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Maior banco privado do Brasil, o Itaú Unibanco (ITUB4) viu seu lucro líquido encolher 43% nos três primeiros meses do ano, para R$ 3,9 bilhões. Com o Bradesco (BBDC4) não foi diferente: o lucro encolheu 39,8%, somando R$ 3,7 bilhões. O Banco do Brasil (BBAS3), por sua vez, lucrou R$ 3,3 bilhões no trimestre, uma redução de 20%.
Os números vieram em linha com bancos do exterior. O Bank of America (Bofa) registrou um lucro líquido de US$ 4 bilhões no trimestre, uma queda de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior. O Goldman Sachs lucrou US$ 1,21 bilhão, resultado 46% menor. E o Citigroup viu seu lucro cair 46%, para US$ 2,5 bilhões. Todos eles
Por que o lucro caiu, se a carteira cresceu?
A carteira de crédito dos bancos cresceu entre janeiro e março, à medida que, sem dinheiro, mais empresas e pessoas físicas correram em busca de socorro. Mas se os bancos emprestaram mais, por que o lucro caiu tanto? A resposta é que os bancos buscaram se “antecipar” ao cenário sombrio que deve vir pela frente.
A piora na economia e o esgotamento da renda aumentaram demais o risco de inadimplência. Os bancos tentam definir o cenário futuro e reservaram parte do caixa para aumentar suas reservas contra possíveis calotes. São as chamadas “provisões para devedores duvidosos (PDD)”.
No caso do Itaú, o banco separou uma provisão adicional de R$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre, um aumento de 165%. Pra se ter uma ideia, o PDD total do banco em 2019 somou R$ 3,9 bilhões. O Bradesco, por sua vez, aumentou as provisões em R$ 2,5 bilhões e o BB, para R$ 2 bilhões.
O Santander Brasil (SANB11) foi o único que não aumentou as provisões no trimestre, e viu seu lucro líquido aumentar em 10%, para R$ 3,85 bilhões.
“Começando a construir sua fortaleza para atravessar a pandemia, o Itaú fez a maior provisão entre os três grandes bancos privados, preparando-se para o impacto da crise sobre seu portfólio de crédito, assim como os maiores bancos do mundo estão fazendo”, escreveu o analista de investimentos da Easynvest, José Falcão de Castro.
Qual o tamanho do buraco
Para o economista Roberto Troster, o risco de uma explosão de inadimplência está batendo na porta e ninguém sabe o tamanho exato do problema pela frente. “Acho que a crise vai ser maior do que tao antecipando”, afirma, referindo-se à ideia de que as provisões podem não dar conta do tamanho da inadimplência no caminho.
O fato é que as medidas da quarentena para frear o avanço do novo coronavírus (Covid-19) só aconteceram em março, limitando o impacto da crise no primeiro trimestre. Os analistas esperam que o estrago deve mesmo aparecer nos números do segundo trimestre. Os bancos sabem disso e já se preparam.
Troster acredita que há muitos riscos no caminho. Primeiro, as previsões mais realistas dando conta de que o PIB brasileiro pode cair na casa dos dois dígitos em 2020. Em segundo lugar, a quebra na cadeia produtiva, com empresas e setores falindo e atingindo fornecedores, empregos e o consumo. Em sua avaliação, os bancos estão preocupados em renovar as operações, mas não em injetar capital novo. “Isso pega na veia dos bancos”, diz.
Queda na bolsa
No dia em que o Itaú revelou a queda de 43% no lucro, as ações preferenciais (ITUB4) chegaram a subir 6,7%, sustentando os ganhos do Ibovespa, o maior índice acionário do Brasil. O mercado entendeu que a provisão extra do banco mostra que ele está preparado para enfrentar a crise nos próximos meses.
Mas isso é suficiente? A julgar pelo desempenho do setor bancário na Bolsa desde o começo do ano e nos últimos dias, os investidores não estão convencidos de que os bancos vão conseguir se proteger do aumento da inadimplência, cuja proporção ninguém sabe estimar.
Até esta quinta-feira (7), os papéis preferenciais do Itaú Unibanco (ITUB4) acumulavam perda ao redor de 40% desde o começo de janeiro. Já o Bradesco (BBDC4) tinha desvalorização de 47% nas ações preferenciais. E o Banco do Brasil (BBAS3) perdia 50% no mesmo intervalo de tempo.
São perdas superiores a de ações ligadas a commodities e ao comércio exterior, vistas até então como mais vulneráveis à piora do cenário global, como a Petrobras (PETR4). A estatal, que oscilou ao sabor da cotação do petróleo, desvalorizava ao redor de 42% no ano.
Se antes o grande desafio do setor bancário era o aumento da concorrência, com a chegada das fintechs, agora o fantasma que assombra os bancos se mostra muito mais nebuloso.