A melhora da perspectiva da nota de crédito do Brasil pela S&P, na véspera, foi vista como positiva, porém “inesperada” pelo economista e diretor de pesquisas macroeconômicas do Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório. A agência de risco elevou a perspectiva do rating soberano do país de “estável” para “positivo” pela primeira vez desde 2019, e reafirmou o rating “BB-“.
Foi a primeira melhora por uma das três principais agências globais no novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
A perspectiva positiva é uma sinalização de que a agencia pode elevar a nota de crédito do país, o que daria aos investidores uma confiança maior quanto ao risco de um calote. Hoje, a nota brasileira está em BB- na S&P, três níveis abaixo do chamado grau de investimento.
Visão do Goldman Sachs
Segundo Ramos, do Goldman Sachs, a melhora de avaliação pela S&P surpreendeu, uma vez que “o novo arcabouço fiscal ainda não foi aprovado e o conteúdo final da reforma tributária ainda é incerto”.
“Além disso, em meses recentes houve uma clara deterioração de políticas microeconômicas e do ambiente regulatório”, avaliou a equipe em relatório.
Ainda de acordo com o banco, elevar a nota do Brasil para recuperar o “grau de investimento”, conhecido como “selo de bom pagador”, exigiria reformas decisivas e políticas regulatórias dos ambientes macro e micro que dariam suporte aos investimentos e ao crescimento da produtividade, como acelerar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além de estabilizar a dinâmica da dívida pública.
“Em nossa visão, além da política monetária, o mix de políticas micro e macroeconômicas e o panorama para reformas está significativamente aquém desse padrão”, disse o banco no relatório.
Efeitos positivos para o país
O time de research da Genial Investimentos disse acreditar em um aumento no fluxo de investimentos para o Brasil após a notícia da melhora da perspectiva do rating brasileiro, somado à perspectiva da queda de juros.
Segundo levantamento da XP, das sete vezes em que a S&P colocou viés de alta para a nota do Brasil, em seis delas o rating foi elevado, com exceção de 2019.
O que diz a S&P sobre o Brasil
A agência disse, em relatório, que a mudança reflete sinais de maior certeza sobre políticas fiscal e monetária estáveis, que podem beneficiar as perspectivas de crescimento econômico do país, atualmente baixas.
Além disso, a S&P afirmou que, apesar de ainda elevados déficits fiscais, o crescimento contínuo do Produto Interno Bruto (PIB) somado ao arcabouço fiscal proposto podem resultar em um aumento menor da dívida do governo do que o inicialmente esperado. Para a agência, esse fator pode dar suporte à flexibilização monetária e sustentar a posição externa líquida.
A agência, como de costume, também citou os cenários que poderiam levar a uma elevação na nota de crédito, ou a um rebaixamento.
Do lado negativo, poderia levar a um corte na nota de crédito a inadequada estrutura de políticas econômicas ou uma implementação deficiente que resulte em crescimento econômico limitado, e, consequentemente, em uma deterioração fiscal ainda maior e endividamento acima do esperado.
Já do lado positivo, a S&P citou que uma elevação de rating pode acontecer caso as instituições governamentais sejam capazes de implementar uma política econômica pragmática que contenha as vulnerabilidades das finanças públicas e crie uma base para um maior crescimento econômico. “Essencial para isso seria a aprovação de reformas adicionais — entre elas uma reforma tributária atualmente em debate”, disse a agência.
*Com informações da Reuters
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