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Os exames de sangue que podem encontrar doenças do coração

Os médicos dizem que esses exames podem oferecer uma indicação de possíveis problemas melhor do que algumas medidas mais conhecidas

Por Alex Janin The wall street Journal
Publicado em
6 min
traduzido do inglês por investnews

Dois exames de sangue dos quais você provavelmente nunca ouviu falar podem prever seu risco de doença cardíaca melhor do que os exames padrão.

O primeiro mede uma proteína chamada apolipoproteína B, ou apoB, que contribui para a formação da placa que bloqueia artérias. O outro teste, o da lipoproteína(a), mede um tipo de colesterol ruim.

Os altos níveis de cada um passaram a ser associados ao aumento do risco de doenças cardíacas.

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Um número crescente de especialistas e médicos de cuidados primários diz que esses exames podem ser uma indicação mais precisa e precoce de possíveis problemas cardíacos do que os mais comuns, que medem coisas como o LDL, o marcador de colesterol ruim mais conhecido. Em alguns casos, esses exames menos conhecidos identificam pessoas em risco cujos testes lipídicos padrão parecem normais.

Os proponentes dizem que devem complementar, não substituir, seu painel lipídico padrão, que geralmente é recomendado a cada um a seis anos para adultos.

Outros médicos são cautelosos em solicitar esses exames, citando a falta de consenso sobre o que constitui níveis normais, se deve haver tratamento e como este seria — para não falar do custo extra. As diretrizes das organizações médicas americanas não os recomendam para todos.

Como esses exames podem ajudar

Um crescente corpo de pesquisas sobre a apoB sugere que ela é uma melhor preditora de risco de doença cardíaca do que o colesterol LDL, mais conhecido.

Até 20% dos pacientes com níveis normais de colesterol LDL terão altos níveis de apoB, diz Marc Penn, cardiologista e diretor médico da empresa de testes laboratoriais Quest Diagnostics.

“Na verdade, você obtém uma avaliação muito melhor do número de partículas que transportam colesterol no sangue e que podem levar à aterosclerose” quando a apoB é medida, diz Shriram Nallamshetty, cardiologista do Centro Médico Palo Alto VA.

Da mesma forma, altos níveis de lp(a), que se acredita começam entre 30 e 50 mg/dL e afetam cerca de 20% a 30% das pessoas, têm sido associados ao aumento do risco de ataque cardíaco, derrame e outras doenças cardiovasculares. 

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Você pode diminuir seus níveis de apoB tomando certos medicamentos, como estatinas, e por meio de mudanças na dieta, como limitar as gorduras saturadas.

Seu lp(a), por outro lado, é genético e não muda muito ao longo de sua vida. Mas, se os testes mostrarem níveis elevados, você pode diminuir o risco de doenças cardíacas de outras maneiras, através de medicamentos, exercícios ou mudanças na dieta.

Buddy Touchinsky, quiroprático que dirige uma clínica de medicina integrativa na Pensilvânia, decidiu no ano passado começar a fazer os dois exames em todos os pacientes. No ano passado, o teste lp(a) do próprio Touchinsky revelou um nível bem acima do limite de alto risco. 

“Se eu tivesse começado a tratar isso de forma mais agressiva há 20 anos, talvez não tivesse nenhuma obstrução nas artérias”, diz Touchinsky.

Ele conseguiu reduzir seu nível de apoB diminuindo o consumo de alimentos como carne vermelha, manteiga e laticínios integrais, aumentando a prática de exercícios e tomando estatina em baixas doses, além de outro medicamento para baixar o colesterol chamado ezetimiba.

Quem deve fazê-los

Os médicos discordam sobre quem deve fazer esses exames.

“Algumas pessoas já fazem todo o possível para serem saudáveis e têm muita ansiedade”, diz Nalin Dayawansa, pesquisador e cardiologista intervencionista do Alfred Hospital em Melbourne, na Austrália. “Muitas dessas informações são apenas ruído e dinheiro desperdiçado se não influenciarem diretamente o que você faz.”

A Escola Americana de Cardiologia e a Associação Americana do Coração não os recomendam para todos. Preferem recomendar o exame de lp(a) para adultos com histórico familiar de doença cardíaca prematura ou em casos de doença cardiovascular aterosclerótica não explicada por fatores de risco comuns, como o tabagismo. 

Esses grupos dizem que medir a apoB pode ter vantagens para algumas pessoas, especialmente se você tiver altos níveis de triglicérides no sangue.

Além disso, pessoas com sinais de resistência à insulina e obesidade abdominal provavelmente vão se beneficiar do teste de apoB, diz Daniel E. Soffer, internista e lipidologista da Universidade da Pensilvânia e ex-presidente da Associação Lipídica Nacional. Ele estima que, combinados com aqueles com altos níveis de triglicerídeos, esses grupos representam cerca de 40% a 50% da população adulta dos EUA.

Algumas das principais organizações médicas europeias recomendam que todos os adultos tenham seus níveis de lp(a) medidos pelo menos uma vez. Nos EUA, a Associação Lipídica Nacional, que representa especialistas em distúrbios lipídicos, adotou a mesma recomendação em março deste ano. 

As crianças também podem se beneficiar de um teste de lp(a), principalmente se um ou ambos os pais tiveram um ataque cardíaco ou outro evento cardiovascular quando ainda jovens, diz a dra. Christie Ballantyne, presidente da Associação Lipídica Nacional e professor de medicina na Escola de Medicina Baylor. 

“A aterosclerose é mais reversível no início da vida”, diz Ballantyne. 

Ganhando força

Empresas de testes, incluindo a Labcorp e a Quest, começaram a oferecer exames direto ao consumidor e em domicílio, para pacientes que não querem o incômodo de pedir que o médico os solicite. 

Os exames de Lp(a) e apoB geralmente não são cobertos pelo seguro, e os custos variam de aproximadamente US$ 25 a US$ 150.

Jennifer Mannino diz que gostaria que o lp(a) tivesse feito parte dos cuidados preventivos padrão antes de seu marido ter uma parada cardíaca aos 48 anos em 2020. As complicações o deixaram com problemas de memória de curto prazo e outras questões cognitivas.

Após a parada cardíaca, sua lp(a) foi testada, e estava alta. Um teste lipídico padrão feito no ano anterior revelou níveis classificados próximos do ideal. Ele adicionou um novo medicamento à estatina que já estava tomando, e seus níveis de colesterol LDL caíram significativamente.

“Quando temos mais informação, isso facilita a conversa com seu médico”, afirmou Mannino.

Escreva para Alex Janin em [email protected]

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