Além da alta do Ibovespa e queda do dólar, a reação do mercado após o 1º turno das eleições foi marcada por queda na curva de juros. Para especialistas ouvidos pelo InvestNews, o movimento reflete a percepção de menos risco do mercado, com perspectiva de menor preocupação fiscal – o que reduz o prêmio exigido por investidores para emprestar seu dinheiro e, consequentemente, tende a baixar os juros.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ficou cerca de 6 milhões de votos atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma distância menor do que indicavam pesquisas de intenções de votos. “Isso implica na percepção do mercado de que, provavelmente, as campanhas devem migrar para um discurso um pouco mais alinhado em relação ao eleitor de centro”, comenta Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo Investimentos.
“Com isso, aumenta a percepção de que você possa ter no novo governo, qualquer que seja o candidato, uma trajetória favorável para os prêmios de risco, conforme esses ajustes são feitos”, complementa.
Nesse cenário, o dia foi de queda da curva de juros na segunda-feira (3). “A curva de juro teve uma boa arrefecida, em especial nos contratos de médio e longo prazo, que são mais influenciados pelas expectativas de mercado do que apenas pela política monetária do BC”, explica Eduardo Perez, analista de investimentos da NuInvest.
Para ele, esse movimento reforça a ideia de que “a curva de juros no Brasil tinha bastante gordura nas taxas por conta de todo cenário inflacionário e o receio do período eleitoral”.
Em meio ao recuo da curva de juros, o dia foi marcado por recuo dos títulos prefixados (com taxa de remuneração definida no momento da compra do papel) e juros DI (sigla para Depósito Interbancário, taxa referente aos empréstimos entre bancos e que serve de referência para a remuneração de diversos investimentos em renda fixa).
“Porque nossa curva de juros futura opera em patamares mais baixos. Depois da última reunião do Copom em que o BC deixou claro que 13,75% seria o teto da nossa taxa de juros, o mercado respondeu com uma significante força vendedora nos DI’s, que são os contratos referentes à nossa curva de juros”, comenta Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos.
“Isso faz com que as novas emissões dos papéis de renda fixa pré sejam indexados à taxas menores vis à vis as taxas do período pré-Copom e consequentemente pré-eleição”, continua.
Respondendo sobre o que esperar dos investimentos em renda fixa após as eleições, Celestine diz que, “apesar de a disputa estar cada vez mais apertada e acirrada, as taxas continuam gordas por algum tempo para ancorar as expectativas de inflação”.
Para ele, esse tipo de aplicação fica em posição de vantagem “frente a aplicações na bolsa de valores por exemplo, em que, além de lidar com retornos que não são garantidos, o investidor precisa também controlar seus ânimos em períodos de alta volatilidade, como o que estamos passando nesse momento”.
Outros fatores além da eleição
Apesar de apontarem o resultado do 1º turno como o principal fator de alívio da curva de juros, especialistas comentam outros fatos que ajudaram no cenário.
“Claro que há outras pequenos fatores positivos, como os ânimos dos investidores internacionais, a fala de Roberto Campos Neto (presidente do BC) sinalizando que espera o começo do corte da Selic em junho de 2023 e as novas projeções do relatório Focus com reduções para o IPCA, além da revisão positiva para o PIB”, lista Perez, da NuInvest.
Costa, da Monte Bravo, acrescenta que, “obviamente, a gente não pode deixar de falar também do cenário global”. “Teve dados de atividade dos Estados Unidos, principalmente o ISM, que acabou surpreendendo, vindo para o lado mais fraco das expectativas, com sub-componentes mostrando um enfraquecimento na parte de emprego. Também o indicador mostrando que a economia pode estar sentindo um pouco mais claramente os sinais de aperto da política monetária.”
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