A corrida pelas vacinas contra a covid-19 tem despertado o interesse crescente dos investidores por ações dos laboratórios que conduzem os experimentos. Algumas já acumulam valorização de três dígitos na bolsa desde o início da pandemia. Gestores e analistas ouvidos pelo InvestNews defendem que a indústria farmacêutica oferece boas oportunidades para investir, não apenas pelos resultados promissores no combate ao novo coronavírus até agora, mas também pelo potencial na luta contra outras doenças.
Juntos, os laboratórios Pfizer (PFIZ34), Biontech (B1NT34), Astrazeneca (A1ZN34), Johnson & Johnson (JNJB34) e Moderna (M1RN34) acumularam um ganho em valor de mercado de US$ 97,54 bilhões do dia 1º de março (quando os mercados passaram a sentir os primeiros impactos da pandemia) até esta quinta-feira (19). A soma das cinco empresas chegava a US$ 788,49 bilhões. O valor foi calculado com base nos dados da plataforma YCharts.
A ação da Moderna foi uma das primeiras a mexer com as bolsas diante dos avanços nos testes de sua vacina. Desde março, o papel do laboratório americano acumula valorização de 199%, o que a tornou US$ 25 bilhões mais valiosa no período. Em novembro, ela subia 32,43%, após divulgar uma eficácia de 94,5% nos resultados preliminares de seus experimentos. O BDR da companhia, listada na Nasdaq, passou a ser negociado na B3 no mês passado.
O exemplo da Pfizer
Outro caso que chama atenção é o da também americana Pfizer, que concluiu os testes finais com eficácia de 95% contra a covid-19, em parceria com o laboratório alemão Biontech. Com todos os dados de segurança exigidos pela Food and Drug Administration (FDA), a empresa pretende entrar com o pedido de uso emergencial da sua vacina “em poucos dias”, nos Estados Unidos.
A Pfizer se comprometeu a produzir até 50 milhões de doses em 2020 e 1,3 bilhão até o final de 2021. Só nos Estados Unidos, foi fechado um acordo para comprar 100 milhões de unidades ainda em 2020 por US$ 1,95 bilhão. “Diante de todo o contexto, as boas novas reduzem a chance do mercado se decepcionar em relação ao desenvolvimento da vacina e mantém nosso otimismo com as ações da companhia”, afirma o analista de investimentos da Easynvest, Murilo Breder.
Mas a visão positiva sobre a farmacêutica vai além da corrida para imunizar a população contra o novo coronavírus. Segundo Breder, a Pfizer é uma empresa preparada para crescer, com uma base sólida nos fluxos de caixa, gerados a partir de diversos medicamentos. “O grande porte da empresa lhe confere vantagens competitivas significativas no setor. Com um amplo portfólio de medicamentos protegidos por patentes, o tamanho da Pfizer a deixa com uma das maiores economias de escala da indústria farmacêutica”, explica.
O analista acrescenta que, em um negócio no qual o desenvolvimento de medicamentos precisa de muitas tentativas para alcançar o sucesso, a Pfizer tem os recursos financeiros e o poder de pesquisa para apoiar o desenvolvimento de novos medicamentos. Breder cita, por exemplo, vários lançamentos feitos pela companhia no combate ao câncer, doenças cardíacas e imunologia.
“Com perdas de patentes limitadas e muito menos medicamentos antigos, a empresa está se preparando para um crescimento estável. Após a fusão com a Wyeth há vários anos, a Pfizer tem uma posição muito mais forte na indústria de vacinas. As vacinas tendem a ser mais resistentes à competição dos genéricos por causa da complexidade de fabricação e preços relativamente mais baixos”, afirma o analista.
De olho nas ações menos ‘pop’
Não é de hoje que gestores de fundos enxergam com bons olhos as ações do setor farmacêutico. Esse olhar está focado principalmente em laboratórios menos conhecidos, mas que oferecem potencial de crescimento no longo prazo. É o caso do fundo Western Asset Fia BDR Nível I, gerido pela Western Asset, que aloca no momento 13% de sua carteira no segmento.
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Segundo Maurício Lima, gestor de portfólio da Western no Brasil, as teses de investimentos sobre as biofarmacêuticas são mais estruturais. Ou seja, o portfólio não é montado com base nas vacinas testadas contra a covid-19, mas na geração de receitas e desenvolvimento de outras terapias no longo prazo. A gestora já chegou a se posicionar nos grandes laboratórios que buscam a vacina, mas hoje focam em empresas voltadas para outros segmentos.
