Uma seleção semanal do jornalismo mais prestigiado do mundo
Presented by

O que é preciso saber sobre os carros híbridos

Vendas de carros elétricos não correspondem a algumas expectativas, mas as dos híbridos decolam. Entenda

Por Bart Ziegler The wall street Journal
Publicado em
13 min
traduzido do inglês por investnews

Há apenas um ano, a indústria automotiva era quase unânime na sua mensagem: os carros elétricos são o futuro e vão dominar o mercado mais cedo do que você imagina.

Agora, esse otimismo parece ter sido prematuro. Embora as montadoras continuem lançando novos modelos de carros elétricos — aqueles que funcionam inteiramente com baterias e não têm motor movido a gasolina —, o crescimento das vendas diminuiu drasticamente, já que os consumidores não estão comprando esses itens tão rápido quanto a indústria esperava. Os carros elétricos não vendidos estão se acumulando nas concessionárias, apesar da diminuição de preços. 

O que aconteceu? Muitas pessoas temem que a escassez de estações de carregamento públicas e a autonomia limitada dos carros elétricos possam deixá-las na mão com uma bateria descarregada. Depois de encontrar um carregador, leva muito mais tempo para reabastecer as baterias do que um tanque de gasolina. E a maioria dos EV’s ainda custa mais do que carros com motor a gasolina semelhantes, especialmente porque muitos modelos perderam seus incentivos fiscais este ano. 

LEIA MAIS: Carro elétrico: a vida útil da bateria corrói mesmo o valor de revenda?

Em vez disso, mais compradores que buscam reduzir seu gasto com gasolina ou suas emissões de gases de efeito estufa se voltam para uma tecnologia que já existe há um quarto de século: os veículos híbridos, que combinam baterias e motor elétrico com um motor a gasolina com combustão interna convencional. As vendas de híbridos nos EUA superaram as de veículos elétricos em 2023, cerca de 1,4 milhão para 1,2 milhão, de acordo com a Cox Automotive, fornecedora de informações e tecnologia para a indústria automotiva. Em resposta, as montadoras planejam produzir mais híbridos.

Mas quão práticos são esses modelos? Os compradores economizarão dinheiro? E qual variação híbrida é melhor? Abaixo, respondemos a essas e outras perguntas.

Como funcionam os carros híbridos?

Na maioria dos carros híbridos, tanto o motor a gasolina quanto um motor ou motores elétricos podem fazê-los funcionar. O motor também aciona um gerador de eletricidade. A eletricidade alimenta um conjunto de baterias, que, por sua vez, faz funcionar o motor.

Além disso, a maioria dos híbridos recarrega a bateria de outra forma: quando você tira o pé do acelerador ou pisa no freio, o carro inverte a direção do motor elétrico, o que tanto diminui a velocidade do veículo quanto transforma o motor em um gerador de eletricidade. Esse processo é chamado de frenagem regenerativa. Mas esse tipo de híbrido, a variante mais comum, não pode ser ligado na tomada para reabastecer a bateria. 

A eletrônica sofisticada descobre qual dos motores, o elétrico ou o a combustão — ou ambos simultaneamente em alguns modelos —, é o responsável por mover o veículo em um dado momento.

Isso parece complicado. Qual é o ponto?

Os híbridos percorrem mais quilômetros por litro de gasolina porque não estão queimando combustível o tempo todo — o motor a gasolina pode desligar enquanto a bateria e o motor elétrico trabalham, normalmente em velocidades mais baixas, na estrada ou na cidade. Além disso, como o motor elétrico pode auxiliar o motor a gasolina, este pode ser menos potente do que em um carro similar movido somente a gasolina e, portanto, mais eficiente em termos de combustível. 

A quilometragem alcançada por um híbrido é melhor do que a de um carro comum movido a gasolina?

Pode ser dramaticamente melhor, cerca de 40% a mais em média do que os veículos somente a gasolina, de acordo com o Consumer Reports. 

O sedã híbrido Toyota Camry mais eficiente faz 22 quilômetros por litro na combinação cidade/estrada, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental — quase 63% a mais que o Camry não híbrido mais eficiente, com 13 km/l. O SUV híbrido Hyundai Tucson Limited faz 16 km/l, 32% melhor do que os 12 km/l do não híbrido.

O Departamento de Energia dos EUA oferece uma ferramenta para comparar, em milhas por galão, as versões híbridas e não híbridas do mesmo modelo.

Existem outras vantagens dos híbridos?

Muitos aceleram mais rapidamente do que seus equivalentes movidos a gasolina. E são mais silenciosos em baixa velocidade quando funcionam apenas com bateria. “Eles tendem a ser um pouco mais agradáveis do que seus equivalentes movidos apenas a gasolina”, diz Alex Knizek, gerente de testes e insights de automóveis da Consumer Reports. E, apesar de seu motor mais complicado, podem ser mais confiáveis do que veículos convencionais semelhantes, acrescenta.

