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CCR, EcoRodovias, Sabesp: privatizações entram no radar, mas geram dúvidas

Em meio a planos do governo de SP, veja recomendações de especialistas para CCRO3, ECOR3 e SBSP3.

O governo de São Paulo anunciou que pretende realizar 11 leilões de projetos de infraestrutura até 2026. Nesse cenário, para quem tem interesse no setor de concessões, em empresas como CCR (CCRO3) e EcoRodovias (ECOR3), e na própria companhia de saneamento Sabesp (SBSP3), a notícia é positiva e abre um leque de oportunidades, mas talvez não o suficiente para ter posição na tese de investimento, segundo especialistas.

A expectativa do governo é atrair R$ 42,3 bilhões em investimentos. Os projetos envolvem a concessão de linhas de transporte público da Companhia Paulista de Trens Urbanos (CPTM) e do Metrô, mais de dois mil quilômetros de rodovias e a privatização da Sabesp.

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas 06/12/2022 REUTERS/Adriano Machado

“Com as privatizações, há muita discussão sobre a agregação de eficiência e a possibilidade de menos interferência do governo”, diz Guilherme Tiglia, sócio e analista de ações responsável pela carteira de Dividendos da Nord Research. “Pode ser um gatilho interessante para a expansão dos resultados dessas empresas”, aponta.

Mas, apesar da notícia ser vista com bons olhos pelo mercado, na opinião do especialista, não é o suficiente para um investimento. “Caso a desestatização não vá para frente, não há justificativa para alocação agora”, complementa. Em outras palavras, as perspectivas para as empresas que têm oportunidade de realizar novos investimentos é positiva, porém os riscos do setor não compensam os planos que ainda não estão concretos.

“Ainda não há visibilidade da taxa de retorno desses projetos, portanto é um risco e ponto de monitoramento. Além disso, nas empresas de concessão, o volume de tráfego nas rodovias está relacionado ao PIB do país. Em um momento positivo, será bom para o volume – mas o inverso também é válido. Essas empresas são reféns de algo pouco controlável, e isso afeta seus resultados diretamente”

Guilherme Tiglia, sócio e analista de ações da Nord Research

O que esperar

Conforme o anúncio do governo, os projetos passam pela última etapa administrativa que antecede a assinatura do aditivo ao contrato de concessão que regerá o processo de leilão solicitado em julho de 2022.

No caso das rodovias, o governo avalia a estruturação de trechos atualmente concedidos e outros sob administração do departamento estadual DER no interior, litoral e Grande São Paulo. A previsão é atrair investimentos em torno de R$ 32,3 bilhões.

Já a proposta de transporte sobre trilhos envolve concessão de linhas e a criação de parcerias público-privadas para a expansão de ramais ferroviários. As linhas 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira, 13-Jade e a futura 14-Ônix da CPTM estão nos planos, com previsão de aportes de até R$ 11 bilhões.

Veja abaixo os possíveis impactos para cada empresa:

CCR

Trecho da rodovia Presidente Dutra, de concessão da CCR, em São Paulo 01/08/2019 REUTERS/Gabriel Araujo

Segundo Guilherme Tiglia da Nord Research, a CCR não deve trazer novidades surpreendentes daqui para frente. 

“A expectativa mais relevante já aconteceu: os problemas de governança já passaram por processos de melhoria e substituição. Questões contratuais, de reequilíbrio, já aconteceram. A retomada do fluxo também já foi superada em um contexto pós-pandemia. Portanto, apesar de novas oportunidades para o setor, não há catalisadores tão relevantes”, explica.

Tiglia também não observa a possibilidade da distribuição de dividendos ser impulsionada.

EcoRodovias

Caminhões trafegam na Rodovia dos Imigrantes na cidade de Cubatão 08/06/2017 REUTERS/Paulo Whitaker

Em relatório, o BTG Pactual recomendou a compra das ações da EcoRodovias diante dos planos do governo de São Paulo. “Gostamos do retorno de um ativo com baixos retornos, que demonstra alocação racional de capital e pode melhorar o retorno do portfólio da Ecorodovias”, comunicam os analistas Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Marcel Zambello.

Já Heitor Martins, estrategista de investimentos na Nexgen Capital, diz: “exposição à infraestrutura no Brasil é algo positivo. Como o setor demanda muito investimento, temos a expectativa de um potencial de crescimento muito grande”.

Analistas do Safra também recomendam o investimento, porém com as ressalvas exploradas por Tiglia anteriormente. “Embora o pipeline de novos projetos seja extenso, ainda não temos visibilidade sobre suas potenciais Taxas Internas de Retorno”, escrevem em relatório.

Sabesp

Máquina da Sabesp trabalha ao lado de bombas da hidrelétrica Jaguari durante estiagem em Bragança Paulista 12/02/2015 REUTERS/Paulo Whitaker

Apesar da privatização da Sabesp estar na pauta, o governo afirmou que os estudos, a cargo da International Finance Corporation (IFC), ainda não estão prontos. 

“A partir dos estudos iniciais produzidos da Sabesp, caso o Estado avalie pelo prosseguimento da operação em decisão futura e colegiada pelo Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização – CDPED, iniciam-se as fases seguintes com duração prevista de aproximadamente 12 meses”, destacou a Sabesp.

Atualmente, a gestão estadual detém o controle da companhia, que é gerida em regime de sociedade anônima de capital aberto, e 50,3% do capital social da empresa. 

“As perspectivas são positivas quanto à probabilidade do leilão acontecer no médio prazo”, avalia Maíra Maldonado, analista de Energia e Saneamento da XP Investimentos, em relatório. “Mas uma judicialização após eventual proposta de privatização, resultado das eleições municipais em São Paulo, pode alterar o cenário”, escreve.

Para Guilherme Tiglia, da Nord Research, “o momento atual exige bastante cautela com as estatais“. 

“Não busco grande exposição nesse tipo de companhia agora, especialmente com base apenas em expectativas. Olhando para o setor de saneamento, há mudanças em jogo também, com o novo marco legal, e que podem atrapalhar todo o setor nesse momento”, diz.

Entre elas, o especialista menciona os dois decretos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que permitem que estatais ineficientes continuem operando por mais tempo – o que pode prejudicar a expansão das empresas privadas.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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