Foi, além disso, uma decisão de consumo, com forte correlação com as condições da economia. É o que faz gestores e analistas acompanharem os gastos dos consumidores, divulgados a cada mês ou trimestre pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras instituições, em busca de dados que vão influenciar as ações das empresas.
A lógica é de que se alguém fez determinado gasto, por exemplo, indo à academia, foi sob forte influência das condições econômicas. Se o Produto Interno Bruto (PIB) cresce mais rápido, as pessoas consomem mais, com impacto positivo sobre o lucro das empresas. Mas existe o problema da defasagem entre o momento em que os dados são coletados e divulgados.
O que se passou no último trimestre capta
uma tendência de médio prazo, mas não ajuda quem precisa imaginar o que vai se
passar na próxima semana ou mesmo no próximo mês. Para estes, Seda Oz e Steve
Fortin, pesquisadores e professores da Escola de Finanças da Universidade de
Waterloo, no Canadá, têm um conselho: olhar as bilheterias de cinema.
Sozinho ou acompanhado, ir ver um filme é
um indicador importante das decisões de consumo, segundo um estudo da dupla,
que acaba de ser publicado no Financial
Management Journal. É um gasto não só
supérfluo como caro, envolvendo muitas vezes não só o ingresso, mas também
estacionamento (ou transporte), pipoca e refrigerante. Não é difícil, para uma
família de quatro pessoas, que o custo passe de R$ 200. Sem contar o lanche
depois.
É por isso, defende o trabalho, que ter
mais gente é um bom indicador do desempenho da economia. E com uma grande
vantagem: a frequência. Enquanto dados amplos demoram um mês ou mais, o faturamento
das bilheterias tem atualização diária, captando primeiro as variações no
consumo. Resultado que Oz e Fortin obtiveram comparando os números das
bilheterias e o desempenho do S&P 500 entre 1997 e 2019.
A frequência ao cinema se mostrou um curioso,
porém confiável modo de prever o desempenho médio das ações, com os ciclos de
ganhos nas bilheterias geralmente acompanhados de alta de cinco dias do índice
ou até de uma semana. Pelo menos para os americanos, ir ao cinema parece ser
uma das primeiras prioridades quando o dinheiro começa a sobrar. O que permite
que ganhos de bilheteria captem antes as mudanças na economia.
Os dois professores sugerem incorporar mais este dado às projeções de mercado. Ou mesmo usar as bilheterias como estratégia de investimento, antecipando movimentos em setores mais afetados pelas variações.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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