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Finanças

Por mais paradoxal que pareça, setor financeiro pode se dar bem com Selic a 9%

Selic de um dígito traz nova realidade para bancos em 2024, dizem especialistas.

A maior novidade na reta final de 2023 ficou com a queda na estimativa do mercado financeiro para a taxa Selic ao final de 2024, de 9,25% para 9%, depois de ficar engessada no Boletim Focus por sete semanas. Atentos a isso, os investidores estão de olho nas ações que podem se beneficiar do juro terminal de apenas um dígito

Por mais paradoxal que pareça, um dos setores que pode se dar bem com a redução da taxa básica é o financeiro, em especial, o bancário. Depois de passarem um bom tempo em um ambiente de juros básicos elevados, os bancos vão enfrentar um cenário oposto nos próximos meses. Mas as perspectivas são favoráveis, na visão de especialistas.

“Durante o ano, as ações do setor financeiro em geral e do bancário em particular tiveram bom desempenho, beneficiadas pelo cenário de alta de juros”, diz Jaqueline Kist, sócia da Matriz Capital.

Agora, com a Selic mais baixa, os bancos têm maior possibilidade de aumento nas ofertas de financiamentos, que se tornam mais atrativas para a população à medida que os juros diminuem gradativamente. Ao mesmo tempo, a melhora gradual na inadimplência dos consumidores e das empresas favorece a retomada na concessão de crédito.

“Trata-se de um setor que possui uma relação muito próxima com o cenário de renda no país e que deve acompanhar as alterações no cenário macroeconômico ao longo do próximo ano”, emenda a especialista em mercado de capitais. Por isso, para ela, pode ser interessante posicionar-se nas ações de empresas ligadas à expansão do crédito.

Cenário melhor

Dados do Banco Central mostram que a taxa média de inadimplência registrada pelos bancos caiu em setembro ao menor patamar desde abril deste ano. Enquanto isso, nas operações com as pessoas físicas, a inadimplência é a menor desde dezembro do ano passado. Entre as empresas, está no mesmo patamar de maio de 2018. 

Já o endividamento das famílias vem se afastando do nível recorde registrado em julho de 2022, em meio ao programa do governo federal de renegociação de dívidas Desenrola. Além disso, o mercado está confiante na recuperação do mercado de crédito privado em 2024, passado o susto com o caso Americanas (AMER3).

“A queda na Selic deve direcionar algum apetite por ações dos bancos, enquanto a inadimplência tende a arrefecer e o mercado de capitais pode se beneficiar da retomada de fluxo dos estrangeiros para o Brasil”

Rafael Reis e Luan Calimério, analistas do BB Investimentos, em relatório

Isso porque, com as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro e de março já contratadas, com cortes de meio ponto percentual (pp) cada, os investidores esperam uma aceleração do ritmo de queda da Selic a partir do segundo trimestre de 2024 – período que coincidirá com o processo de redução dos juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve.

“Portanto, 2024 promete ser um ano muito interessante para os ativos de risco, à medida que os bancos centrais no Brasil e no exterior diminuírem suas taxas de juros e os investidores passarem a buscar maiores rentabilidades na bolsa”, prevê Jaqueline Kist, da Matriz Capital.

Os preferidos

Assim, o BB Investimentos avalia que os bancos que têm forte atuação no mercado de capitais, como o BTG Pactual (BPAC11), podem ganhar mais escala com os produtos que oferecem. Isso porque a captação via operações de Tesouraria pelos bancos de investimentos tende a aumentar.

Prédio onde funciona o BTG, na avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Victor Dragonetti Tavares/InvestNews)
Prédio onde funciona o BTG, na avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Victor Dragonetti Tavares/InvestNews)

“Tesouraria é uma importante fonte de receita e é parte relevante das operações de mercado, como derivativos e hedge (proteção). Outra parte e que também deve crescer está mais ligada a fusões e aquisições (M&As)”, afirma o diretor-gerente da mesa de operações de um banco estrangeiro, que falou sob a condição de não ser identificado.

Já entre os chamados “bancões”, o Itaú (ITUB4) parece ser o mais bem posicionado – e resiliente – para capturar o quadro de melhora no Brasil, com retomada econômica e queda dos juros, segundo especialistas. O maior banco privado da América Latina é o preferido da XP Investimentos, levando-se em conta a gestão dos canais de distribuição com menor custo.

Agência do Itaú na avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Victor Dragonetti Tavares/InvestNews)
Agência do Itaú na avenida Faria Lima, em São Paulo (Foto: Victor Dragonetti Tavares/InvestNews)

 “O Itaú teve grande evolução operacional, refletindo a combinação de transformação digital e cultura interna, além de gestão de risco diferenciada, oferecendo a melhor oferta aos clientes, independentemente do meio (físico ou digital)”, afirmam os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, em relatório.

Aliás, o Itaú já havia despontado entre os rivais Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) após a temporada de balanços. A expectativa é de que ambos continuem enfrentando dificuldades em 2024, apesar de fazerem a lição de casa para voltar a entregar boa rentabilidade e manter os resultados dos bancos em destaque. 

“Existe a percepção de que o retorno à lucratividade tanto para Bradesco quanto para Santander não voltará tão cedo”

Philip Soares, chefe de análise de ações da Órama Investimentos, em comentário

Da mesma forma, outras instituições financeiras, voltadas aos segmentos de seguros, bolsas de valores e meios de pagamentos, bem como as fintechs, tendem a continuar passando por um “momento desfavorável”, na visão dos especialistas, enfrentando dificuldades para gerar lucro, apesar da perspectiva de um 2024 positivo para os bancos. 

Segundo os analistas do BB Investimentos, enquanto o segmento de seguros deve apresentar um equilíbrio entre risco e retorno, com menor potencial de resultado financeiro; a B3 (B3SA3) pode se beneficiar da retomada de fluxo externo para o Brasil, ao passo que a ameaça de disrupção pode ofuscar iniciativas estratégicas das empresas de adquirência.

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