“Carro a álcool: você ainda vai ter um”. Esse slogan ficou grudado na cabeça dos motoristas brasileiros nos anos 1980. Em tempos de crise do petróleo e gasolina com preço nas alturas, a campanha incentivava a compra de veículos que podiam ser abastecidos com o combustível vegetal.
Passados 40 anos, podemos atualizar essa frase para: “carros híbridos ou elétricos: você ainda vai ter um”. Eu digo isso sem qualquer pretensão de ser vidente ou futurólogo, apenas considerando o movimento que a indústria automotiva tem feito em todo o mundo nos últimos anos.
Segmento em alta
Pode ser que a compra do primeiro híbrido ou elétrico ainda demore a acontecer aqui no Brasil, mas esse é um caminho sem volta. Tanto é que os emplacamentos desses veículos tiveram um expressivo salto de quase 400% de 2018 para 2020, segundo informações da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Foram 19.745 exemplares do tipo vendidos em 2020, contra 3.970 em 2018. Essa ainda é uma base bem pequena – apenas 1% do total de veículos emplacados no país no ano passado.
Para o consultor Fabio Braga, da AutoAvaliar, apesar de o cenário para a venda de veículos ser desafiador, 2021 deve registrar um novo aumento expressivo nesse segmento, com previsão de aumento de até 60% nos emplacamentos de híbridos e elétricos.
O que vem por aí
Motivos para acreditar nessa alta não faltam. O mais forte deles é uma investida das montadoras em veículos mais ecológicos. No começo do ano, fiz um levantamento dos possíveis lançamentos de carros híbridos e elétricos, e cheguei a uma lista com 17 modelos.
Alguns desses nomes devem se destacar nas vendas. É o caso do Toyota Corolla Cross, cujo lançamento está marcado para o início de março.
O novo SUV médio da empresa terá uma versão híbrida, que utiliza o mesmo conjunto mecânico do sedã Corolla, o líder isolado de vendas entre os carros híbridos vendidos no Brasil.
A Jeep, outra marca popular no país, deverá apostar em configurações equivalentes para Renegade e Compass, 2 dos 3 SUVs mais vendidos do país.
Entre os elétricos, com algumas exceções, os lançamentos ficarão concentrados nas marcas de luxo. É o caso da Audi, que confirmou 3 modelos do tipo até o fim do ano.
Futuro é elétrico (pelo menos no exterior)
No começo do texto, eu mencionei que estamos em um caminho sem volta em direção a mobilidade elétrica. Eu falo isso porque diversas fabricantes já anunciaram que vão produzir apenas veículos livres de emissões a partir de uma determinada data.
A Jaguar Land Rover recentemente anunciou que só terá modelos elétricos a partir de 2025. A Ford seguirá caminho parecido na Europa no ano seguinte, oferecendo apenas veículos livres de emissão.
A Volvo, que já tem ao menos uma opção híbrida para carro de sua linha aqui no Brasil, só terá modelos elétricos a partir de 2030.
No mesmo ano, a Nissan planeja ter apenas veículos eletrificados (híbridos ou elétricos) em mercados considerados “chave”. Para 2050, a meta é ser uma empresa neutra em emissões.
A GM, dona da Chevrolet, marcou para 2035 o fim de seus carros com motor a combustão (gasolina, diesel, etanol).
Realidade brasileira
Antes de encerrar, é preciso fazer uma reflexão da nossa realidade. Ainda que a participação de veículos médios nas vendas venha crescendo ano a ano, uma grande parte dos carros novos emplacados todos os dias é composta de modelos populares.
E carros híbridos e elétricos ainda estão bem distantes de serem considerados acessíveis.
Assim, a marcha da mobilidade mais ecológica deve ser mais lenta em nosso país, principalmente enquanto as baterias (o principal componente dos carros elétricos) forem extremamente caras.
Uma saída, que já vem sendo estudada por fabricantes e universidades, é o uso de etanol como combustível para a geração de eletricidade.
A partir do líquido vegetal, é extraído o hidrogênio, que alimenta células de combustível responsáveis por mover um motor elétrico. Devemos observar avanços importantes nessa tecnologia já nos próximos anos.
E, quem diria, o slogan do carro a álcool está mais vivo do que nunca.
* André Paixão é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha