Mulheres perdem US$ 760 bilhões em salários não pagos no Japão

As mulheres japonesas estão perdendo cerca de 111 trilhões de ienes, ou US$ 761 bilhões, em pagamento por uma série de tarefas domésticas que realizam gratuitamente, um montante que equivale aproximadamente a um quinto da economia do país.

Embora os homens também se envolvam em trabalho não remunerado, no valor de 32 trilhões de ienes em casa, isso representa menos de um terço do que as mulheres fazem, de acordo com relatório do gabinete do governo. Em conjunto, os números refletem parte da disparidade salarial entre homens e mulheres na terceira maior economia do mundo e realçam a enorme quantidade de trabalho não remunerado que é realizado.

No relatório, o valor do trabalho não remunerado foi calculado com base no tempo gasto, multiplicado pelo salário médio de cada gênero de acordo com a idade.

Enquanto o primeiro-ministro Fumio Kishida procura distribuir rendimentos de uma forma mais equitativa como parte da sua agenda política do “novo capitalismo”, a quantidade de trabalho realizado gratuitamente destaca os rendimentos perdidos, bem como a divisão de gênero que persiste no país. Os economistas salientaram que o baixo nível de remuneração das mulheres no Japão é uma das maiores razões por trás do crescimento salarial estagnado no país nas últimas duas décadas.

Kanako Katsumata, mãe de dois filhos que mora na cidade de Fujisawa, perto de Yokohama, está entre aquelas que assumem a maior parte do trabalho doméstico e do cuidado dos filhos em casa.

“É um fato aceito que as tarefas domésticas recaem principalmente sobre as mulheres”, disse Katsumata, que está atualmente em licença maternidade do seu trabalho como professora em creche. Ela diz que o seu marido passou a ajudar mais depois do nascimento do segundo filho, mas a cultura japonesa de esperar que as tarefas domésticas sejam realizadas pela mãe continua forte, disse ela.

Trabalho não remunerado

A quantidade de tempo que o homem japonês médio gastou em trabalho não remunerado por dia foi de 41 minutos, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o mais baixo entre 30 países monitorados pelo grupo.

Esse número baixo faz com que o Japão tenha a quarta maior disparidade entre os gêneros na OCDE, com as mulheres do país trabalhando 3 horas adicionais gratuitamente. Suécia, Dinamarca e Noruega têm as diferenças mais estreitas, com a disparidade de tempo nos três países sendo inferior a uma hora.

Ainda assim, as mulheres suportam muito mais trabalho não remunerado do que os homens em todo o mundo. Nos Estados Unidos, as mulheres perdem US$ 627 bilhões por ano apenas para cuidar de crianças e outros membros da família.

Se o valor do trabalho não remunerado das mulheres fosse adicionado aos salários médios, a disparidade salarial entre os dois gêneros poderia praticamente desaparecer, de acordo com Naoko Kuga, pesquisadora sênior do NLI Research Institute. 

O número de residências com rendimento duplo no Japão aumentou ao longo dos anos para 12,6 milhões, aproximadamente o dobro do número das casas com rendimento único, nos quais os homens são geralmente os chefes de família. Mas a quantidade de horas que as mulheres dedicam ao trabalho doméstico continua a ser cerca quatro vezes superior à dos homens.