Vou até o quarto e pergunto: “cadê o Tom?”.
E a resposta: “está com você!”.
“Não, não está!”.
O Tom sumiu!
Procuramos incansavelmente. Perdi o ar. Me sentei no chão, colapsei. Minhas pernas tremiam, senti medo e uma das piores sensações da minha vida: a de nunca mais ver meu filho. Foram 45 torturantes minutos procurando em todos os cantos. Gritando e chamando por ele. Olhei para o lado e vi meu marido chorar. Desespero.
Meu pai estava na rua procurando pelo Tom e nada dele… Desaparecido!
Uma aflição que invadiu meu peito. Não sabia se ele estava desacordado em algum canto, se teria pulado um muro ou até mesmo se alguém o teria levado. Me senti em uma escuridão sem conseguir ver uma luz.
O cantor Lenine já dizia em sua música “Paciência”:
“Até quando o corpo pede um pouco mais de alma,
A vida não para”.
O Tom estava escondido o tempo todo, calado. Por quase uma hora. Resolveu sair. Um alívio misturado com uma ressaca que tomou conta de mim. O que tinha acontecido? Qual seria a mensagem por trás de tudo isso?
“Enquanto o tempo acelera e pede pressa,
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa,
A vida é tão rara”.
Desacelerar. A pandemia nos trouxe um senso de imediatismo, além de um volume e carga horária muito maior de trabalho. O fato de estarmos em casa muitas vezes nos fez perder os limites entre trabalho e vida pessoal.
Faz algum tempo que venho me sentindo cansada, mentalmente exausta e sem pausas. Nunca foi tão necessário e urgente falarmos sobre isso. Sinto todas as pessoas a minha volta trabalhando e vivendo em um ritmo frenético – ou seria exagerado? Estamos todos esgotados?
“A pandemia de covid-19 causou um aumento acentuado dos problemas de saúde mental, especialmente entre os jovens, os desempregados e pessoas em situação financeira precária”, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Por que nós enquanto sociedade ainda não estamos preparados para falar abertamente sobre isso? A maior parte das pessoas conecta o assunto diretamente ao estigma dos transtornos mentais. Mas a saúde mental vai muito além disso. O termo está relacionado à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e ao modo como harmoniza suas ideias e emoções. Diariamente, vivenciamos uma série de emoções, boas ou ruins, mas que fazem parte da vida. Como lidamos com essas emoções é o que determina como está a qualidade da nossa saúde mental.
“Em todo o mundo, há pessoas passando por algum tipo de problema emocional, mental ou psicológico. Ser capaz de dizer: “Foi isso que aconteceu comigo” é crucial”. Essa é fala é de Oprah Winfrey na série documental The Me You Can’t See, da Apple TV. O projeto, produzido por Oprah e pelo Príncipe Harry, traz discussões importantes sobre o tema saúde mental e conta com depoimentos da cantora Lady Gaga, da atriz Glenn Close, entre outras personalidades.
“Enquanto todo mundo espera a cura do mal,
E a loucura finge que isso tudo é normal,
Eu finjo ter paciência”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com algum distúrbio relacionado à ansiedade. Esse número coloca o Brasil no topo das nações mais ansiosas do mundo. Além disso, segundo levantamento realizado pela Vittude, plataforma digital voltada para o cuidado com a saúde mental, 37% das pessoas passam por problemas com estresse severo e 59% sofrem com a depressão.
Os desafios da saúde mental e o burnout surgiram como questões significativas para todos nós durante a pandemia. Uma pesquisa da Kaiser Family Foundation em 2020 descobriu que 45% dos americanos sentem que a crise da covid-19 está prejudicando sua saúde mental.
Globalmente, o impacto sobre as mulheres tem sido impressionante. Uma pesquisa da Mckinsey sobre diversos funcionários mostrou que, tanto em países avançados quanto em desenvolvimento, as mães (75%) são mais propensas do que os pais (69%) a estar lutando com preocupações de saúde mental.
“O mundo vai girando cada vez mais veloz,
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós,
Um pouco mais de paciência”.
O que fazer quando o esgotamento chegar?
Precisamos saber reconhecer os sinais e, principalmente, os nossos limites. Como disse o Príncipe Harry no documentário The Me You Can’t See, “Decidir receber ajuda não é um sinal de fraqueza. No mundo de hoje, mais do que nunca, é um sinal de força”. E eu não poderia concordar mais.
Na edição 2021 do F4S Young Women Summit falaremos sobre saúde mental em painel moderado por Andrea Janer (Fundadora da Oxygen) e apresentado por Luciana Barrancos (Gerente Executiva do Instituto Cactus), Mariana Ferrão (Jornalista, apresentadora, palestrante e fundadora da Soul.Me) e Nathalia Goulart (Sócia e Diretora da Bloom).
“É preciso ser forte para entender quando precisamos de pausa.
Será que é tempo que lhe falta pra perceber,
Será que temos esse tempo pra perder”.
Nós mulheres temos a tendência de colocar os outros em primeiro lugar, mas, quando se trata da nossa saúde, é importante priorizar e reconhecer as nossas próprias necessidades.
Meu filho me fez um chamado. E isso me faz refletir que eles nos ensinam muito mais do que aprendem.
“Eu sei, a vida não para,
A vida é tão rara”.
Como diz Lenine: “precisamos de um pouco mais de paciência”.
*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro. |
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