Os adultos que planejam suas férias com base em… Pokémon?
Boomers, recém-casados e celebridades estão entre os viajantes que escolhem destinos onde podem “capturar” monstrinhos digitais
Durante uma viagem no ano passado a San Diego, Eduardo Tanner recebeu um alerta incomum. Às três da manhã, sua então namorada o acordou para um tipo peculiar de expedição, quase como uma observação de pássaros. Em vez de binóculos e um guia de campo, eles pegaram o smartphone e partiram noite adentro.
Estavam em busca de “Hawluchas”, criaturas virtuais parecidas com aves que foram vistas perto da fronteira mexicana e aparentemente apareceram na mesma rua de seu hotel, ao lado do food truck no qual haviam comido burritos algumas horas antes.
“Tinha que ser”, lembra Tanner, de 37 anos, de Salem, em Massachusetts. “Acho que nem coloquei a meia, apenas calcei o sapato. Eu ainda estava meio dormindo.”
Tanner faz parte de uma espécie única: adultos que incluem o jogo para celular Pokémon Go em suas viagens. O jogo é de realidade aumentada, o que significa que sobrepõe monstrinhos fofos conhecidos como Pokémon ao ambiente do mundo real. Imagine estar passeando pelas ruas de Roma quando de repente seu telefone vibra e uma criatura rara está empoleirada ao lado do Coliseu. Através da câmera do seu smartphone, o Pokémon está pronto para ser “capturado”.
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‘Uma certa novidade‘
A Niantic, empresa por trás do Pokémon Go, incentiva a viagem liberando Pokémon específicos, os “shinies” e “trims”, que só podem ser encontrados em certas regiões e promove eventos para fãs.
O ator Seth Green, conhecido por seu papel na série Austin Powers e como dublador em “Family Guy”, joga enquanto viaja. Um de seus pontos altos foi a captura de um Pokémon na Capela dos Ossos em Portugal, cujas paredes são forradas com ossos humanos.
“É uma certa novidade”, diz ele sobre suas buscas por Pokémon, “mas em um mundo onde a alegria em si é uma mercadoria, essa é uma troca muito fácil”.
Green vai a restaurantes quando viaja com amigos — e pode dar uma saidinha para ver se há Pokémon nas proximidades. É possível que nem todos do grupo entendam o fascínio.
“Você tem que usar o bom senso com as pessoas em sua companhia e estar sempre ciente de quem seria um participante entusiasmado versus alguém que poderia se ofender”, explica ele. “É o mesmo que qualquer aspecto da etiqueta do uso do telefone.”
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Indo além das crianças
Entre os viciados está Lene Grooss, de 62 anos, gerente de programa no setor financeiro, e seu marido Ole, de 59 anos, gerente comercial, de Hillerod, na Dinamarca. Lene mergulhou no Pokémon Go anos atrás para se conectar com seus filhos. Com o passar do tempo, Ole se juntou a eles, e agora o entusiasmo do casal ultrapassou o dos filhos. “Eles acham que somos nerds”, brinca Lene.
Lene e Ole jogaram Pokémon Go na Europa, no Caribe e na Ásia. O jogo dá a eles ideias de rotas para explorar, e acabam encontrando outras pessoas que também estão jogando, algo fácil de detectar. Uma que se destacou foi uma senhora de 80 anos que conheceram durante uma caminhada Pokémon.
“Era a maneira dela de sair e conhecer outras pessoas”, diz Ole. “Isso meio que me deixou perplexo, especialmente no começo, porque eu tinha essa visão de que eram apenas crianças jogando Pokémon.”
Quando estão de férias com a família, eles saem para capturar os monstrinhos, digamos, de manhã cedo ou depois que seus companheiros vão dormir. “Às vezes, voltamos para o hotel e olhamos um para o outro e dizemos: ‘Talvez devêssemos esperar meia hora’”, diz Lene. “E daí saímos de novo.”
O jogo propicia uma rivalidade amigável — Lene está em um nível mais alto que Ole e quer manter a situação. Ela sempre traz consigo um carregador de bateria do tamanho de uma bolsa para manter o telefone funcionando. “E não empresto”, brinca.
Os fãs gostam da ideia de que Pokémon Go é um dos poucos aplicativos no celular que incentiva as pessoas a sair de casa e interagir ao vivo.
Mas alguns jogadores, apelidados de “spoofers”, trapaceiam usando aplicativos VPN para alterar a localização do telefone e obter exclusividades regionais sem sair do sofá. Muitos na comunidade Pokémon não aprovam o estratagema. “Acho que é trapacear, e não sei por que fazem isso”, diz Lene.
Recém-casados
A lua de mel de Anne Bains, com seu agora marido Dali, foi uma perseguição global aos Pokémon.
“Isso nos deu ideias de onde ir”, diz a farmacêutica Anne, de 33 anos — destinos como Londres, Nova York, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Hong Kong.
Dali, de 34, também farmacêutico, está entre os maiores colecionadores de “shinies” do mundo, com mais de mil criaturas raras e de cores únicas. Faltam apenas 18 para ter todos eles, e costuma negociar com outros jogadores em eventos Pokémon.
Mas para acertar essas trocas, Dali precisa vir munido de seus próprios Pokémon valiosos.
Veio então a viagem em família ao Egito em abril de 2023, com Dali, Anne, a mãe dele — e quatro dúzias de Pokémon fofos parecidos com cães brancos conhecidos como Furfrous. Claro, eles queriam ver as pirâmides, mas Dali tinha uma missão: vestir seu rebanho de Furfrous com raros trajes de faraó, que os jogadores de Pokémon Go só podem obter no Egito.
Dali fez questão de tirar uma foto de seu Pokémon vestido de faraó na frente das pirâmides — a prova de que seus Furfrous egípcios eram legítimos. “Quando você negocia com as pessoas, uma pergunta que normalmente é feita é: ‘Você realmente esteve nesse local?’”, conta ele.
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Monte Everest
Em março, Lene e Ole foram até o acampamento base do Monte Everest, no Nepal, colocando sua dedicação ao Pokémon Go à prova. Sem sinal de celular e com temperaturas superbaixas que congelavam o aparelho ao ar livre, eles tiveram que contar com casas de chá ao longo do caminho para acessar o Wi-Fi, e garantir calor suficiente para manter os dispositivos funcionando.
Lene só precisou disso para continuar jogando e se deparar com “Simisear”, macaco Pokémon de pelagem cor de fogo. “Isso é especial”, diz ela. “Esse é um que eu definitivamente vou guardar e nunca trocar.”
Escreva para Salvador Rodriguez em [email protected]
traduzido do inglês por investnews