A Deposteron, ou cipionato de testosterona, hormônio distribuído pela farmacêutica brasileira EMS e utilizado para tratamento hormonal de homens cis e pessoas transmasculinos, sofreu um aumento no preço de 200% nas últimas semanas. O medicamento, que antes era comercializado em uma faixa de R$ 50, passou a ser encontrado nas farmácias com uma média de R$ 200.
O aumento da Deposteron ficou muito acima do reajuste aplicado aos preços dos medicamentos no Brasil a partir de abril deste ano, de 10,89%.
O hormônio distribuído pela farmacêutica era popularmente conhecido por ser um dos mais baratos e acessíveis do mercado para a realização de reposição hormonal, em caso de homens cis que sofrem deficit, e para terapia hormonal, em caso de pessoas transmasculinas que desejem fazer o procedimento.
A medicação é de uso contínuo e a caixa contém três ampolas, que permitem três aplicações intramusculares, com intervalos que variam de duas a quatro semanas, dependendo da indicação médica.
Nas últimas semanas, a líder do mercado farmacêutico brasileiro acumulou mais de 400 reclamações no site Reclame Aqui na categoria “valor abusivo”, segundo os clientes. A empresa foi procurada pelo InvestNews, mas até a última atualização desta matéria, não houve retorno e posicionamento sobre o assunto.
Aumento de preço afeta vida de pessoas trans
Estudos indicam que uma grande parcela de pessoas trans encontra-se em situação de vulnerabilidade financeira. O diagnóstico LGBT+ realizado pela Vote LGBT em 2021, com cerca de 7.700 pessoas das cinco regiões brasileiras, mostra que 6 em cada 10 dos desempregados LGBT+ (59,47%) já estão sem trabalho há 1 ano ou mais. Também, 4 em cada 10 pessoas LGBT+ (41,53%) vivem em domicílios com insegurança alimentar. Quando se fala em pessoas trans, esse número sobe para mais da metade (56,82%).
Em entrevista ao InvestNews, Pedro Maia, um jovem trans, arquiteto e morador do Rio de Janeiro, que usa a Deposteron, conta como a mudança de preço do medicamento tem potencial de afetar sua vida. Ele, que precisa fazer o uso do medicamento a cada 15 dias, relata que vai precisar pensar em uma nova organização financeira para arcar com o custo.
“Ainda não caiu muito a ficha, acho que no momento em que eu precisar ir à farmácia e começar a parcelar o valor do hormônio que vou entender como me organizar financeiramente para manter a terapia hormonal”, comenta.
O arquiteto compartilha também o sentimento de desânimo a respeito do caso. “Tanto no sentido de não saber se será possível me manter usando, quanto da desconsideração com os transmasculinos que compram esse medicamento, e que em sua maioria não possuem uma vida financeira apta para um gasto tão alto e com tanta frequência”, conta.
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