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Por que a inflação é o problema político mais persistente para Biden

Presidente tem poucas ferramentas para combater alta dos preços, algo que compromete seu esforço para derrotar Trump em novembro

Por Andrew Restuccia The wall street Journal
Publicado em
9 min
traduzido do inglês por investnews

A inflação acabou sendo o problema de política doméstica mais complexo enfrentado pelo presidente Biden a menos de sete meses da eleição — mas não há muito o que a Casa Branca possa fazer para resolver a situação.

A questão voltou à tona na semana passada, minando uma série de desenvolvimentos econômicos e políticos positivos que ajudaram a melhorar a posição de Biden nas últimas pesquisas. O índice de preços ao consumidor, a medida dos preços de bens e serviços da economia como um todo, subiu 3,5% em março em relação ao ano anterior, uma inflação maior do que a esperada, e que foi recebida com insatisfação por muitos dos conselheiros do presidente.

A Casa Branca respondeu rapidamente, emitindo um comunicado com o presidente reconhecendo que o governo federal tem “de fazer mais para reduzir os custos para as famílias trabalhadoras”. Nos bastidores, funcionários do governo disseram que não havia solução mágica para desacelerar o aumento dos preços imediatamente, uma questão que persegue o presidente há anos.

Por enquanto, disseram autoridades, Biden e seus assessores seniores não têm grandes mudanças políticas ou retóricas em mente. Eles planejam continuar falando sobre as propostas do presidente para reduzir o custo da moradia e de medicamentos prescritos, além de reduzir a dívida de empréstimos estudantis e eliminar sobretaxas aplicadas a tudo, de ingressos de shows a serviços bancários. 

“Nossa missão de redução dos custos em nome das famílias trabalhadoras é tão urgente hoje quanto foi ontem”, disse Jared Bernstein, presidente do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca. “Vamos continuar nos dedicando a essa luta.” Embora um funcionário da Casa Branca tenha dito que a inflação não diminui de modo linear e que sempre haverá solavancos no caminho, o governo acha que a trajetória segue na direção certa.

Alguns dos planos de corte de custos de Biden levarão meses para se concretizar e pouco farão no curto prazo para desacelerar o ritmo de aumentos. Alguns preços teimosamente altos, como o das compras de supermercado, estão, em sua maioria, fora do controle do governo Biden. O presidente pediu aos varejistas e outras empresas que cobrem menos, citando seus altos lucros. Mas não pode obrigar as empresas a agirem.

Índice de preços ao consumidor, mudanças no decorrer do último ano

Pesquisas nacionais recentes mostram Biden essencialmente empatado com o ex-presidente Donald Trump, o provável candidato do Partido Republicano, embora o incumbente fique atrás em muitos “swing states”. A maioria das pesquisas mostra que Biden recebe notas ruins dos eleitores em sua gestão da imigração, da guerra Israel-Hamas e de algumas outras questões, enquanto Trump está em desvantagem em relação ao aborto.

A economia — particularmente a inflação — tem sido a maior fraqueza de Biden em comparação com seu antecessor, cuja presidência é lembrada por muitos eleitores como um momento de preços estáveis. A economia sofreu um impacto significativo durante a pandemia da covid-19 em 2020, mas os preços não subiram expressivamente até o primeiro ano do mandato de Biden.

Os economistas dizem que trilhões de dólares em gastos aprovados por Trump e Biden seguraram a inflação durante os primeiros meses da pandemia, mas depois aceleraram sua recuperação. Mesmo assim, quando a economia começou a reabrir em 2021, a demanda, a escassez de mão de obra e os gargalos na cadeia de suprimentos alimentaram a inflação.

A maioria dos economistas não acredita que Biden possa fazer muito neste momento para reduzir a inflação se abrir mão de grandes aumentos de impostos ou cortes de gastos que consigam reduzir custos para o consumidor. Mesmo essas políticas, que não estão sendo seriamente consideradas em Washington, levariam tempo para funcionar na economia.

Os conselheiros de Biden analisaram pesquisas que mostram que as críticas aos republicanos que cortaram impostos de americanos ricos e corporações ressoam entre os eleitores, e pretendem intensificar esse ataque nos próximos dias e semanas. Eles também argumentarão que as propostas de Trump, incluindo seu plano de impor um conjunto de novas tarifas caso garanta um segundo mandato, aumentariam os custos para os consumidores americanos. 

O presidente e seus assessores, às vezes, enfrentam dificuldades para equilibrar duas prioridades concorrentes: se solidarizar com as preocupações dos eleitores com os preços altos e explicar ao público como a economia está indo bem por meio de várias medidas importantes.

