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Não há jeito fácil de parar de tomar Ozempic

Quem para de tomar o remédio corre o risco de recuperar peso, mas ficar com ele indefinidamente não é uma opção realista

Por Sumathi Reddy The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

[Publicado originalmente em 22 de fevereiro de 2024]

O que acontece se você tiver que interromper o uso de drogas para emagrecer?

Essa é uma preocupação crescente para os milhões de americanos que tomam esses medicamentos, incluindo o Wegovy, o Zepbound ou o Ozempic. Os planos de saúde patronais estão ampliando as exigências ou encerrando a cobertura. E os cupons de desconto dos fabricantes para suprimentos iniciais de medicamentos estão expirando, fazendo com que as pessoas tenham que desembolsar cerca de US$ 1 mil por mês sem seguro. 

Para os pacientes, isso pode ser um dilema. Eles têm que ficar indefinidamente com os medicamentos, conhecidos como GLP-1, ou arriscar recuperar o peso, de acordo com muitos médicos. Porém, para muita gente, tomar uma medicação para sempre não é uma opção realista. 

Diante dessa situação, alguns estão tentando mudar para um GLP-1 diferente para ver se o seguro mantém a cobertura. Outros estão procurando tratamentos antiobesidade mais antigos ou encontrando versões mais baratas em farmácias de manipulação. 

Nenhuma opção é perfeita. Medicamentos mais antigos não funcionam tão bem, e os médicos se preocupam com a segurança e a qualidade de versões mais baratas. 

Christine Hayworth, de 41 anos, em Long Beach, na Califórnia, perdeu cerca de 60 quilos em um ano com um GLP-1. Mas, no final do ano passado, parou de tomá-lo quando seu cartão de descontos do fabricante expirou. 

Em um mês e meio sem as drogas, recuperou de oito a dez quilos. Por fim, conseguiu a aprovação do seguro para o Wegovy e voltou a perder peso, contou ela.

“Entrei em pânico e, durante esse tempo, foi como se meu corpo estivesse em espiral. Tive muito sucesso. E se tudo voltar ao que era antes?”

Obtendo aprovação

Um estudo de 2022 comumente citado, financiado pela Novo Nordisk, fabricante do Wegovy e do Ozempic, descobriu que os pacientes recuperaram dois terços do peso perdido um ano depois de pararem de tomar a semaglutida, o principal componente dos medicamentos. O Wegovy é aprovado para o tratamento da obesidade. O Ozempic é aprovado para diabetes tipo 2, mas muita gente o toma para perda de peso.

As pessoas normalmente atingem o pico de perda de peso e o platô entre seis e nove meses depois de começar a tomar um GLP-1, diz a Dra. Caroline Apovian, co-diretora do Centro de Controle de Peso e Bem-Estar do Hospital Brigham and Women’s, em Boston.

Os médicos afirmam que ficou mais difícil para os pacientes conseguirem a cobertura desses medicamentos, pois os planos de saúde estão mais preocupados com os custos. Os problemas de cobertura afetam principalmente as pessoas que tomam os medicamentos para perda de peso, não para controlar o diabetes tipo 2, explicam os médicos.

Em 2022, cerca de 60% das prescrições eram aprovadas pelas seguradoras, diz a dra. Myra Ahmad, executiva-chefe da clínica de obesidade por telessaúde Mochi. Agora, a taxa caiu para 25% a 30%, diz. 

A recuperação do peso é gradual no início, depois volta com mais força, explica ela. 

Se você perder o acesso a um medicamento, é possível pedir que seu médico indique outro para facilitar a aprovação do seguro. Então, se tomava o Wegovy, por exemplo, pode tentar obter cobertura para o Zepbound.

Há também medicamentos antiobesidade mais antigos, mas eles não são tão eficazes e podem ter mais efeitos colaterais, além das drogas para outros fins que são tomadas para perda de peso, como a metformina, medicamento para diabetes.

Foto: Adobe Stock

Muitas vezes, os pacientes têm que tomar vários medicamentos, bem como tentar mudar sua dieta e hábitos de exercício, explica a Dra. Amanda Velazquez, diretora de medicina da obesidade do Centro Cedars-Sinai para Controle de Peso e Saúde Metabólica, em Los Angeles.

Ter uma dieta rica em proteínas, ficar longe de alimentos ultraprocessados e adicionar treinamento de resistência aos exercícios também ajuda, avisa Apovian.

Outra possibilidade é a cirurgia bariátrica, que pode resultar na perda de até 35% do peso corporal em longo prazo, completa Apovian. Essa é uma boa opção para pessoas que precisam perder mais de 20% do peso corporal, segundo ela.

Estratégias para parar

Os médicos dizem que mais pesquisas são necessárias para determinar a melhor maneira de interromper o uso dos medicamentos. Se possível, o ideal é reduzir a dosagem do GLP-1 gradualmente ao longo do tempo, diz o dr. Dan Azagury, diretor médico da Clínica Stanford de Estilo de Vida e Controle de Peso.

“Se fizer isso abruptamente, é praticamente garantido que vai recuperar peso”, diz ele. “Às vezes, a fome volta de forma significativa, e é muito difícil lutar contra isso se você parar da noite para o dia.”

Ele também recomenda aumentar significativamente a rotina de exercícios e praticar os mais intensos seis dias por semana. 

Se o seu corpo está em um peso saudável por algum período — provavelmente pelo menos um ano ou mais — pode ser possível sair das drogas em algum momento, diz a Dra. Lydia Alexander, diretora médica da Enara Health, startup de telessaúde especializada em obesidade na área de São Francisco. Mesmo assim, sair das drogas provavelmente será muito mais difícil para alguém que tem obesidade há anos em comparação com alguém que ganhou peso recentemente, acrescenta ela.

Ken Chinavare, mecânico de aviões de 53 anos na área de Detroit, parou de tomar Wegovy no ano passado depois de perder mais de 30 quilos com a medicação e estava confortável com seu peso. No último ano, recuperou a maior parte do peso. Agora, está pensando em voltar a tomar um GLP-1. 

“A volta dos quilos me fez mal psicologicamente. É desanimador. Enquanto usava o Wegovy, me sentia normal. Não ficava constantemente pensando em comida.”

traduzido do inglês por investnews