A crise de bancos regionais dos Estados Unidos já levou à falência quatro deles em 2023. De um lado, está o alerta se essa crise de instituições financeiras pode ganhar proporções maiores. Do outro, grandes bancos norte-americanos têm se tornado uma solução para os colapsos financeiros no país. Em meio a este cenário, na avaliação de analista, o momento é de consolidação dos grandes bancos do país.
Do início de março de 2023 até o começo de maio, já foram à falência o Silicon Valley Bank, o Signature Bank, o Silvergate e, mais recentemente, o First Republic Bank.
Esses casos figuram entre a segunda e a terceira maior falência de bancos da história dos Estados Unidos, ficando atrás somente da do banco Washington Mutual, que quebrou na crise financeira de 2008.
Especialistas dizem que a crise de bancos regionais nos Estados Unidos ainda não é motivo de preocupação por enquanto. Porém, um novo movimento é sinalizado: o de uma consolidação.
Luan Alves, analista-chefe da VG Research, avalia que o que se observa agora é uma consolidação, com os bancos grandes comprando os menores.
“Esse processo está se materializando. Os bancos grandes vão sair mais fortes dessa crise”.
luan alves, analista-chefe da vg research.
Diferença da crise de 2008
Ao contrário do que aconteceu na crise de 2008, agora, os grandes bancos dos Estados Unidos acabaram se tornando parte da solução da crise bancária do país.
O Silicon Valley Bank foi comprado pelo First Citizens Bank. O Signature Bank foi adquirido pelo Flagstar Bank. E o JPMorgan comprou o First Republic Bank.
Embora existam receios de “crise bancária” entre os regionais, para os grandes bancos os sinais têm sido outros. Apesar do cenário de turbulência financeira nos Estados Unidos, os balanços do primeiro trimestre de 2023 de grandes bancos do país mostraram avanços nos ganhos, superando expectativas.
O lucro líquido combinado de bancos como JPMorgan, Bank of America, Wells Fargo, Citigroup, Goldman Sachs e Morgan Stanley alcançou US$ 36,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um montante 17,4% superior ao registrado no mesmo período de 2022. A maioria deles conseguiu ampliar os seus ganhos no período.
Somente nos três primeiros meses deste ano, os grandes bancos norte-americanos conseguiram lucrar mais do que o total de empréstimos de US$ 30 bilhões que 11 bancos dos Estados Unidos fizeram para tentar manter o First Republic Bank.
Em meio a este cenário, o resgate do First Republic Bank pelo JPMorgan, por exemplo, está sendo avaliado como a melhor aquisição que o gigante de Wall Street fez em décadas. A estimativa é que pode render lucros anuais de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão ou mais para o JP Morgan, oferecendo recompensas muito atraentes por um longo período de tempo.
Número elevado de falências não preocupa?
Só nos últimos 10 anos, mais de 120 bancos faliram nos Estados Unidos. Se considerar o período desde a crise de 2008, foram mais de 500 falências.
Especialistas explicam que os números altos se justificam pelo grande volume de bancos que existem no país e por serem regionais, mas que não se trata, necessariamente por ora, de algo preocupante.
Isso porque os bancos americanos e globais têm hoje uma regulação muito mais restritiva, que foi aprovada após a crise de 2008. Dessa forma, o sistema financeiro atual se tornou mais seguro, com os níveis de capital regulatório maiores, níveis de alavancagem do sistema menores, e as regulações ao redor de empréstimos mais duras. Assim, o sistema se tornou muito mais seguro, mas ainda não à prova de falências.
Outro ponto é a rápida manifestação recentemente do Federal Reserve (Fed), o banco central do país, e do governo americano, garantindo depósitos de clientes, ajudando a estancar a crise de confiança que se gerou com os bancos regionais.
Além disso, os reguladores dos Estados Unidos vêm atuando para encontrar soluções e evitar um contágio da crise para outras instituições financeiras do país, que conta com mais de 4 mil bancos. Foram oferecidos, por exemplo, milhões de dólares em incentivos para possíveis compradores.
Ponto de atenção
Embora um novo cenário sobre a crise bancária nos Estados Unidos comece a ser traçado, a recomendação que fica, segundo Alves, é de avaliação dos possíveis futuros casos de falências de bancos no país para verificar se uma crise sistêmica pode acontecer, os possíveis contágios em outros setores ou até aonde ela pode ser limitada.
Relembre os casos
No caso do Silvergate, a falência afetou especialmente as operações da instituição financeira, que reportou uma perda de quase US$ 1 bilhão e viu os depósitos recuarem de quase US$ 12 bilhões para US$ 4 bilhões no quarto trimestre de 2022.
O Silicon Valley Bank, focado em empresas de capital de risco, se viu forçado a liquidar títulos, se desfazendo de US$ 21 bilhões em suas participações em empresas. A liquidação resultou em perda de quase US$ 2 bilhões.
O First Republic, focado em pessoas com maior poder aquisitivo, não conseguiu apresentar um plano de resgate viável e revelou ter perdido mais de US$ 100 bilhões em depósitos no primeiro trimestre.
Já o Signature Bank registrou um total de US$ 89 bilhões em depósitos no início de março. O banco tinha US$ 110 bilhões em ativos até 31 de dezembro de 2022.
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