O balanço financeiro da Vale (VALE3), referente ao primeiro trimestre de 2022, reportado na noite da véspera, pela mineradora, veio fraco e até abaixo das projeções de algumas casas de análises. Porém, mesmo com ganho 19,6% menor e um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, em inglês) abaixo do que analistas previam, as ações da companhia subiram 2,47%, para R$ 84,2, na sessão desta quinta-feira (28).
O fato é que o balanço ficou em segundo plano. O que chamou mesmo a atenção do mercado foi o anúncio do programa de recompra (o terceiro consecutivo anunciado pela mineradora) de até 500 milhões de ações ordinárias e ADRs (recibos de ações negociados nos Estados Unidos) – fatia que representa cerca de 10% dos papéis que a mineradora tem em circulação.
Entenda a recompra de ações da Vale
Na prática, o programa de recompra sinaliza que a empresa considera que sua ação está barata. A estratégia se baseia na lei da oferta e da procura: ao recomprar seus próprios ativos, a companhia diminui a oferta das ações disponíveis no mercado, contribuindo para elevar os preços dos papéis.
Além disso, a iniciativa demonstra que a administração confia no negócio e que a empresa tem um caixa sólido – afinal, será necessário desembolsar uma boa quantia para recomprar as ações.
XP Investimentos
André Vidal e Thales Carmo, analistas da XP Investimentos, escreveram em relatório que a Vale reportou resultados piores do que o esperado. A equipe pontuou que os menores volumes no primeiro trimestre afetaram os resultados da empresa, apesar de um ambiente de preços muito saudáveis para minério de ferro e níquel. Mas a grande novidade do dia, disseram os analistas, “não estava nas demonstrações financeiras, mas sim no anúncio de um novo programa de recompra de ações”.
A equipe da XP destacou ainda que “o anúncio de um novo programa agressivo de recompra de ações representa um claro sinal de confiança da administração na avaliação barata das ações”.
Goldman Sachs
Marcio Farid, Gabriel Simoes e Henrique Marques, analistas do Goldman Sachs, enfatizaram que a recompra anunciada supera de 2 a 2,5 vezes o montante anunciado nos últimos dois programas da mineradora. A equipe acredita que “apesar dos lucros operacionais marginalmente mais fracos do que o esperado”, os investidores devem se concentrar no programa “agressivo” de recompra.
A equipe do Goldman explicou que a recompra somará um total de US$ 8,2 bilhões, considerando o preço atual da ação da Vale. Além disso, é o terceiro programa de recompra consecutiva e uma vez concluído (o que pode ocorrer em até 18 meses) somará 22% do total de ações já recompradas.
Nos últimos 12 meses, a Vale recomprou 33 milhões de ações por mês em média, e completou sua recompra dentro de 6 e 7 meses, contra uma janela que pode ser de até 18 meses. “O programa anunciado é de longe o maior desde o início do programa em 2021 (os outros foram de 270 milhões e 200 milhões de ações) e mais uma vez destaca a confiança da administração no negócio”, explicaram Marcio Farid, Gabriel Simoes e Henrique Marques.
A equipe também constatou que, em 2021, cerca de 30% do retorno total ao acionista foi na forma de recompras e 70% na forma de dividendos. “Se assumirmos o mesmo índice para 2022 e considerando nossa expectativa de retorno total ao acionista de US$ 17 bilhões, a Vale poderia recomprar o equivalente a 6% de seu valor total no mercado”.
BofA
A equipe do Bank of America (BofA), por sua vez, disse que a recompra e nova política de alavancagem “adicionam tempero” aos resultados que vieram em linha com o esperado. Isso porque a empresa também alterou a meta de sua dívida de US$ 15 bilhões para um intervalo US$ 10 e US$ 20 bilhões.
“No geral, os números ficaram muito em linha com as expectativas, mas acreditamos que o tamanho do programa de recompra deve ser bem recebido pelo mercado”, escreveram Caio Ribeiro, Leonardo Neratika e Guilherme Rosito.
Ativa Investimentos
A Ativa Investimentos lembrou em relatório que a Vale aprovou o novo programa de recompra faltando ainda 32 milhões de ações para completar seu atual plano de recompra envolvendo 200 milhões de ações ordinárias.
“O fato demonstra que o management da companhia considera os valores atuais pelos quais seus papéis são transacionados como extremamente atrativos, ajuda a alinhar os interesses entre acionistas e empresa e assim deve ser absorvido de forma positiva pelo mercado”, escreveram Ilan Arbetman e Tadeu Lourenço.
Números da Vale
A mineradora obteve lucro líquido de US$ 4,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022, uma queda de 19,6% comparado com o mesmo período do ano anterior.
A receita de vendas líquidas atingiu US$ 10,8 bilhões no trimestre, queda de 13,9%, ante os US$ 12,55 bilhões obtidos um ano antes.
Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado atingiu US$ 6,37 bilhões nos três primeiros meses do ano, contra US$ 8,6 bilhões vistos em igual período de 2021.
O BofA elencou o FCFE ( luxo de caixa para o acionista, ou o valor dos dividendos que a empresa irá distribuir aos investidores) como o principal destaque negativo, “que decepcionou novamente em US$ 1,2 bilhão (o que representa um yield de 6% no ano), principalmente devido a um aumento de US$ 720 milhões no capital de giro e pagamentos de impostos de US$ 2,6 bilhões devido às diferenças entre impostos pagos ao longo do ano e impostos devidos em o fim do ano”, escreveram os analistas.
A equipe também ressaltou que as provisões relacionadas à Brumadinho aumentaram de US$ 7,1 bilhões para US$ 8,3 bilhões, principalmente devido à valorização do real no trimestre. A dívida líquida cresceu de US$ 1,9 bilhão para US$ 4,9 bilhões, principalmente devido a US$ 3,5 bilhões em dividendos pagos no trimestre.
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