Um exemplo é a biofarmacêutica global Amgen (AMGN34), especializada no uso de células vivas para desenvolver medicamentos biológicos, e que, segundo Lima, apresenta um potencial de aceleração de receitas nos próximos anos. O fundo também está posicionado na BioMarin Pharmaceutical (B1MR34), mais focada no desenvolvimento de medicamentos para doenças que tendem a ser menos pesquisadas pelas demais empresas do setor.
O gestor cita, ainda, a Thermo Fisher Scientific, que fabrica produtos hospitalares e fornece equipamentos científicos. “Para desenvolver as terapias, é preciso anos de pesquisa e recursos investidos constantemente, e é para isso que olhamos”, explica Lima.
BIOFARMACÊUTICAS DA BOLSA
Empresa | Código do BDR | Código da ação | País | Retorno da ação de 01/03/20 a 18/11/2020* |
Pfizer | PFIZ34 | PFE | EUA | 7,97% |
Biontech | B1NT34 | BNTX | Alemanha | 146,07% |
Astrazeneca | A1ZN34 | AZN | Reino Unido | 19,19% |
Johnson e Johnson | JNJB34 | JNJ | EUA | 7,25% |
Moderna | M1RN34 | MRNA | EUA | 199,03% |
Fonte: Os dados foram fornecidos pela plataforma de informações financeiras TradeMap.
Conheça abaixo o perfil de cada um dos 5 principais laboratórios que estão à frente na corrida para proteger a população contra o novo coronavírus:
Pfizer (PFE)
- BDR: PFIZ34
- Bolsa: Nyse
- Valor de mercado*: US$ 201,88 bilhões
- País: EUA
Status da vacina: A primeira a concluir os testes finais. Os resultados da fase 3 mostraram 95% de eficácia, a mais alta de qualquer candidata em testes clínicos neste estágio até agora. Houve 170 casos de covid-19 no ensaio com mais de 43 mil voluntários e apenas oito pessoas que tiveram a doença receberam a vacina. A empresa vai pedir nos próximos dias a liberação do uso emergencial nos EUA.
Biontech (BNTX)
- BDR: B1NT34
- Bolsa: Nasdaq
- País: Alemanha
- Valor de mercado*: US$ 21,78 bilhões
Status da vacina: desenvolvida em parceria com a Pfizer, a primeira a divulgar os resultados finais da fase 3 de testes (veja acima os detalhes). Não houve efeitos colaterais graves nos testes desenvolvidos. Os dados ainda não foram publicados em revista científica.
Astrazeneca (AZN)
- BDR: A1ZN34
- Bolsa: Nasdaq
- Valor de mercado*: US$ 141,70 bilhões
- País: Reino Unido
Status da vacina: produzida em parceria com a Universidade de Oxford, deve ter mais de 2 bilhões de doses distribuídas globalmente, caso aprovada. Os resultados dos testes em estágio final devem sair até o fim deste ano. Os experimentos foram voluntariamente interrompidos em setembro após uma doença inexplicada em um dos participantes no Reino Unido, mas os testes foram retomados após autoridades confirmarem que eles eram seguros.
Johnson & Johnson (JNJ)
- BDR: JNJB34
- Bolsa: Nyse
- Valor de mercado*: US$ 387,86
- País: EUA
Status da vacina: A fase 3 dos estudos lançada em setembro foi interrompida no mês passado após um efeito adverso em um voluntário no exterior. O laboratório pretende aplicar a vacina em 60 mil pessoas com uma única dose para testar sua eficácia e segurança. Os testes da fase 3 foram retomados na segunda-feira (16) no Reino Unido.
Moderna (MRNA)
- BDR: M1RN34
- Bolsa: Nasdaq
- Valor de mercado*: US$ 35,17 bilhões
- País: EUA
Status da vacina: O laboratório norte-americano divulgou na segunda-feira (16) dados preliminares mostrando 94,5% de eficácia. O estudo agora segue para a fase 3, a mais avançada. Ele contou com 30 mil voluntários saudáveis, com mais de 18 anos, nos EUA. Parte recebeu a dose experimental e outra tomou placebo. Contraíram a doença 95 voluntários: cinco vacinados e 90 que receberam placebo. Dos 95 casos, 11 foram graves — todos no grupo do placebo.
Sinovac Biotech
- BDR: Não há
- Valor de mercado*: US$ 639,9 milhões
- País: China
Status da vacina: Está na fase 3 de testes, e teve os experimentos retomados depois de serem suspensos após a morte de um participante. Dias depois, a polícia confirmou que o caso estava relacionado a suicídio. Nesta quarta-feira (18), a empresa chinesa divulgou os resultados dos experimentos nas fases 1 e 2, desenvolvidas entre março e abril na China, mostrando 97% de eficácia.
*Valores em 19/11