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Montar produtos da Apple virou renda extra para BYD

A BYD tornou-se uma das principais montadoras de iPad e colocou cerca de cem mil pessoas para trabalhar para a empresa de Tim Cook

Por Yang Jie The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Os produtos da Apple dizem na caixa “montado na China”, mantendo o mistério de quem faz essas montagens. Mas os proprietários de um novo iPad podem se surpreender ao descobrir que, por trás de uma dessas fábricas, está a maior montadora de veículos elétricos da China.

A BYD, conhecida mundialmente como a mais formidável concorrente da Tesla no segmento de veiculos elétricos, tem um segundo negócio de fabricação de eletrônicos que cresceu a ponto de ser responsável por montar mais de 30% dos tablets da Apple, segundo executivos e analistas do setor.

A empresa chinesa disse que tinha mais de dez mil engenheiros e cerca de cem mil funcionários dedicados à “cadeia da fruta”, o termo local para a linha de montagem da Apple. 

A combinação de montadora e de fabricante terceirizada de eletrônicos faz sentido para os executivos da BYD, que dizem que ambos os negócios se baseiam na competência central da empresa em fabricar dispositivos de precisão com baixo custo. 

A crescente dependência da Apple de duas contratadas sediadas na China — a BYD e a montadora de iPhone Luxshare — mostra a dificuldade de se livrar da fabricação chinesa. O esforço dos EUA para limitar as importações do país provavelmente seguirá firme no segundo governo Trump.

A Apple vem distribuindo as etapas de montagem para países como Índia e Vietnã e, muitas vezes, recorre a parceiros chineses experientes.

“Não poderíamos fazer o que fazemos sem eles”, disse o CEO da Apple, Tim Cook, à mídia estatal chinesa em uma visita a Pequim no final de novembro, sua terceira à China este ano. No primeiro governo Trump, Cook pressionou com sucesso o então presidente americano para isentar os eletrônicos, incluindo o iPhone, de uma tarifa sobre produtos fabricados na China. 

Um veículo elétrico é quase como um smartphone sobre rodas, porque ambos dependem de baterias, chips e software. A mistura de carros e telefones faz cada vez mais parte dos negócios diários na China. A BYD, que significa “build your dreams” (construa seus sonhos) fornece peças e é contratada para fabricar ambos.

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Uma de suas clientes é a Xiaomi, que está entre as principais fabricantes de smartphones a se aventurar neste ano na fabricação de sedãs esportivos. A BYD ajuda a montar os telefones Xiaomi e fornece alguma tecnologia para os carros, disse o fundador da Xiaomi, Lei Jun, em abril, descrevendo o fundador e presidente da BYD, Wang Chuanfu, como um amigo.

Outro cliente da BYD é a Huawei, que fabrica telefones e software para veículos elétricos e às vezes exibe telefones e carros lado a lado em seus showrooms.

Cook, em uma visita a Xangai em março, conheceu Wang, da BYD, no escritório da Apple, onde Wang e sua equipe mostraram a Cook um modelo em miniatura do sistema de produção do iPad. Cook disse nas redes sociais chinesas que a BYD estava entre os fornecedores da Apple que “ultrapassam os limites do que é possível”.

Para a Apple, que abandonou as esperanças de fazer seu próprio veículo elétrico, trabalhar com a BYD ajuda a diversificar seus fornecedores, afastando-a da Foxconn, a empresa taiwanesa que fabrica a maioria dos iPhones e iPads. De acordo com executivos e analistas do setor, a BYD não monta os iPhones do começo ao fim, ainda que esteja assumindo um papel maior em peças desses aparelhos, como a estrutura de titânio.

A BYD disse que também trabalha com a rival da Apple, a Samsung, fornecendo componentes relacionados às dobradiças de alguns dos telefones dobráveis da Samsung.

A BYD foi notícia recentemente quando sua receita no terceiro trimestre de 2024, de cerca de US$ 28 bilhões (cerca de R$ 170 bi) ultrapassou os US$ 25 bilhões (R$ 151,8 bi) da Tesla, a primeira vez que a concorrente chinesa aparece no topo. O feito foi possível por causa da BYD Electronics, braço de fabricação por terceirização da empresa, que teve receita de cerca de US$ 6 bilhões no trimestre.

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Wang, químico de formação, fundou a BYD há três décadas para fabricar baterias, e, em 2008, recebeu um investimento da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, que também investe na Apple.

Em seus primeiros dias, a BYD foi frequentemente acusada de imitação e entrou em litígio com líderes globais como Sony e Foxconn. As batalhas legais entre a BYD e a Foxconn, geralmente envolvendo alegações de roubo de segredos comerciais e de funcionários, datam de quase duas décadas e continuam até hoje.

O relacionamento da BYD com a Apple começou por volta de 2009, quando a chinesa começou a processar componentes eletrônicos. Gradualmente, ganhou a confiança da Apple e passou a fornecer componentes estruturais como metal, vidro, cerâmica e safira, além de outros serviços de montagem.

Em seu relatório anual de 2019, a BYD Electronic destacou um avanço em seus negócios com “uma grande cliente norte-americana”. A empresa conseguiu entrar na cadeia de suprimentos dos principais produtos da cliente e iniciou a produção em massa, um fato que especialistas do setor atribuem à produção de iPads da Apple.

Hoje, a BYD Electronic, listada separadamente na bolsa de valores de Hong Kong, assumiu a responsabilidade por alguns dos trabalhos sensíveis da Apple, como peças de titânio para a estrutura dos modelos mais recentes do iPhone Pro da Apple, disse Ivan Lam, analista da Counterpoint Research. A empresa gosta de se gabar de que seus robôs podem esculpir padrões na superfície de uma casca de ovo sem quebrá-la.

A companhia usou aquisições para se expandir, incluindo a compra de instalações da Jabil, fornecedora norte-americana da Apple, em duas cidades chinesas no ano passado por cerca de US$ 2 bilhões. 

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Uma das responsabilidades da BYD é ajudar a Apple a diversificar sua fabricação centrada na China, além de ajudar a empresa americana em países como o Vietnã. A BYD já fabrica smartphones na Índia para marcas como a Xiaomi e pode se expandir caso a Apple necessite, disse Lam, da Counterpoint.

A BYD disse que sua próxima grande aposta será desenvolver robôs para fábricas movidos a IA junto com a Nvidia.

“É como se estivéssemos criando muitos peixes em uma lagoa e, honestamente, não temos certeza qual área do mercado amadurecerá no futuro”, disse o executivo de baterias da BYD, Wang Haoyu, em um evento este ano, citando a filosofia do fundador da empresa. “Quando um peixe amadurece, podemos pescá-lo.”

Escreva para Yang Jie em [email protected]

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