Um investidor de primeira viagem decidiu comprar R$ 500 em ações da Petrobras. Pesaram sobre a escolha os lucros sólidos da empresa e a tradição no mercado. Mas ao buscar o papel no home broker da corretora, uma surpresa: ele percebeu que a petroleira negocia dois tipos de ações. São elas as ordinárias (ON) e as preferenciais (PN). Para complicar um pouco mais, cada uma delas é vendida a preços diferentes.
E agora? Como futuro acionista da companhia, ele quer saber qual das duas vai gerar o melhor retorno para seu bolso. Afinal, se o preço de uma ação nada mais é que a expectativa de geração de caixa da empresa lá na frente, por que existem dois tipos de ações e com valores distintos? Pelas regras do mercado financeiro no Brasil, cada uma delas oferece vantagens diferentes ao investidor. Vai depender do que ele almeja como dono de um “pedacinho” daquela empresa.
Direito a voto ou dividendos? Eis a questão
O principal ponto que diferencia uma ação ordinária da preferencial é que a primeira dá ao investidor o direito a voto em assembleias de acionistas. Em outras palavras, com o papel ON, esse investidor ganharia mais poder nas decisões sobre a Petrobras. Por outro lado, como ele possuiria apenas R$ 500 da companhia que vale mais de R$ 400 bilhões, este poder de voto seria bastante limitado em relação a acionistas maiores que detêm bilhões da empresa, por exemplo. Sem contar que algumas companhias também concedem o poder de voto a quem tem ações PN.
Já a maior vantagem de quem compra uma ação preferencial é a prioridade em receber os dividendos, que são a parte do lucro que é distribuído regularmente aos acionistas. Essa prioridade vale, inclusive, se a empresa vier a quebrar. Para o investidor que quer montar sua carteira, essa ideia parece bem interessante – mas talvez ele não tenha refletido que, em caso de falência, a companhia pode não ter recursos para distribuir.
E é importante que ele saiba: a companhia pode suspender o pagamento dos dividendos se não estiver gerando resultados satisfatórios, como foi o caso da Petrobras em 2014, ou se algo extraordinário acontecer, como após o acidente de Brumadinho (MG) com a Vale.
Fora o fato de que, em alguns casos, o estatuto da empresa pode ampliar o direito de receber dividendos também para quem possui os papéis ON. É o caso do Itaú Unibanco, que paga dividendos tanto para os acionistas de ITUB4 (preferenciais) como ITUB3 (ordinárias). No fim das contas, essas regras podem variar bastante, dependendo das particularidades de cada empresa.
E se a empresa for vendida?
Outro mecanismo que diferencia as ações ON e PN é o tag along. Ele visa proteger o investidor quando um acionista majoritário aceita vender o controle da empresa. Neste caso, quem possui ações ON tem o direito de receber pelo menos 80% do valor oferecido pelo interessado no negócio, caso a companhia seja vendida pelo controlador.
Neste caso, quem tem ações PN geralmente não recebe nada se a empresa for vendida. Mas, novamente, há exceções. Os bancos Bradesco, Santander e a siderúrgica Gerdau estão entre as empresas que preveem estender este direito para quem tem ações preferenciais na carteira.
As ações preferenciais têm uma característica particular: elas são exigíveis. Em bom português, a empresa pode comprar as ações de volta do acionista a qualquer momento e por qualquer motivo. Por isso, costuma-se dizer que quem possui papéis PN geralmente é um dono temporário das cotas da empresa, enquanto o detentor da ação ON seria, de fato, um sócio da companhia.
E se o objetivo é lucrar no curto prazo?
Agora, se aquele investidor quer comprar e vender as ações da Petrobras para obter ganhos em pouquíssimo tempo, como acontece na prática chamada day trade, as ações preferenciais costumam ser vistas como mais interessantes, embora isso não seja uma regra. Isso porque, em tese, as ações PN são mais líquidas [negociadas com mais facilidade] e mais negociadas. É o caso dos papéis da Petrobras: enquanto o volume das ordinárias (PETR3) chega a cerca de R$ 260 milhões por dia, as preferenciais (PETR4) negociam quase três vezes mais diariamente, cerca de R$ 600 milhões.
Essa divisão entre ações ordinárias e preferenciais é mais forte no Brasil. No exterior, como nos Estados Unidos, é mais comum que as empresas tenham apenas papéis PN. Por aqui, existe uma tendência recente de empresas que abriram capital (IPOs, em inglês) optarem apenas por ações ON. Essa é uma condição necessária para ingressar no Novo Mercado, o segmento mais alto de governança corporativa da bolsa brasileira. É o caso da varejista de luxo Vivara e da rede de moda C&A, que estrearam na bolsa este ano sob os códigos VIVA3 e CEAB3.