Além disso, ao contrário de um EV, “não há mudança na experiência do consumidor”, diz Stephanie Valdez Streaty, diretora de insights do setor da Cox Automotive. “Não preciso me preocupar com o carregamento, nem ter ansiedade com relação ao alcance.”

Fatias de mercado dos carros alternativos

Então, o que não é bom em um híbrido?

A maioria custa mais do que os modelos com motor a gasolina, até 20% a mais, de acordo com o site de compras de carros Edmunds, embora sejam mais baratos do que os carros totalmente elétricos. Por exemplo, o preço base do Honda CR-V Hybrid, de US$ 34.050, é cerca de 15% maior que o do CR-V a gasolina. A Honda não fabrica o CR-V elétrico, mas um SUV elétrico de tamanho semelhante, o Volkswagen ID.4, custa a partir de US$ 39.735.

Mas esse preço está caindo à medida que os custos das baterias e de outros componentes dos híbridos diminuem. “Acho que continuaremos a ver os híbridos mais caros baratearem”, diz Valdez Streaty. No entanto, não há incentivos fiscais federais ou estaduais para esses tipos.

Alguma outra desvantagem dos híbridos?

Isso não é necessariamente uma desvantagem, mas uma peculiaridade: eles obtêm melhor quilometragem na cidade do que na estrada — o oposto de carros com motor a gasolina.

Por exemplo, o Lexus RX híbrido faz 15,5 km/l na cidade, mas apenas 14,2 km/l na estrada. Portanto, se a maior parte do seu uso diário é na estrada, você não verá o mesmo benefício de eficiência que aqueles que o usam principalmente na cidade.

O que está por trás da menor eficiência na estrada?

O motor que usa gasolina costuma rodar a maior parte do tempo na estrada, já que o motor elétrico por si só não é potente o suficiente para manter altas velocidades.

Posso recuperar o custo extra de um híbrido com a economia de gasolina?

Muitos proprietários conseguem isso dependendo de quanto tempo mantêm o carro e, particularmente, se dirigem principalmente na cidade. A Consumer Reports diz que o período médio de retorno é de quatro anos, enquanto a gasolina custar cerca de US$ 1,00 o litro e o veículo andar 20 mil quilômetros por ano. Quanto mais quilômetros você rodar ou quanto mais cara for a gasolina, mais cedo será o retorno. 

Então, devo considerar um híbrido, mesmo dirigindo principalmente na estrada? 

Possivelmente, porque a maioria desses carros tem melhor quilometragem na estrada do que um veículo similar apenas a gasolina. Mas o período de retorno pode ser muito mais longo do que para outros motoristas. 

Estou confuso com os “híbridos plug-in” que algumas montadoras vendem. Quais são eles?

Os híbridos plug-in, que a indústria chama de PHEVs, também combinam um motor a gasolina com um motor ou motores elétricos. Mas sua bateria é muito maior e, portanto, retém mais eletricidade. E, ao contrário de um híbrido comum, você pode conectá-los a uma tomada ou carregador público para reabastecer a bateria, assim como em um EV. 

Qual a vantagem dos híbridos plug-in?

A capacidade adicional da bateria significa que eles podem percorrer certa distância apenas no motor elétrico, variando de 24 a 80 ou mais quilômetros, dependendo do modelo. Assim, na cidade ou em viagens curtas, pode parecer um EV, com seu motor silencioso e sem emissões. Quando a bateria estiver quase vazia, o motor a gasolina assume o controle e o veículo opera como um híbrido normal, então não há preocupação em ficar parado. 

A autonomia elétrica significa que podem fazer maior quilometragem com gasolina em uma viagem do que um híbrido comum, mas isso depende da duração da viagem — menos tempo de estrada aproveita mais a autonomia elétrica antes que o motor a gasolina seja acionado — e se o carro está sendo usado na cidade ou na estrada. Conectá-los em carregadores públicos de vez em quando enquanto estiver na estrada também aumenta a quilometragem.

Essa eficiência é uma das razões pelas quais as montadoras planejam construir mais plug-ins para ajuda-las a cumprir as regulamentações federais e estaduais.

O que mais pode me convencer a comprar um modelo plug-in?

Alguns se qualificam para um crédito fiscal federal de até US$ 7.500, e certos estados também subsidiam plug-ins. Entre os modelos elegíveis para um crédito federal estão o Ford Escape Plug-In Hybrid e o Jeep Grand Cherokee 4xe. No entanto, pode haver restrições de renda para esses créditos. O leasing de um plug-in pode ser outra forma de obter o valor do crédito tributário federal, já que a empresa de leasing fica com o crédito e pode repassá-lo ao cliente.

