Fim de ano é sempre considerado uma boa época para repensar a relação com o dinheiro. E o momento atual pode ser decisivo, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews. Pesquisas recentes mostram que os brasileiros vivem uma situação financeira complicada, com mais de 70 milhões de consumidores inadimplentes e quase a metade da população apenas “se virando” para pagar as contas.
É o que mostram levantamentos distintos, feitos pela Serasa Experian e pelo Banco Central. Segundo o mapa mensal da inadimplência da consultoria, 71,95 milhões de brasileiros estavam endividados em outubro deste ano, com o valor total das dívidas somando R$ 376,8 bilhões, ou R$ 5.237,76, em média, por pessoa.
Já o BC apontou, em estudo realizado em parceria com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que 48,6% dos brasileiros estão apenas “se virando” financeiramente e que 44,8% nunca ou quase nunca conseguem chegar ao fim do mês com sobra de dinheiro. Outros 36% estão preocupados que o dinheiro não vai durar.
Emprego e renda
Para a planejadora financeira da SuperRico, Clay Gonçalves, esses números revelam o cenário de desemprego no Brasil. Isso porque as pessoas que têm maior dificuldade são as que possuem renda baixa e poucas oportunidades de trabalho, já que a expectativa de ascensão profissional e, consequentemente de aumento do salário, é muito pequena.
“Como a renda deixa de entrar, mas as contas não param de chegar, as pessoas se veem impotentes e precisam ‘dar um jeito’. Algumas se esforçam para ter dinheiro extra, outras deixam para pensar depois como vão pagar”.
Clay Gonçalves, planejadora financeira da SuperRico.
Segundo o IBGE, a taxa de desocupação da população brasileira caiu a 7,6% ao final de outubro, no menor nível desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015. A população desocupada chegou a 8,3 milhões de pessoas, enquanto a ocupada atingiu o maior contingente desde o início da série da Pnad Contínua, totalizando 100 milhões.
Além disso, o rendimento médio real foi estimado em R$ 2.999. Segundo Clay, esse valor não acompanha o custo de vida básico em muitas capitais brasileiras. Por isso, “as pessoas começam a escolher as contas básicas que serão priorizadas com o pouco dinheiro que sobra”. Em geral, alimentação e contas de consumo são as prioridades.
Porém, o economista André Perfeito observa que a conjunção de desemprego em queda e rendimento em alta reforça a perspectiva de que o aumento da massa salarial está sendo usado para duas coisas. “De um lado, parte desses recursos vai para o consumo; de outro, deve ir para a desalavancagem das famílias que se endividaram na pandemia”, avalia.
Segundo ele, seja qual for o uso final dos recursos, ambos apontam para um crescimento econômico, com “mais dinheiro na mesa”.
Resoluções de fim de ano
Por isso, seja pela chegada do Natal ou pela passagem para o ano-novo, as resoluções de fim de ano podem trazer uma “segunda chance” para quase a metade da população brasileira que deseja iniciar 2024 de forma mais leve financeiramente. O mais importante é a reconciliação com o orçamento doméstico.
Aliás, o estudo do BC, feito com cerca de 2 mil brasileiros em diversas regiões do país, mostra que 65% não possuem resiliência financeira. Ou seja, se precisassem pagar por uma grande despesa inesperada, no mesmo valor da renda mensal, só 35% dos brasileiros conseguiriam arcar sem fazer um empréstimo ou pedir ajuda à família ou a amigos.
No entanto, com planejamento é possível reverter esta situação e conseguir que o dinheiro seja destinado a cumprir com as necessidades básicas, lidar com imprevistos e até realizar sonhos. Para a planejadora financeira da SuperRico, o fundamental é identificar se o seu problema é falta de dinheiro ou falta de saber o que fazer com o dinheiro.
“Para aquelas pessoas que gastam mais do que ganham, mas que ainda tem renda suficiente para readequar o orçamento, o plano é entender o que se busca, adequar o uso do crédito e compreender a necessidade de gastar menos do que se ganha, sem comprometer o longo prazo”, explica.
CLAY GONÇALVES, PLANEJADORA FINANCEIRA DA SUPERRICO.
Já para aquelas que estão com a renda menor do que o custo básico, é importante pensar em qualificação profissional para aumentar a renda, afirma Clay. “Só a educação e a qualificação abrem portas”, completa, acrescentando que se trata de encontrar a melhor solução dentro das poucas oportunidades e conhecimento que detêm.
Afinal, as pessoas precisam se alimentar, se vestir, pagar aluguel e contas de consumo e, claro, também se divertir e ter uma vida social. “A vida é uma só, não existe vida pessoal, profissional, financeira, amorosa. Tudo precisa estar em equilíbrio. Não é fácil, mas é assim que o dinheiro será destinado para aquilo que traga bem-estar”, conclui a especialista.
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