Mal de Parkinson pode ser detectado pela pele
Novo teste identifica o mal de Parkinson por uma proteína em vez de esperar por sintomas que podem levar anos para aparecer
[Publicado originalmente em 20 de março]
Debi Lucas teve um tremor no braço. Seus pés ficaram paralisados quando tentou andar e ela caiu sobre a mesa de centro cortando o lábio.
Ela consultou um neurologista que achou que fosse mal de Parkinson. Os médicos normalmente diagnosticam a condição neurodegenerativa através de sintomas. Lucas, de 59 anos, apresentava-os.
Mas o neurologista, dr. Jason Crowell, não tinha certeza. Os sintomas poderiam estar relacionados a um traumatismo cranioencefálico que Lucas sofreu em um acidente de carro décadas antes, pensou. Ou poderiam se dever aos medicamentos que ela tomava.
Para encontrar uma resposta, Crowell recorreu a um novo teste: uma biópsia de pele que pode detectar uma proteína anormal que as pessoas com Parkinson têm nos nervos. Ele coletou amostras de pele da região do tornozelo, joelho e ombro e as enviou para um laboratório.
Os resultados confirmaram que Lucas tem Parkinson. O diagnóstico foi assustador, mas ela finalmente soube o que estava causando seus sintomas. “Gostei de ter dado um nome a isso”, disse ela.
O exame acelerou seu diagnóstico, disse Crowell, neurologista de distúrbios do movimento do Instituto Norton de Neurociência em Louisville, no Kentucky. “Isso só me dá mais confiança”, completou ele.
O teste cutâneo é uma parte importante do progresso que os pesquisadores estão fazendo contra o Parkinson, a segunda condição neurodegenerativa mais comum relacionada à idade, que está em ascensão e que é um dos principais responsáveis pela incapacidade, demência e morte. O teste que Lucas fez pela CND Life Sciences, empresa de tecnologia médica em Scottsdale, no Arizona, é um dos poucos em uso ou desenvolvimento que permitem que os médicos diagnostiquem o Parkinson com base na biologia, e não nos sintomas que podem levar anos para aparecer.
“O teste da pele é basicamente uma janela para o cérebro”, disse o dr. Joseph Jankovic, professor de neurologia da Escola de Medicina Baylor, em Houston, onde o teste é usado em diagnósticos e pesquisas.
O teste detectou com precisão a proteína alfa-sinucleína anormal em 93% das pessoas que já haviam sido diagnosticadas por seus sintomas de Parkinson, de acordo com um estudo publicado na quarta-feira no periódico “Jama”. Ele detectou a proteína em altas taxas em participantes com distúrbios semelhantes, incluindo a demência por corpos de Lewy.
O teste pode ajudar os médicos a descartar doenças com sintomas semelhantes que podem ser tratadas de forma diferente ou ter prognósticos distintos. Pacientes com sintomas de Parkinson são com frequência diagnosticados erroneamente, de acordo com dados de autópsias, disse o dr. Christopher Gibbons, neurologista do Centro Médico Beth Israel Deaconess, em Boston, e principal autor do estudo. Ele também é conselheiro da CND Life Sciences. Mais de 20% dos participantes do estudo tinham um diagnóstico errado, afirmou ele.
Outro teste busca a proteína no líquido espinhal. Os pesquisadores também estão trabalhando em exames que utilizam sangue, material nasal e lágrimas. O objetivo é detectar a proteína anos antes de as pessoas desenvolverem sintomas, e tratá-las com medicamentos que possam retardar ou parar a doença, explicou o dr. Todd Levine, diretor médico da CND Life Sciences. Estudos sobre detecção precoce com o exame cutâneo estão em andamento, segundo ele.
“Esperamos que, nos próximos anos, existam algumas terapias modificadoras da doença”, disse.
O teste do líquido espinhal pode detectar a alfa-sinucleína em pessoas com um distúrbio de comportamento do sono que é um precursor do Parkinson, disse o dr. Russell Lebovitz, CEO da Amprion, a fabricante do teste. “Podemos dar um diagnóstico muito claro e muito precoce”, afirmou.
O exame cutâneo custa pouco menos de US$ 1.500, mas geralmente é coberto total ou parcialmente pelo seguro, disse Levine. O teste do líquido espinhal custa US$ 1.500 se cobrado do seguro, ou US$ 995 para pacientes que pagam por conta própria.
Pessoas com risco de Parkinson podem ser monitoradas com os exames, disse Mark Frasier, diretor científico da Fundação Michael J. Fox, que forneceu financiamento inicial e trabalhou com a Amprion no teste do fluido espinhal, e que está financiando o desenvolvimento de outros tipos de exames.
“É um distúrbio progressivo em que as células cerebrais vão se perdendo ao longo do tempo”, explicou ele. “Se você intervir o mais cedo possível, é provável que consiga um resultado mais positivo.”
Os testes também ajudam na pesquisa, segundo ele.
O Parkinson ocorre quando as células profundas do cérebro que produzem a dopamina, que coordena os movimentos, se deterioram ou morrem. Os sintomas incluem tremores, rigidez, movimentos lentos e problemas de equilíbrio. Os pacientes também apresentam complicações não motoras, como depressão, distúrbios do sono e dor. A doença geralmente ocorre em idosos, mais frequentemente em homens. Seus números vêm aumentando com o envelhecimento da população, porque o risco de o corpo produzir proteínas anormais aumenta nessa fase.
Contudo, os jovens também a desenvolvem. O ator Michael J. Fox foi diagnosticado aos 29 anos.
Não há cura, mas medicamentos e outros tratamentos ajudam a aliviar os sintomas. As empresas estão trabalhando em tratamentos centrados na alfa-sinucleína ou outras maneiras de retardar o Parkinson. O papel que a alfa-sinucleína desempenha na doença ainda não está claro.
Nem todos os pacientes precisam do exame, disse a dra. Joy Antonelle de Marcaida, diretora médica do Centro de Distúrbios de Movimentos David & Rhoda Chase na Hartford Healthcare. O diagnóstico é claro para muitos a partir dos sintomas, explicou ela.
Mas alguns têm sintomas mais sutis ou outras possíveis explicações, e pode levar tempo para diagnosticá-los. “Tínhamos de pedir que voltassem em seis meses ou um ano para continuarmos a busca”, disse.
Michael Dale descobriu há seis meses que está nos estágios iniciais do Parkinson. Aos 77 anos, morador de Houston, teve problemas de equilíbrio e tremores. Um neurologista da Baylor sugeriu que ele fizesse o teste cutâneo. Foi como uma caneta esferográfica furando a pele, disse ele.
Agora, Dale está fazendo exercícios e monitorando seus sintomas. “Fico ansioso em relação ao futuro”, disse.
Mas gosta de ter um diagnóstico. “Você sabe o que está acontecendo e pode se preparar”, afirmou.
Escreva para Betsy McKay em [email protected]
traduzido do inglês por investnews