O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (27) que o processo de desinflação no Brasil está em curso, com queda dos núcleos de inflação e ancoragem das expectativas, mas ainda requer uma política monetária contracionista.
Falando em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, Campos Neto disse que a desinflação no país é “acentuada”, com os preços do setor de alimentação caindo com força e arrefecimento da energia, apesar de destacar que o reajuste recente dos custos da gasolina foi o que determinou a alta do IPCA-15 de setembro.
Campos Neto notou ainda ancoragem das expectativas de inflação do mercado, apesar de ainda não estarem no centro das metas – que são de 3,25% para 2023 e 3,0% para os três anos seguintes, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O presidente do BC avaliou que, nesse sentido, a decisão do governo de ter mantido a meta de inflação em 3% para 2026 foi acertada, e ajudou a autarquia a iniciar o processo de corte de juros.
Campos Neto disse ainda que a inflação roda em patamares mais baixos quando o Banco Central é mais independente.
Seus comentários vieram depois de o BC ter cortado a Selic duas vezes em 0,50 ponto percentual cada nos últimos meses, com sinalização de mais reduções da mesma magnitude até o final do ano. A taxa básica de juros está em 12,75% atualmente.
Risco fiscal
Campos Neto disse ainda que a tendência é que o risco fiscal no Brasil melhore à frente, ao avaliar que o governo tem endereçado esse problema e que medidas de ganho de arrecadação devem ser aprovadas pelo Congresso.
Em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Campos Neto afirmou ser importante persistir no ajuste das contas públicas, enfatizando que esse movimento é “alinhado” ao que tem afirmado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Para ele, mesmo que as metas fiscais estabelecidas no arcabouço fiscal não sejam cumpridas “exatamente”, os agentes de mercado vão observar o esforço feito nesse sentido.
Fundos exclusivos
Campos Neto disse ser favorável à taxação de fundos exclusivos e de investimentos no exterior, e defendeu uma alíquota de 10% para os investimentos offshore.
“Sobre a arrecadação de super ricos, sou a favor. Sou a favor de arrecadação com fundos exclusivos, sou a favor da arrecadação com offshore”, disse na audiência.
Segundo ele, o governo anterior chegou a discutir um projeto sobre taxação de fundos offshore e que ele, pessoalmente, achava que a alíquota tinha que ser mais alta.
“Eu pedi que fosse 10%, achei que era razoável, voltou com 6%, eu acho baixo, acho que tem que taxar mais”, afirmou, ponderando que o tema envolve preocupação com uma possível erosão de base arrecadatória.
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