estado de Direito da Colômbia é muito fraco, assim como sua economia.

O Brasil há muito tempo deseja substituir os EUA como hegemonia regional no continente sul-americano. Mas assumir esse papel requer autoridade moral e peso econômico. Lula arrisca ambos.

Veja a proteção retórica que ele deu ao ditador venezuelano Nicolás Maduro. A vitória folgada do candidato da oposição Edmundo González Urrutia nas urnas foi documentada por observadores de pesquisas venezuelanos e reconhecida pela comunidade internacional. Mas quando a Organização dos Estados Americanos, que tem a missão de defender a democracia na região, realizou uma votação para reconhecer a vitória de González Urrutia, o Brasil se uniu à Colômbia e ao México para garantir que a votação não fosse aprovada. Assim como o apoio de Lula à ditadura cubana, essa é a manifestação do antiamericanismo, e não qualquer crença na legitimidade de Maduro.

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O dinossauro brasileiro da Guerra Fria está se apegando não tanto a ideais utópicos de socialismo, mas a uma ânsia pelo poder que um modelo corporativista altamente centralizado oferece. Ele prefere aliados que não insistam em um governo limitado, como os colegas do grupo Brics — Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo tem como objetivo reduzir o alcance do dólar e das instituições ocidentais nas finanças internacionais e minar as sanções criando seus próprios mecanismos de empréstimo e moedas alternativas.

Lula pode odiar o domínio do dólar, mas ele adora dólares. Sua cúpula no Rio defenderá uma proposta para impor um imposto global sobre a riqueza dos ricos buscando arrecadar cerca de US$ 250 bilhões por ano de 2.800 bilionários. Os recursos devem ser usados para combater as mudanças climáticas e a pobreza. Isso vindo de um político cujo Partido dos Trabalhadores supervisionou o maior esquema de corrupção da história da América Latina.

Enquanto isso, a política econômica de Lula está levando o país a um caminho familiar de república das bananas ao abandonar a austeridade fiscal. O ex-ministro da Economia Paulo Guedes (2019-22) colocou os gastos sob controle cortando a força de trabalho do governo e congelando salários nominais. Agora, “o déficit fiscal do setor público em geral”, informou o Goldman Sachs em 11 de novembro, “está sendo acompanhado por um amplo 9,34% do PIB (de um déficit de 7,5% há um ano)”.

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Essa imprudência está pressionando o real brasileiro. A inflação está em 4,6% no ano. Para mantê-la sob controle, o Banco Central teve de aumentar as taxas de juros para 11,25%. As grandes multinacionais tomam emprestado a taxas em dólar, mas as pequenas e médias empresas brasileiras enfrentam custos locais de crédito muito altos. Isso não é exatamente Lula cuidando dos pequenos.

O mandato de Roberto Campos Neto termina no próximo mês. Lula o está substituindo por Gabriel Galípolo. Os mercados estarão atentos para ver se a independência do Banco Central sobreviverá. Se isso não acontecer, os pobres serão os maiores prejudicados.

traduzido do inglês por investnews