Ozempic pode ter outro efeito colateral: melhorar o sexo
Remédios para perder peso ajudaram milhões a melhorar a saúde; alguns relatam também ganhos em suas vidas íntimas
Jacqueline Smith tinha uma vida sexual saudável até começar a tomar Ozempic para perder peso. Foi então que ela notou algumas mudanças drásticas. Smith, de 35 anos, e seu marido (com quem está casada há sete anos), já mantinham relações sexuais várias vezes por semana. O casal passou a ter relações diárias, às vezes mais de uma vez. “Isso chegou a um ponto em que meu marido disse que precisava de uma pausa”, conta ela.
Smith, que mora em Greenville, Ohio, perdeu 30 quilos e diz que agora está tomando o medicamento intermitentemente. Quando ela para, afirma que seu desejo sexual diminui um pouco. “Não é tudo tão louco.”
Ozempic, Wegovy, Mounjaro e Zepbound transformaram a vida de milhões de pessoas, ajudando-as a controlar seu apetite e a perder o peso que antes parecia impossível de eliminar. Eles mudaram o paradigma da obesidade, demonstrando que a doença está enraizada na biologia, não na força de vontade. Estudos também descobriram que os medicamentos podem reduzir o risco de doenças cardíacas e renais. E, para alguns pacientes, eles ofereceram outro benefício: um impulso em suas vidas íntimas.
Nova intimidade
A saúde de Danielle Dollar estava criando uma barreira em seu casamento. Ela sofre de síndrome dos ovários policísticos severa e endometriose, o que dificultava a perda de peso e o controle da inflamação em seu corpo.
Nesse processo, seu marido teve que assumir mais responsabilidades com os três filhos, especialmente em atividades sociais, como festas de aniversário. “Se você não se sente bem consigo mesma, isso acaba transbordando”, diz Dollar, 41. “Isso definitivamente nos afetou romanticamente, em nossa amizade, em nosso relacionamento.”
Dollar, então, viu um anúncio na TV da Ro, uma empresa de telemedicina, sobre seu programa de emagrecimento. Começou a tomar Ozempic. Até agora, ela perdeu 38 quilos e espera perder mais 18. “Os últimos oito meses do nosso casamento são melhores do que os últimos 12 anos”, afirma.
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Ela e seu marido, que moram em Las Cruces, Novo México, e estão casados há 15 anos, costumavam recusar convites para viagens em grupo por causa de suas inseguranças. Isso mudou. Em dezembro, foram a uma viagem a Porto Rico com amigos. Também decidiram marcar um almoço toda sexta-feira, geralmente em um restaurante com buffet de saladas. Uma por mês se permitem jantar em um restaurante mexicano.
Antes, “era mais eu tentando agradá-lo”. “Agora, temos uma nova intimidade”, acrescenta.
Em fóruns online, as pessoas têm analisado todos os aspectos dos medicamentos, incluindo como eles afetaram a vida sexual e os relacionamentos. “Alguém viu seu desejo sexual despencar com Ozempic?” lê-se em um tópico do Reddit, enquanto outro pergunta: “Alguém mais lidando com um desejo insaciável por sexo?”
Fabricantes e pesquisadores
Embora os medicamentos populares dos fabricantes Novo Nordisk e Eli Lilly indiquem que há um risco potencial para mulheres grávidas e aquelas que esperam conceber, eles não mencionam efeitos colaterais sexuais em seus rótulos. Há pouca pesquisa sobre a relação entre esses medicamentos e o comportamento sexual em humanos.
“Estamos ativamente monitorando, avaliando e relatando informações sobre a segurança de todos os nossos medicamentos”, disse um porta-voz da Lilly em um comunicado, acrescentando que, se um paciente experienciar efeitos colaterais, “nós o incentivamos a conversar com seu prestador de saúde”.
Um porta-voz da Novo Nordisk disse que continuará a monitorar relatos de reações adversas a medicamentos, incluindo disfunção sexual. “A segurança do paciente é de extrema importância para a Novo Nordisk”, afirmou o porta-voz.
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A biologia pode explicar as mudanças que algumas pessoas estão relatando. “Esses medicamentos atuam nos mesmos locais onde prazer e interesse sexual estão localizados no cérebro humano — tanto masculino quanto feminino”, diz o médico James Simon, endocrinologista reprodutivo, ginecologista e professor clínico da Universidade George Washington.
Os efeitos dos medicamentos no sistema de recompensa do cérebro estão atraindo o interesse de pesquisadores globais, que estudam aplicações potenciais, como a contenção do alcoolismo e da dependência de drogas. Enquanto Wegovy e Zepbound são aprovados pelo FDA para perda de peso, Ozempic e Mounjaro, que contêm os mesmos ingredientes ativos, são aprovados apenas para o tratamento de diabetes.
A Novo Nordisk está investigando se a semaglutida, ingrediente ativo em seus medicamentos Ozempic, Wegovy e Rybelsus, pode tratar doenças hepáticas relacionadas ao álcool. Outros potenciais benefícios ainda estão sendo descobertos. Algumas mulheres que enfrentaram dificuldades com a fertilidade relataram gestações acidentais enquanto tomavam os medicamentos.
