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O grande problema das empresas de maconha é o que fazer com tanto dinheiro

Poucos bancos trabalham com startups de cannabis, mas alguns legisladores esperam mudar isso este ano

Por Alexander Saeedy The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Clayton Taylor recebeu recentemente uma ligação urgente: um distribuidor de maconha precisava que ele transportasse US$ 400 mil pela Califórnia. 

Taylor não é uma mula de drogas — ele dirige uma empresa que fornece serviços de segurança para empresas legais de cannabis. A conta bancária de um cliente havia sido congelada e, no dia seguinte, vencia a folha de pagamento. Taylor poderia transportar o dinheiro que a empresa havia guardado para pagar seus cerca de cem funcionários? 

Ele e outros dois guardas armados pegaram as notas de US$ 20 e US$ 100 que estavam em uma mochila. Passaram a noite em um hotel, a mala nunca saiu de sua vista, e entregaram o dinheiro no dia seguinte.

Embora a maconha agora seja legal de alguma forma na maioria dos estados dos EUA, muitos bancos não fazem negócios com empresas de cannabis porque a droga continua ilegal em nível federal. Grandes redes de cartões de crédito, como Visa e Mastercard, dizem que não processam transações relacionadas à maconha pelo mesmo motivo.

Alguns bancos menores começaram a oferecer serviços para essas empresas, mas os clientes dizem que podem não ser confiáveis. Isso faz com que as empresas de cannabis desperdicem quantidades excessivas de tempo, além dos gastos, movimentando dinheiro. 

“Para as empresas que estão ganhando tanto dinheiro, essa abordagem financeira é primitiva”, disse Taylor. No caso de seu cliente, o banco posteriormente fechou a conta, ocorrência comum quando instituições financeiras descobrem vínculos com a indústria da maconha.

Mas isso pode mudar em breve.

Várias vezes ao longo dos anos, os legisladores da Câmara aprovaram um projeto de lei bipartidário que facilitaria a abertura de conta para clientes de cannabis. O Senado nunca votou sua versão, mas deve fazê-lo este ano, deixando seus defensores mais otimistas do que nunca.

Os proprietários de empresas legais de maconha há muito argumentam que o sistema atual empodera os traficantes ilegais, que ainda vendem a maior parte da erva no país.

“Não há capital bancário para a indústria regulamentada de cannabis, e também não há muito banco real”, disse Tahir Johnson, ex-consultor financeiro em Nova Jersey que está se preparando para abrir um dispensário de cannabis em maio. 

Um dilema para os bancos

Desde 1970, o governo federal classifica a maconha como uma substância controlada, colocando-a no mesmo patamar de drogas ilegais como heroína e LSD. Isso fez os bancos evitarem trabalhar com empresas de maconha licenciadas pelos estados, porque correm o risco de serem acusados de lavagem de dinheiro ou de violarem leis de sigilo bancário, além de facilitar o comércio ilegal de drogas. 

À medida que mais estados começaram a legalizar a droga, o Departamento do Tesouro em 2014 esclareceu que os bancos podem trabalhar com empresas de maconha, desde que verifiquem suas licenças estaduais e registrem relatórios de atividades suspeitas de cada transação que fizerem. Essas exigências onerosas desencorajaram muitos, embora algumas cooperativas de crédito e bancos menores tenham começado a oferecer serviços. 

Pouco mais de 10% de todos os bancos nos EUA relataram trabalhar com empresas relacionadas à maconha no ano passado, o que pode ser verificado nos dados do Departamento do Tesouro. Esse número pode incluir bancos que trabalham apenas com empresas de cânhamo, que não são ilegais no âmbito federal. 

Fechamento de contas bancárias de negócios relacionados à maconha nos EUA

Grandes bancos como JPMorgan Chase, Bank of America e Wells Fargo continuam dizendo que não abrem conta para empresas de maconha porque é contra a lei federal. 

Outros — tipicamente bancos menores em busca de clientes — estão cada vez mais dispostos a aceitar os custos adicionais das empresas de cannabis. O Valley Bank, com sede em Morristown, Nova Jersey, começou a oferecer serviços bancários para cultivadores legais e dispensários de cannabis em 2020.

“Seguimos o dinheiro para garantir que o cliente esteja em conformidade com a lei”, disse Caroline Colone, ex-investigadora de fraudes do Valley Bank que agora chefia sua divisão de cannabis.

Poucas opções para empresas

Johnson, morador de Nova Jersey, conseguiu uma licença em 2022 para iniciar um dispensário de maconha em seu estado. Ele, que tem 40 anos, abriu uma conta comercial no Bank of America, onde planejava reunir cerca de US$ 3,5 milhões para investir na compra de propriedades e na construção de um dispensário nos arredores de Trenton.

 

 Créditos: Hannah Yoon para o Wall Street Journal

Contudo, meses depois da captação de recursos, o banco lhe disse sua conta corporativa e uma conta pessoal que ele mantinha lá seriam fechadas. A carta de notificação avisava que ele tinha 30 dias para retirar o dinheiro, sem dar um motivo, contou ele. Johnson suspeita que foi porque o banco descobriu que ele estava montando um negócio de maconha. 

O Bank of America não quis comentar. Os bancos relataram o fechamento de quase oito mil contas vinculadas a negócios relacionados à maconha no ano passado, de acordo com dados do Tesouro. 

Desde então, Johnson encontrou um pequeno banco no Arkansas chamado Central Bank que abriu sua conta remotamente. Ele paga uma taxa de manutenção mensal de US$ 500 e mais 0,5% em qualquer depósito. Quando precisa fazer um depósito em dinheiro, o banco envia um caminhão blindado — cujo custo ele tem de cobrir. 

Porcentagem de bancos que oferecem serviços para negócios relacionados à maconha

Esforços dos legisladores

A Câmara aprovou um projeto de lei bipartidário sete vezes nos últimos cinco anos, que permitiria que os bancos trabalhassem com empresas de maconha. Mas uma versão equivalente do projeto de lei nunca saiu do comitê do Senado americano — exigência antes que algo chegue ao plenário para votação.

O líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, disse em março que planeja a votação para este ano. O Senador pelo Oregon, Jeff Merkley, autor do projeto, está explorando como aprovar uma versão equivalente na Câmara.

“Esse projeto de lei porá fim à ‘área cinzenta’ legal em que os bancos têm que se colocar para fazer negócios com empresas de maconha”, disse Merkley em entrevista.

Ele contou que se convenceu de que as leis precisavam mudar depois de viajar com o executivo-chefe de uma empresa de cannabis do Oregon para pagar seus impostos em Salem, a capital do estado.

Eles tiveram de passar por três níveis de segurança com verificações policiais em cada quarteirão, enquanto milhares de empresários semelhantes vinham para a capital com milhões de dólares em dinheiro para o pagamento de impostos.

“O sistema existente é falho em todos os níveis. Não faz sentido algum”, garantiu Merkley.

Escreva para Alexander Saeedy em [email protected]

traduzido do inglês por investnews