Com o fim do programa do governo que estimulava descontos para o chamado “carro popular”, as vendas de veículos voltaram a cair. Para especialista ouvido pelo InvestNews, o momento agora para o setor é de retorno a um “hiato” entre os preços e o poder de compra da população.
As vendas de veículos novos caíram 0,41% em agosto, na comparação com o mesmo mês de 2022, informou nesta segunda-feira (4) a Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores (Fenabrave), associação que reúne as concessionárias.
Os emplacamentos de veículos caíram 13,16% em agosto ante julho e recuaram 1,10% frente agosto de 2022, para 153,4 mil unidades, segundo relatório da entidade.
A federação relaciona a baixa ao esgotamento de recursos da Medida Provisória (MP) 1.175/1.178, que possibilitou a redução dos preços ao consumidor durante os meses de junho e julho. No relatório, o presidente da organização, Andreta Jr. afirma que a entidade avalia novos projetos que serão apresentados ao governo. “Estamos em fase de simulações e isso leva tempo”, explicou.
Ainda segundo o relatório da entidade, as vendas das demais categorias de veículos apresentaram crescimento. Ônibus e caminhões, por exemplo, ainda contam com recursos disponibilizados pela MP e tiveram crescimento de 9,57% no número de emplacamentos. Já o registro de novas motocicletas cresceu 15,98%.
Hiato de preços
Para o coordenador acadêmico para os cursos da área Automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Antônio Jorge Martins, os efeitos passageiros da MP já eram esperados pelo setor. Segundo o professor, a MP como foi apresentada já estaria focada em uma perspectiva de curto prazo, para reduzir estoques das montadoras, com impactos positivos também para o governo e para o consumidor.
“Na medida em que se reduziram os estoques, o programa foi suspenso e retornou um hiato que já existia antes do programa do governo”, afirmou Jorge Martins. O hiato citado é uma grande diferença entre os preços praticados hoje no mercado automotivo e o poder de compra da maior parte da sociedade brasileira.
Para ele, medidas que buscam impacto de médio e longo prazo precisam lidar com a questão do poder de compra da população, inclusive com capacitação da população para atuar em uma economia cada vez mais digital.
Martins esclarece que a alta nos preços praticados dos automóveis ocorreu por múltiplos fatores, como a desvalorização cambial, o aumento dos custos de frete e a alta digitalização dos novos veículos produzidos.
Locadoras também impactam
O especialista da FGV aponta ainda que os números em agosto tiveram quedas atenuadas devido ao volume de compras de veículos leves por pessoas jurídicas, como locadoras. Até o final do ano, as compras de veículos destas organizações e a demanda do final de ano irão ditar os rumos da produção, segundo Martins.
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