Por mais frustrados que os eleitores estejam com a inflação, o ritmo anual de aumentos de preços ao consumidor caiu significativamente desde meados de 2022, quando atingiu um pico de cerca de 9%. Para a surpresa de muitos economistas, isso ocorreu apesar do crescimento econômico mais forte do que o esperado e de um mercado de trabalho resiliente. No início deste mês, novos dados mostraram que 303 mil empregos foram criados em março, com ajuste sazonal, muito mais do que haviam previsto.

Alguns na Casa Branca reclamam que Biden não está recebendo crédito suficiente por esses desenvolvimentos. De fato, os eleitores permanecem basicamente pessimistas em relação à economia. Em uma pesquisa do Wall Street Journal com eleitores em sete “swing states” no mês passado, 74% dos entrevistados disseram que a inflação se moveu na direção errada no ano passado, apesar de ter caído nesse período, mas não menor do que a antes da pandemia. Uma inflação mais baixa significa que os preços ainda estão subindo, mas só mais lentamente.

Os democratas encorajaram a Casa Branca a manter um foco na inflação, argumentando que os esforços do governo em divulgar os trilhões de dólares de investimentos em infraestrutura, semicondutores e mudanças climáticas nas próximas décadas não estão repercutindo entre os eleitores. 

Ron Klain, ex-chefe de gabinete de Biden, criticou o presidente por, em sua opinião, se concentrar demais em seus esforços para consertar a infraestrutura do país e não o suficiente nos preços, de acordo com a revista “Politico”, que obteve um áudio de suas declarações durante um evento recente.

A inflação contínua acima do esperado pode atrapalhar os planos do Federal Reserve de começar a reduzir as taxas de juros em junho e gerar dúvidas sobre a possibilidade de promover cortes este ano sem dar sinais de desaceleração econômica. 

Se o banco central cortar a taxa de juros antes da eleição presidencial, qual candidato mais se beneficiará?

Na quarta-feira passada, Biden previu que o Fed cortaria os juros antes do fim do ano, embora tenha reconhecido que os números recentes da inflação podem atrasar o processo. E procurou transferir a culpa para os republicanos.

“Estamos melhor situados do que estávamos quando assumimos o cargo, quando a inflação estava disparando, e temos um plano para lidar com isso”, disse Biden durante entrevista coletiva na Casa Branca. “Eles não têm um plano. E acho que o nosso plano ainda é sustentável.”

O Comitê Nacional Republicano, por sua vez, disse no mesmo dia que os números da inflação desta semana mostram que Biden estava tentando “enganar o povo americano” ao afirmar que os preços estavam sob controle, e que suas políticas econômicas eram “um desastre para as famílias em todo o país”.

Em uma pesquisa com economistas empresariais e acadêmicos realizada entre cinco e nove de abril, 49% dos entrevistados disseram que Biden se beneficiará mais do que outros candidatos se o Fed cortar os juros antes da eleição. Apenas 7% disseram que Trump seria o beneficiado, enquanto 44% disseram que nenhum dos dois se beneficiariam.

Quarenta e seis por cento dos entrevistados acreditam que as políticas de Biden seriam melhores para a economia, em comparação com 27% que disseram que as de Trump seriam preferíveis. Pouco mais da metade disse que o Fed começará a cortar os juros em junho, embora a pesquisa tenha sido concluída antes do relatório de inflação da quarta-feira.

Os juros futuros sugeriram na tarde de quarta-feira que os investidores veem menos de 20% de chance de o Fed cortar as taxas em junho. Os investidores agora esperam que o Fed comece a cortar os juros em sua reunião de setembro. Um corte adicional é esperado antes do final do ano, deixando a taxa básica do Fed na faixa entre 4,75% e 5% — abaixo dos 5,25% e 5,5% atuais.

Antes do relatório de inflação da quarta-feira, muitos analistas acreditavam que Biden claramente se beneficiaria dos cortes de juros. Dois ou três cortes do Fed podem não fazer muito para reduzir as taxas médias de hipotecas, que, por estarem em torno de 7%, impediram muitos americanos de comprar uma casa. Mas seriam, pelo menos, um passo na direção certa. Trump acusou o presidente do Fed, Jerome Powell, de querer reduzir os juros para ajudar Biden na próxima eleição.

Ainda assim, o benefício político dos cortes de juros ficou um pouco menos óbvio após os dados de preços, pois uma política monetária mais facilitada teria o potencial de elevar a inflação. 

Taxas de hipoteca à parte, Biden espera economizar dinheiro de alguns proprietários de imóveis por meio de várias iniciativas, incluindo um programa piloto no qual a Fannie Mae, gigante hipotecária controlada pelo governo, renunciará à exigência de seguro ao refinanciar a compra de certos credores. Esse seguro normalmente custa aos mutuários cerca de 0,5% do valor do empréstimo. 

Escreva para Andrew Restuccia no [email protected] e Sam Goldfarb no [email protected]

traduzido do inglês por investnews