O dólar comercial alcançou o recorde nominal de R$ 4,38 na semana passada — e não dá sinais de que voltará a cair tão cedo. Mas quais as implicações para quem lida direta e indiretamente com a moeda mais importante do mundo e como não perder dinheiro neste período de valorização?
O estrategista-chefe da Laatus, Jefferson Laatus, explica que o dólar vem em uma crescente frente a várias moedas do mundo, influenciado especialmente por preocupações com a disseminação dos casos de coronavírus. Mas deve interromper o ciclo de recordes assim que a China — principal parceira comercial do Brasil — retomar as operações em suas fábricas.
“Essa parada do parque fabril da China está afetando a economia e desacelerando a economia global”, acrescenta Laatus, porque a China fornece muitas mercadorias para o mundo todo. “Mas vale lembrar que aqui no Brasil existe um pouco de exagero na especulação do dólar”.
Enquanto a cotação da moeda norte-americana não cai, confira as dicas dos especialistas para proteger seu dinheiro da valorização:
Para quem vai viajar
O publicitário Pedro Werneck, de 29 anos, está de viagem marcada para a Flórida, nos EUA. A passagem já está comprada há alguns dias, mas os dólares ainda não. Ele conta que está assustado com a valorização da moeda e que deve encurtar o passeio para economizar. “Vou esperar chegar mais perto da viagem para comprar. Talvez eu não consiga visitar meu tio que mora em Miami, porque não quero ter um custo extra além do que terei em Orlando. Também não pretendo fazer compras lá, por causa do dólar alto”.
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Segundo o sócio da MelhorCambio.com, Felipe Teyer, o melhor é não deixar para comprar a moeda de última hora, muito menos de uma vez só. “A ideia é que a pessoa vá ao longo do tempo comprando pequenas quantidades porque, com isso, uma hora ela vai comprar mais caro, outra hora mais barato, mas no final das contas ela terá um preço médio que vai protegê-la de picos de alta da moeda”, recomenda.
A coordenadora dos grupos Disney da agência Happy Tour, Kika Mamede defende que apesar de assustar, o dólar mais caro não impede que os brasileiros viajem. “A alta do dólar sempre assusta o clientes e é inevitável a queda do movimento, mas o brasileiro não deixa de viajar. Ele não tem medo do dólar alto, ele só tem medo de não saber quanto vai pagar. Se fizer um planejamento, já sabendo quanto é, vai apenas priorizar algumas coisas.”
Para o dia a dia
Muitos produtos que consumimos aqui são derivados de matérias-primas importadas, a exemplo do trigo. Logo, até produtos feitos aqui, como pães e massas, podem ficar mais caros com a alta da moeda. Produtos químicos, muito utilizados em lavouras e plantações, vêm do exterior e, por isso, o preço dos alimentos produzidos no Brasil também pode aumentar, o que pressiona nossa inflação.
Para o importador, alguns insumos ficam bem mais caros neste cenário. É o caso de produtos em que a indústria brasileira é mais forte – aço, tecidos, plásticos etc. Como consequência, eles perdem competitividade no mercado nacional. Por outro lado, existem produtos que o Brasil não produz e que continuarão tendo demanda, mesmo com a alta do dólar, por isso seguem como boas opções para continuar importando, como é o caso do trigo.
Para o consumidor, a recomendação do terapeuta financeiro do canal ‘Dinheiro à Vista’, Reinaldo Domingos, é diversificar as compras neste período. “O dólar tem um impacto direto em praticamente todos os setores da cadeia de produtos e serviços. É preciso buscar alternativas, no caso de produtos, como alimentação, vestuário e principalmente marcas. Ele recomenda pesquisar mais e fazer a troca de produtos importados por nacionais, sempre que possível.
Para o investidor
Em momentos de valorização da moeda norte-americana, uma das opções para se proteger é investir em fundos cambiais. Um fundo cambial nada mais é que um fundo coletivo que investe em moedas internacionais e fortes, como o dólar e o euro. Eles podem ser usados tanto como um hedge (proteção) contra a variação do câmbio, como para lucrar com a valorização do ativo.
“O investidor quer ter exposição a dólar em duas opções: ao apostar que o dólar vai subir, ou quando há uma dívida ou um gasto planejado em dólar e é preciso se proteger caso o dólar suba”, explica o professor de finanças do Insper, Michael Viriato. Se subir, o fundo rende mais e essa valorização cobre a dívida ou a perda com a despesa futura.
Porém, na opinião de Viriato, este não é o momento ideal para buscar este tipo de investimento, uma vez que, em sua visão, o dólar já está bastante valorizado e a chance de continuar a subir é mínima. Além disso, os fundos cambiais estão sujeitos a taxas como a de administração e dois tipos de imposto: o Imposto de Renda, que incide sobre os rendimentos, e o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
“Se você vai fazer uma viagem, por exemplo, não deveria investir em um fundo cambial, porque se a moeda valorizar, vai ter que pagar Imposto de Renda sobre o rendimento do fundo. Como você provavelmente vai viajar em um prazo curto, esse IR vai ser elevado, entre 15% e 20% ou mais. Ou seja, você vai perder 20% da valorização só no IR. Não faz sentido”, alerta o professor.