“Haddad, de vez em quando eu sei que você ouve algumas críticas. Eu tenho que elogiar você e a equipe que trabalharam. Certamente, em se tratando de economia, de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade”, disse o presidente durante discurso a todo ministério reunido.
“Eu tenho certeza que vai fazer sucesso, que vai ser aprovado (no Congresso) e tenho certeza que a gente vai colher os frutos que foram plantados”, seguiu.
A proposta final da equipe econômica foi apresentada na semana passada, depois de meses de reuniões e embates internos do governo. Durante as discussões, Haddad foi alvo de fogo amigo de ministros e membros do PT, que queriam um texto menos rígido e com mais espaço para o governo gastar, especialmente nos primeiros anos.
O governo enviará o projeto de novo arcabouço fiscal ao Congresso junto com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, disse nesta Haddad nesta segunda.
A data limite para que o governo entregue ao Legislativo o projeto da LDO, com as premissas orçamentárias para o ano seguinte, é 15 de abril. Portanto, o texto pode ser enviado com a proposta até a sexta-feira, dia 14 –o arcabouço precisa de maioria absoluta na Câmara e no Senado para ser aprovado.
Mercado financeiro
Em seu pronunciamento nesta segunda, Lula sugeriu que comandará o governo por um caminho que contorna tanto as exigências dos mercados financeiros quanto as crítica de alas mais radicais da esquerda brasileira.
“É importante que essa gente fale, para a gente fazer diferente do que eles querem que a gente faça”, disse Lula sobre os mercados financeiros e órgãos internacionais como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Ao mesmo tempo, Lula sugeriu que não segue alas de extrema-esquerda dentro do PT e que pessoas de visões mais radicais prestam um serviço ao mantê-lo no caminho “do centro”, sem deixá-lo ir para a direita.
“Agradeçam as pessoas que acham que o Brasil não vai bem, que fazem crítica, porque eles estão dizendo exatamente aquilo que a gente não deve fazer”.
Lula
Novos ataques à taxa de juros
O presidente não abriu mão, porém, de novos ataques à taxa básica de juros, atualmente em 13,75%, na mais recente crítica à conduta da política monetária pelo Banco Central.
“Estão brincando com o país, com o povo pobre e sobretudo o empresário que quer investir no país”, disse o petista.
Seus ataques recorrentes ao BC chegaram a causar turbulências no mercado financeiro neste início de mandato, mas investidores se tranquilizaram com o tom ainda duro do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre os riscos de desancoragem das expectativas de inflação.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, chegou a elogiar o “esforço” do governo com a apresentação do novo arcabouço, mas disse mais de uma vez que não há relação mecânica entre uma melhora fiscal e cortes de juros.
Desenrola e promessas
Na cerimônia dos 100 dias de governo, Lula elogiou a união dos Três Poderes contra os ataques em 8 de Janeiro — que ele atribuiu à extrema-direita que não queria deixar o poder — e renovou promessas, como a meta de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e dar impulso governamental para uma transição energética, fazendo do país uma potência em hidrogênio verde.
Apesar dos elogios públicos, o presidente também cobrou o ministro da Fazenda pelo atraso no cronograma do programa de negociação de dívidas prometido pelo governo durante a campanha, o Desenrola, que até agora não foi lançado.
“Eu lembro que dizia na campanha que, se a gente não fizer, dá a impressão de que a gente está enrolando o povo”, disse Lula ao ministro, que estava presente na reunião ministerial.
“Como o programa se chama Desenrola, Haddad, eu queria que você e a sua equipe fizessem uma conversa na Casa Civil e preparassem esse programa para a gente lançar. Por mais dificuldade que a gente possa ter, tem que ter um começo.”
Haddad disse na semana passada que espera lançar o Desenrola ainda neste semestre, mas ponderou que o governo encontrou problemas no desenvolvimento de seu software, com dificuldade para convencer empresas credoras a fornecer dados que alimentem o sistema operacional do programa.
Também houve cobrança pública de Lula ao comando dos bancos públicos, que segundo ele devem oferecer crédito em condições mais vantajosas para micro, pequenos e médios produtores. Ele afirmou que não é desejo do governo que percam dinheiro, mas frisou que eles têm finalidades distintas das instituições privadas.