Por que precisamos de um plano de limpeza digital para quando morrermos
Ninguém quer deixar para seus herdeiros uma coleção confusa de arquivos que não é possível abrir
Eu venho de uma longa linhagem de acumuladores. Quando passei pela casa da minha avó depois que ela morreu em 1986, encontrei algumas lembranças inestimáveis que ela havia guardado. Mas também descobri que, se você insistir em manter cada uma daquelas lindas sacolas de compras da Bloomingdale’s, chegará ao fim de sua vida com um armário lotado de sacolas.
Os acumuladores como nós são a base da “limpeza sueca para a morte”, uma tendência de organização baseada na ideia de diminuir seus bens materiais na vida para não sobrecarregar os parentes após seu falecimento.
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Porém hoje, muitas pessoas também sobrecarregam seus sobreviventes com bens imateriais, na forma de inúmeros arquivos digitais e contas on-line (especialmente quem acredita ser necessário guardar todos os e-mails e arquivos).
É por isso que você precisa de um plano de “limpeza digital para a morte” — uma que lhe dê todos os benefícios de manter seu histórico digital enquanto estiver vivo, mas pensando no que seus filhos farão com tudo isso quando você se for.
Aqui está o guia de uma acumuladora sobre como proceder:
Rotule seus arquivos
Escolha um sistema para rotular seus arquivos para que seus parentes saibam o que pode e o que não pode ser ignorado. Uma abordagem simples é rotulá-los como “Relevantes”, “Memórias” ou “EaM” (excluir após a morte).
“Relevantes” inclui qualquer coisa de uso prático para sua família ou qualquer outra pessoa. Podem ser informações legais e financeiras importantes, como seu testamento e as senhas de suas contas. Além disso, pode conter também qualquer informação que ajude alguém a lidar com seus pertences físicos, como as instruções de limpeza do ar condicionado.
Documentos e e-mails que você mais gostaria de deixar para amigos ou pessoas em sua área de atuação ou de sua comunidade também se enquadram na categoria “Relevantes”. Coisas como os memorandos que você escreveu enquanto desenvolvia uma campanha de marketing muito bem-sucedida, seus registros de pássaros avistados no santuário local ou notas sobre a horta comunitária que interessariam a quem a assumisse. Enquanto faz isso, pense em qualquer organização para a qual você possa legar esses arquivos em seu testamento, para ter certeza de que elas os receberão. Ou compartilhe-os agora.
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Sob o rótulo “Memórias” estão coisas como fotos de família, digamos, ou qualquer trabalho ou documentos pessoais que você ache que seus filhos ou netos gostariam de ler daqui 30 anos. Meu padrão de o que incluir foi estabelecido por um ensaio que minha tia-avó escreveu em 1953, pesquisando seus ex-colegas de classe para a 25ª reunião da turma de 1928 da Barnard. Seu resumo das antipatias de seus colegas de classe (“Senador McCarthy, dondocas, garrafas de ketchup de boca estreita, roupas sujas, grandes festas, cachorros em casa e televisão”) é apenas um dos tesouros.
“EaM” destina-se às coisas irrelevantes para qualquer outra pessoa, ou aquilo que você não quer que ninguém veja, como as páginas angustiadas do diário sobre o quanto você odiou seus primeiros anos de maternidade/paternidade. É melhor reunir todos os seus arquivos para exclusão após a morte em algum lugar onde eles possam ser deletados de forma rápida, eficiente e definitiva. Uma boa opção é armazenar seus arquivos confidenciais em um disco rígido externo, que você pode bloquear e determinar que seja destruído em seu testamento.
A criptografia não é suficiente. Mesmo que você criptografe seus arquivos EaM com a melhor técnica disponível hoje, não há garantia de que ela resistirá às tecnologias de descriptografia de amanhã.
Deixe um guia e talvez uma despedida
Toda essa organização e rotulagem não ajudarão muito se seus parentes e amigos não souberem por onde começar a lidar com seu legado digital. Certifique-se de ter um documento — e que alguém saiba onde encontrá-lo — que explique seu sistema de rotulagem, mapeie onde seus sobreviventes podem encontrar arquivos-chave (em seu computador ou impressos) e liste todas as contas que você precisará que eles encerrem ou mantenham.
Isso deve incluir listas de todas as suas assinaturas digitais, endereços de e-mail para todos os principais contatos e contas que não venham em papel. Você não quer que seus filhos percebam que precisam pagar sua conta de luz depois que as luzes se apagaram.
Além disso, caso você morra inesperadamente, considere escrever uma mensagem final que gostaria de postar em seu blog ou contas de rede social. Se fizer isso, lembre-se de manter tudo atualizado.
Considere deixar um alter ego de IA
Os rápidos avanços na IA generativa significam que todos podemos considerar se e como deixar nossos arquivos digitais para serem usados pela IA. Pessoalmente, adoro a ideia de ter um alter ego digital que facilite as coisas para meus filhos quando eles quiserem saber sobre o que fizemos em nossas férias em família em 2010, ou como eu acho que eles deveriam organizar seu servidor doméstico. Carregar uma IA personalizada com um arquivo de postagens em blogs e redes sociais pode garantir o acesso fácil por chat a uma vida inteira de conhecimento e memórias.
Se essa ideia lhe agrada, considere treinar sua própria IA com uma exportação de suas postagens no Facebook ou histórico de e-mail, para que possa ver como ela funciona (e o que divulga) antes de deixá-la para seus filhos.
Por outro lado, se você odeia a ideia de seu trabalho ser incorporado a uma IA e não quer que ninguém faça isso com seus dados, certifique-se de anotar no testamento que não deseja que seus arquivos digitais sejam enviados para serviços de IA ou usados como dados de treinamento de IA.
Digitalize suas memórias físicas
Uma maneira pela qual a limpeza digital é diferente da limpeza física: uma vida inteira de desordem digital ainda pode caber em uma caixa de sapatos. Portanto, pense em onde a digitalização pode apoiar o processo de limpeza física, substituindo papéis ou lembranças acumuladas por arquivos, digitalizações e imagens digitais. Uma vantagem dessa digitalização: você só pode deixar sua coleção de cartões postais dos Parques Nacionais para um único herdeiro sortudo, mas a digitalização da coleção pode ir para toda sua família.
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A catalogação digital é uma opção para preservar as memórias existentes em algumas lembranças físicas. Quando recentemente renovei a encadernação de minha coleção Playbill ao longo da vida, percebi que as prateleiras cheias de livretos de programas de teatro são o equivalente ao armário cheio de sacolas de compras da minha avó. Ao procurar fichários no eBay, vi muitas coleções de Playbills herdadas à venda e de repente me dei conta de como minha coleção mais preciosa acabará sendo um fardo para meus herdeiros.
Foi quando percebi que a tecnologia significa que não tenho que escolher entre sobrecarregar meus herdeiros e apagar totalmente uma vida inteira de memórias teatrais: listar todos os meus Playbills em um banco de dados digital criou um livro de memórias on-line que posso desfrutar agora e uma lembrança virtual que posso compartilhar com meus filhos. Agora eles têm minha permissão para um dia descartar aquele armário cheio de livretos.
Alexandra Samuel é pesquisadora de tecnologia e coautora de “Remote, Inc.: How to Thrive at Work…Wherever You Are”. Ela pode ser contatada em [email protected] .
traduzido do inglês por investnews