Sua experiência pode ser atribuída a marcadores de saúde melhorados relacionados à gravidez ou a novas pesquisas que descobriram que a tirzepatida, ingrediente ativo nos Mounjaro e Zepbound da Eli Lilly, pode interferir na eficácia dos contraceptivos orais. Os rótulos de prescrição desses medicamentos aconselham as mulheres a tomarem precauções adicionais se estiverem usando contracepção oral.
O Instituto Kinsey da Universidade de Indiana, que estuda sexualidade, gênero e reprodução, afirmou não ter conhecimento de pesquisas significativas sobre como os medicamentos estão impactando a vida sexual das pessoas até o momento. “Centenas de milhares de pessoas estão tomando esses medicamentos, então parece importante investirmos em entender como eles afetam esse aspecto fundamental de suas vidas”, disse Camilla Peterson, porta-voz do Instituto Kinsey.
Melhor que sexo
Em alguns casos, o desejo e o desempenho diminuíram. Um estudo recente, publicado em maio no International Journal of Impotence Research (publicação dedicada a estudos sobre impotência), descobriu que homens obesos e não diabéticos eram ligeiramente mais propensos a receber um diagnóstico de disfunção erétil ou uma prescrição para um medicamento que trata a condição após começarem a tomar semaglutida do que aqueles que não o tomaram. A pesquisa foi baseada em registros médicos e de seguro saúde de aproximadamente 6.000 homens entre 18 e 50 anos que atendiam a certos critérios médicos.
“Temos certeza de que essas taxas são muito baixas”, diz o médico Taylor Kohn, especialista em medicina reprodutiva masculina e cirurgia no Departamento de Urologia da Baylor College of Medicine, e co-autor do estudo.
O porta-voz da Novo Nordisk afirmou que a empresa não estava envolvida no estudo ou na análise e que não havia informações suficientes para saber se os medicamentos estavam sendo usados como foram aprovados [pela autoridade de saúde norte-americana].
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Antes do estudo, Dr. Kohn, que estava na Johns Hopkins na época, disse que alguns homens haviam ido à clínica de urologia mencionando uma diminuição do desejo sexual após começarem a tomar um medicamento à base de semaglutida. “Se você entrar no Reddit ou em fóruns online, há essa reclamação flutuando sobre pessoas que simplesmente perdem todo o desejo de ter relações sexuais”, afirma. “Felizmente, eu não acho que seja a grande maioria.”
A longo prazo, Dr. Kohn disse que os benefícios cardiovasculares do medicamento provavelmente impactariam positivamente a disfunção erétil em certos homens (ou seja, reduziria a probabilidade de disfunção). “Sabemos que, se você reverter a doença cardiovascular, a disfunção erétil também melhora.”
Ele está planejando um estudo de acompanhamento para analisar o impacto da semiglutida na função sexual masculina ao longo do tempo.
Jared Spencer, 36 anos, de Los Angeles, descobriu que lutava contra a disfunção erétil após começar a tomar o comprimido de semaglutida Rybelsus. Ele lutou contra a obesidade durante toda a vida. Estava em seu peso mais alto—140 quilos—quando começou a medicação.
Depois de cerca de um mês, Spencer percebeu que estava tendo “problemas de desempenho”. Começou a tomar Cialis, o medicamento para disfunção erétil. Também pausou o Rybelsus durante as férias, incluindo uma escapada romântica. “Ainda me sinto um pouco enfraquecido”, diz ele. “Não é mais a maratona que, antes, poderia ser.”
Ele especula que os efeitos do Rybelsus, como a redução dos desejos alimentares, que resultam em comer muito menos e ter menos energia, podem ter contribuído para o problema.
Ainda assim, Spencer diz que escolheria a perda de peso em vez de qualquer outra coisa. “Agora tenho uma vida de encontros, que é algo que eu não tinha antes”, diz ele. “Aparentemente, sou bonito.” Sua confiança e sono melhoraram.
“Se eu tivesse que abrir mão do sexo completamente até que essa jornada terminasse, eu faria isso”, afirma.
Uma mudança completa
Após o nascimento do filho mais novo de Amy Kane, em abril de 2020, ela lutou contra a depressão pós-parto durante a pandemia da Covid-19. Com 136 quilos, ela se sentia muito insegura em seu corpo.
“Eu nem queria ser tocada realmente, em termos de abraços e beijos e coisas desse tipo”, diz ela.
Mas as coisas mudaram quando Kane, 35 anos, foi diagnosticada com diabetes e teve que priorizar sua saúde. Ela começou a tomar Mounjaro em 2022 e perdeu 72 quilos. Disse que ela e seu marido, que moram em Naperville, Illinois, começaram a ir à terapia de casais. Às vezes, depois das sessões, saiam para tomar drinques. Quando pararam o aconselhamento, os drinques pós-terapia se tornaram um encontro semanal fixo para o jantar.
Kane tem sido vocal sobre sua experiência, postando sobre isso no TikTok e Instagram e até aparecendo no especial de março de Oprah Winfrey na ABC sobre a “revolução da perda de peso”. Mas ela ainda tem suas próprias inseguranças. “Há muita pele solta na sua área íntima quando se perde muito peso”, diz ela, que planeja uma abdominoplastia em algum momento.
Ainda assim, a intimidade com Kenneth, seu marido de oito anos, melhorou bastante. “Uma mudança completa”, diz ele. Os dois agora dormem, ela diz, abraçados “como um casal de recém-casados”.
Escreva para Sara Ashley O’Brien em [email protected]
traduzido do inglês por investnews