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‘Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma…’, como anda sua saúde mental?

É hora de desacelerar e acabar com o senso de imediatismo da pandemia.

Por ironia do destino, na semana em que resolvemos falar sobre saúde mental na Fin4she, eu colapsei. Último domingo, pós almoço, interior de São Paulo, casa do meu pai. Eu terminando um trabalho no computador. Meu marido estava no quarto assistindo televisão com meninos.

Vou até o quarto e pergunto: “cadê o Tom?”.

E a resposta: “está com você!”.

“Não, não está!”.

O Tom sumiu!

Procuramos incansavelmente. Perdi o ar. Me sentei no chão, colapsei. Minhas pernas tremiam, senti medo e uma das piores sensações da minha vida: a de nunca mais ver meu filho. Foram 45 torturantes minutos procurando em todos os cantos. Gritando e chamando por ele. Olhei para o lado e vi meu marido chorar. Desespero.

Meu pai estava na rua procurando pelo Tom e nada dele… Desaparecido!

Uma aflição que invadiu meu peito. Não sabia se ele estava desacordado em algum canto, se teria pulado um muro ou até mesmo se alguém o teria levado. Me senti em uma escuridão sem conseguir ver uma luz.

O cantor Lenine já dizia em sua música “Paciência”:

“Até quando o corpo pede um pouco mais de alma,

A vida não para”.

O Tom estava escondido o tempo todo, calado. Por quase uma hora. Resolveu sair. Um alívio misturado com uma ressaca que tomou conta de mim. O que tinha acontecido? Qual seria a mensagem por trás de tudo isso?

“Enquanto o tempo acelera e pede pressa,

Eu me recuso, faço hora, vou na valsa,

A vida é tão rara”.

Desacelerar. A pandemia nos trouxe um senso de imediatismo, além de um volume e carga horária muito maior de trabalho. O fato de estarmos em casa muitas vezes nos fez perder os limites entre trabalho e vida pessoal.

Faz algum tempo que venho me sentindo cansada, mentalmente exausta e sem pausas. Nunca foi tão necessário e urgente falarmos sobre isso. Sinto todas as pessoas a minha volta trabalhando e vivendo em um ritmo frenético – ou seria exagerado? Estamos todos esgotados?

“A pandemia de covid-19 causou um aumento acentuado dos problemas de saúde mental, especialmente entre os jovens, os desempregados e pessoas em situação financeira precária”, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).

Por que nós enquanto sociedade ainda não estamos preparados para falar abertamente sobre isso? A maior parte das pessoas conecta o assunto diretamente ao estigma dos transtornos mentais. Mas a saúde mental vai muito além disso. O termo está relacionado à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e ao modo como harmoniza suas ideias e emoções. Diariamente, vivenciamos uma série de emoções, boas ou ruins, mas que fazem parte da vida. Como lidamos com essas emoções é o que determina como está a qualidade da nossa saúde mental.

“Em todo o mundo, há pessoas passando por algum tipo de problema emocional, mental ou psicológico. Ser capaz de dizer: “Foi isso que aconteceu comigo” é crucial”. Essa é fala é de Oprah Winfrey na série documental The Me You Can’t See, da Apple TV. O projeto, produzido por Oprah e pelo Príncipe Harry, traz discussões importantes sobre o tema saúde mental e conta com depoimentos da cantora Lady Gaga, da atriz Glenn Close, entre outras personalidades.

“Enquanto todo mundo espera a cura do mal,

E a loucura finge que isso tudo é normal,

Eu finjo ter paciência”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 milhões de brasileiros sofrem com algum distúrbio relacionado à ansiedade. Esse número coloca o Brasil no topo das nações mais ansiosas do mundo. Além disso, segundo levantamento realizado pela Vittude, plataforma digital voltada para o cuidado com a saúde mental, 37% das pessoas passam por problemas com estresse severo e 59% sofrem com a depressão.

Os desafios da saúde mental e o burnout surgiram como questões significativas para todos nós durante a pandemia. Uma pesquisa da Kaiser Family Foundation em 2020 descobriu que 45% dos americanos sentem que a crise da covid-19 está prejudicando sua saúde mental.

Globalmente, o impacto sobre as mulheres tem sido impressionante. Uma pesquisa da Mckinsey sobre diversos funcionários mostrou que, tanto em países avançados quanto em desenvolvimento, as mães (75%) são mais propensas do que os pais (69%) a estar lutando com preocupações de saúde mental.

“O mundo vai girando cada vez mais veloz,

A gente espera do mundo e o mundo espera de nós,

Um pouco mais de paciência”.

O que fazer quando o esgotamento chegar?

Precisamos saber reconhecer os sinais e, principalmente, os nossos limites. Como disse o Príncipe Harry no documentário The Me You Can’t See, “Decidir receber ajuda não é um sinal de fraqueza. No mundo de hoje, mais do que nunca, é um sinal de força”. E eu não poderia concordar mais.

Na edição 2021 do F4S Young Women Summit falaremos sobre saúde mental em painel moderado por Andrea Janer (Fundadora da Oxygen) e apresentado por Luciana Barrancos (Gerente Executiva do Instituto Cactus), Mariana Ferrão (Jornalista, apresentadora, palestrante e fundadora da Soul.Me) e Nathalia Goulart (Sócia e Diretora da Bloom).

“É preciso ser forte para entender quando precisamos de pausa.

Será que é tempo que lhe falta pra perceber,

Será que temos esse tempo pra perder”.

Nós mulheres temos a tendência de colocar os outros em primeiro lugar, mas, quando se trata da nossa saúde, é importante priorizar e reconhecer as nossas próprias necessidades.

Meu filho me fez um chamado. E isso me faz refletir que eles nos ensinam muito mais do que aprendem.

“Eu sei, a vida não para,

A vida é tão rara”.

Como diz Lenine: “precisamos de um pouco mais de paciência”.

*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro.

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