Sua empresa estimula a competição entre os funcionários? Péssima ideia
Pesquisas sugerem que a competição interna pode afetar a capacidade de inovação dos funcionários
Muitas empresas incentivam a competição entre suas equipes acreditando que isso vai estimular a inovação e o desempenho. O problema é que acaba acontecendo o oposto: a concorrência interna muitas vezes prejudica a inovação.
Foi o que descobrimos em um estudo sobre empresas que pressionaram suas equipes competir entre si — seja por recompensas financeiras formais, como bônus, ou por recompensas informais, como maior prestígio, acesso a executivos e influência.
Sim, alguns indicadores mostram que as equipes acabaram de fato trabalhando mais enquanto competiam. Mas elas falharam em outro aspecto crucial: quanto mais competiam, menos inovadoras eram. Como elas evitavam compartilhar informações com outras equipes, não estavam recebendo ideias inesperadas e inspiradoras do pessoal das outras áreas da empresa.
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Na verdade, as únicas equipes que se destacaram no estudo foram aquelas que optaram por compartilhar informações com outras, seja por necessidade ou por estratégia.
Confronto direto
Começamos nossa pesquisa analisando 73 equipes de três empresas de engenharia das áreas de energia renovável e de software empresarial. A competição entre as equipes predominava. As organizações geralmente criavam incentivos do tipo “o vencedor leva tudo” envolvendo bônus anuais e número de contratação de funcionários. Alguns líderes de equipe também usaram sua rivalidade pessoal com outros líderes para criar uma competição mais direcionada.
Descobrimos que essa competição poderia fazer com que os membros dessas equipes trabalhassem mais e de maneira mais próxima uns dos outros, mas isso acabou prejudicando sua capacidade de inovar. Pior: ficou demonstrado que a capacidade de inovação era inversamente proporcional ao número de grupos com os quais uma equipe competia. As pessoas não estavam compartilhando informações entre as equipes, então não tinham acesso a ideias que estimulassem a inovação.
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Contudo, um tipo de equipe pareceu prosperar na competição. Chame-as de “equipes-ponte”: grupos que optaram por compartilhar informações com outros grupos e, por sua vez, compartilham o que aprenderam com outras pessoas. As equipes-ponte lideraram em inovação porque tiveram mais contato com pessoas e ideias fora de seu próprio grupo.
As equipes-ponte não costumam ser grupos oficialmente designados dentro de uma empresa e não aparecem apenas naquelas em que há concorrência interna. Elas podem surgir em qualquer contexto. O que têm em comum é que atuam como “pontes”, coletando e compartilhando informações entre as equipes.
Em nossa pesquisa, por exemplo, uma equipe que trabalha com armazenamento em nuvem abordou outras para obter feedback sobre seu trabalho, a fim de garantir que seus projetos conseguissem se adaptar às demandas em constante mudança. Assim, a equipe-ponte foi exposta a conhecimentos de diversas fontes.
Uma equipe também pode se tornar uma ponte por acidente. Se um grupo estiver localizado no meio do espaço físico da empresa, outras equipes naturalmente virão conversar e perguntar o que está acontecendo em outras partes da empresa.
A vantagem da informação
Em empresas com intensa concorrência, o conhecimento que as equipes-ponte adquirem torna-se uma vantagem estratégica fundamental para elas. Realizamos um experimento no laboratório com 162 equipes, pedindo que criassem um plano de negócios inovador — elas competiam por um prêmio de inovação, sendo julgadas por dois especialistas.
As equipes-ponte tiveram acesso a informações vitais para criar seus planos, trocando conhecimento com outros grupos e restringindo o fluxo de informação aos concorrentes. O resultado: equipes que não são pontes tiveram um desempenho 49% pior do que as equipes-ponte em termos de inovação, de acordo com as avaliações dos especialistas.
No geral, a competição aumentou a motivação da equipe e seu nível de comunicação interna em 16%, conforme indicado pelo número de mensagens que seus integrantes enviaram uns aos outros na coordenação de seus planos. Mas reduziu a troca total de informações entre elas em 42%, o que significa uma diminuição na inovação geral.
Como, então, as empresas podem aproveitar os benefícios da competição sem sacrificar o compartilhamento de informações entre equipes?
Primeiro, escolha um alvo externo: em vez de fazer com que as equipes internas lutem entre si, peça-lhes que tentem superar benchmarks externos, como, por exemplo, quantas patentes uma empresa rival produz. As empresas também devem se esforçar para garantir que os grupos compartilhem informações, como realizar reuniões regulares ou criar um banco de dados compartilhado que qualquer equipe possa acessar.
Acima de tudo, os líderes devem garantir que as equipes não vejam a competição interna como um objetivo em si. O objetivo final é ajudar a organização a atingir seus objetivos, mesmo que isso signifique colaborar mais ou compartilhar informações com uma equipe concorrente.
Tom Taiyi Yan é professor assistente de organização e inovação na Escola de Administração do University College London. Vijaya Venkataramani é professora de liderança e inovação na Escola de Administração Robert H. Smith da Universidade de Maryland, College Park. Eles podem ser contatados em [email protected].
traduzido do inglês por investnews