Os dados estão no novo estudo EY Global IPO Trends Q2 2022. IPO (Initial Public Offering) significa a oferta inicial de ações de uma empresa na Bolsa de Valores.
No segundo trimestre, o mercado global teve 305 novas ofertas, movimentando US$ 40,6 bilhões, equivalente a uma queda de 54% e 65%, respectivamente, comparando-se com o mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, foram registradas 630 novas ofertas e US$ 95,4 bilhões levantados em receitas, equivalendo a quedas de 46% e 58%, respectivamente.
“Os investidores se tornaram mais seletivos e estão se concentrando em empresas que demonstrem modelos de negócios resilientes e crescimento lucrativo, ao mesmo tempo em que incorporam ESG como parte de seus principais valores”, afirma o vice-líder global de IPO da EY.
O setor de energia foi responsável por três dos quatro maiores IPOs no primeiro semestre deste ano. O setor de tecnologia continuou a liderar em números, mas a média de arrecadação caiu de US$ 293 milhões para US$ 137 milhões, enquanto o de energia tomou a liderança ao ampliar a arrecadação média de US$ 191 milhões para US$ 680 milhões na comparação anual.
No Brasil, o mercado de IPOs tem desacelerado desde o início de 2022, quando dezenas de empresas cancelaram ou adiaram seus planos de abrir o capital. Esta é a primeira vez que o Brasil vive uma escassez de novas ofertas no primeiro semestre de um ano desde 2016. A volatilidade do mercado deve continuar conforme a alta da inflação persistir e as taxas de juros continuarem na faixa dos dois dígitos.
Segundo Flavio Machado, sócio-líder de IPO e Assessoria em Contabilidade e Finanças da EY Brasil, a ausência de mudanças significativas no mercado brasileiro nesse período é um reflexo do que vem sendo observado em outros países. E o futuro merece um olhar atento. “Sabemos que o Brasil está inserido e, dessa forma, é fortemente impactado pelo cenário internacional. Mesmo após as eleições, será importante uma melhora de cenário tanto interno quanto externo para voltarmos a ser atrativos para os investidores, permitindo a retomada de novos IPOs.”
Cenário mundial
Nas Américas, os IPOs tiveram a queda mais acentuada entre todas as regiões no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período em 2021, com negócios caindo 73% (41 novas ofertas) e as receitas 95% (equivalente a US$ 2,5 bilhões). Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, os negócios e as receitas aumentaram 14% e 6%, respectivamente.
Nos Estados Unidos, a maior parte dos IPOs de 2021 está sendo negociada abaixo do preço de oferta, e o desempenho médio está acompanhando as maiores quedas do mercado, influenciando a decisão dos investidores em participar de novas transações. Apesar do nível reduzido da atividade global de negócios dessa categoria realizados em 2022, o mercado norte-americano continua sendo o principal foco desse tipo de operação.
A região da Ásia-Pacífico encerrou o trimestre com uma queda de 42% nas receitas e 37% nos negócios em relação ao mesmo período no ano anterior, mas, no geral, houve um desempenho relativamente melhor no acumulado do ano. A região viu 181 novas ofertas, arrecadando US$ 23,3 bilhões em receitas no segundo trimestre e US$ 66 bilhões no acumulado de 2022, equivalentes a 367 IPOs. Desse total, a Bolsa de Valores de Shenzhen foi responsável por 13% das ofertas globais – total de 82 negócios realizados –, enquanto a de Xangai teve os maiores rendimentos, com US$ 32,8 bilhões, representando 34% do total.
A China registrou um declínio anual de 36% em negócios (191) e uma queda de 16% em receitas (US$ 51,2 bilhões). Uma convergência de fatores, tais como as restrições impostos pela pandemia de Covid-19, o mercado de ações enfraquecido e o aumento das taxas de juros, teve um impacto negativo na atividade de IPOs em Hong Kong. Com a expectativa de recuperação da economia chinesa no terceiro trimestre de 2022, espera-se que haja um aumento no ânimo dos investidores.
No Japão, o mercado observou 37 novas ofertas de ações arrecadarem US$ 0,5 bilhão em receitas totais no acumulado do ano, equivalente a uma queda de 84% em receitas e de 31% em negócios nesse período. Entre as principais causas estão os conflitos geopolíticos, o aumento dos preços da energia e a depreciação do iene.
A Austrália e a Nova Zelândia também testemunharam um cenário de queda nos IPOs do acumulado do ano, embora mais modesto na comparação com 2021 – de apenas 3% -, mas impactante no que se refere às receitas, cujo declínio foi calculado em 76%. Um dos motivos reside no fato de que grandes IPOs foram adiados para o terceiro ou o quarto trimestre de 2022.
No segundo trimestre, a região da EMEIA (Europa, Oriente Médio, Índia e África) continuou sendo o segundo maior mercado de IPOs no segundo trimestre depois da Ásia-Pacífico, registrando 83 operações (queda de 62%) e receitas de US$ 14,8 bilhões (queda de 44%) no período. No acumulado do ano, foram 186 novas ofertas, gerando US$ 24,4 bilhões em recursos.
Na Europa, foram 43 os IPOs realizados no segundo trimestre, com receitas arrecadadas de US$ 1,5 bilhão. A região foi responsável por 15% dos negócios globais e 4% das receitas no acumulado de 2022, sendo que duas bolsas europeias estavam entre as 12 principais por receitas e uma delas por número de negócios.
No Reino Unido ocorreu o ritmo mais lento da atividade, devido a uma queda na confiança dos investidores desde o quarto trimestre de 2021. No acumulado de 2022, foram realizadas apenas 13 novas ofertas, sendo quatro delas no segundo trimestre, com receitas totais de US$ 149 milhões, equivalente a uma queda anual de 71% em volume e 99% em receitas na comparação com o ano anterior. O órgão regulador daquele país já definiu planos para simplificar a listagem na Bolsa de Valores de Londres, a fim de atrair mais empresas de tecnologia e startups em rápido crescimento.
No acumulado do ano, a Índia foi a única região a ter um aumento, tanto em negócios (18%) quanto em receitas (19%), tendo 32 IPOs realizados no segundo trimestre, e um deles arrecadando US$ 2,7 bilhões.
Perspectivas para o terceiro trimestre
Se o primeiro semestre de 2022 foi marcado pelo adiamento dessas operações, existe a possibilidade de surgir um volume saudável de negócios, caso seja percebida uma redução das incertezas e da volatilidade atuais. Mas, na visão dos especialistas, elas deverão permanecer no terceiro trimestre, assim como as tensões geopolíticas, os fatores macroeconômicos, o fraco desempenho do mercado de capitais e o impacto da pandemia.
O setor de tecnologia provavelmente continuará liderando em número de negócios, enquanto espera-se que o setor de energia, com maior foco em fontes renováveis diante do aumento dos preços do petróleo, continue na liderança em receitas.
O ESG continuará a ser um tema-chave para investidores e empresas inclinadas a abrir seu capital na bolsa, independentemente do setor. Conforme as mudanças climáticas globais e as restrições de fornecimento de energia se intensificam, as empresas que incorporarem o ESG em suas operações de negócios deverão atrair mais investidores e gerar maior valuation.