Há desvantagens nos híbridos plug-in?

Sim. Sem um incentivo fiscal, a maioria custa mais do que os híbridos comuns — o SUV plug-in RAV4 Prime da Toyota tem um preço base de US$ 43.690, em comparação com os US$ 31.725 do RAV4 híbrido regular. E em climas muito frios, é provável que um plug-in fique sem bateria mais rápido do que a autonomia declarada, a mesma falha que afeta os EVs.

Além do mais, uma vez que a bateria esvazia, a quilometragem pode ser mais baixa do que a de um híbrido comum, especialmente na estrada. Isso porque as baterias extras dos plug-ins pesam centenas de quilos a mais, consumindo mais combustível do que um híbrido comum quando no modo apenas a gasolina.

O que mais devo saber sobre plug-ins?

O recurso plug-in traz os mesmos problemas de carregamento que os proprietários de veículos elétricos enfrentam: você precisa de pelo menos uma tomada elétrica padrão perto de onde estaciona. E se não conseguir instalar uma tomada de 240 volts em casa, algo que pode custar desde centenas de dólares até mais de US$ 1 mil, encher a bateria pode levar cerca de 12 horas.

Além disso, é preciso lembrar de ligar na tomada — coisa com a qual alguns donos de plug-in não se incomodam, já que os carros funcionam bem com gasolina. Claro, isso significa que você não terá a economia total de gasolina, então o preço mais alto pode ser um desperdício.

Venda de veículos híbridos mais populares nos EUA em 2023

Dado o preço mais elevado, quem deve considerar um híbrido plug-in?

Isso depende de vários fatores. Você tem uma tomada disponível em casa ou no trabalho? O uso diário do seu carro geralmente está dentro da faixa de uso da bateria, ou perto dela, o que acelerará o retorno do valor adicional? E você mora em uma área com preços moderados de eletricidade, mas altos preços de gasolina, o que também faz com que o retorno do seu investimento seja mais rápido? 

A EPA (Agência de Proteção Ambiental) conta com uma calculadora que ajuda os consumidores a descobrir quanto economizariam em gasolina e gastariam em eletricidade com um plug-in.

Então, qual tipo de sistema veicular garante os menores gastos com combustível?

Geralmente é um VE, embora existam variáveis, incluindo os preços da gasolina e da eletricidade, além de seus hábitos de utilização do automóvel.

Eis aqui uma comparação feita pela EPA dos custos médios anuais de combustível, com base em 24 mil quilômetros de uso, para várias versões do SUV RAV4 da Toyota: para a versão com motor a gasolina, US$ 1.700 a US$ 1.750; para a versão híbrida, R$ 1.300; e para a versão híbrida plug-in, R$ 950. Não há RAV4 totalmente elétrico, mas o Volkswagen ID.4 AWD de tamanho semelhante precisa de US$ 750 por ano em eletricidade.

Algumas montadoras oferecem “híbridos leves”. Quais são?

Esses veículos têm um motor elétrico e bateria menores do que dos híbridos comuns, que são usados quase inteiramente para complementar a potência do motor a gasolina em vez de mover o carro de forma independente. Alguns podem desligar o motor enquanto você desacelera o carro e roda brevemente com a bateria, e usar a frenagem regenerativa para recarregar a bateria, como um híbrido. E em veículos com recurso start-stop, que desliga o motor ao parar no semáforo, o carro volta a andar com a energia da bateria por um curto período antes que o motor seja reiniciado. Esses recursos podem elevar a classificação km/l do veículo, outro incentivo para os esforços das montadoras para atender às exigências do governo. 

Quais são as desvantagens dos híbridos leves?

Eles não andam apenas com o motor elétrico, só intermitentemente, o que significa que não são tão silenciosos como um híbrido regular ou plug-in no modo apenas bateria. E nem de perto fornecem a eficiência desses híbridos em termos de consumo de gasolina.

Então, o que é melhor para o meio ambiente, qualquer tipo de híbrido ou um VE?

É complicado. Embora os híbridos usem menos gasolina do que os carros comuns em geral e, portanto, suas emissões de gases de efeito estufa sejam menores, eles ainda poluem enquanto estão no modo a gasolina. Alguns grupos ambientalistas têm pressionado as montadoras que promovem as vantagens verdes dos híbridos. 

Os veículos elétricos, por outro lado, não geram poluição por si só. Mas a eletricidade usada para carregar suas baterias pode vir de usinas a carvão ou gás, que contribuem para o aquecimento global; portanto, na verdade, também não são totalmente limpos nesses casos.

Bart Ziegler é ex-editor do Wall Street Journal. Ele pode ser contatado em [email protected].

traduzido do inglês por investnews